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Mesmo que já houvesse saudado um monstro como o Brilhante Ustra, a homenagem do presidente do Brasil Jair Bolsonaro ao ditador paraguaio Alfredo Strossner não pode ser naturalizada.

A história precisa registrar que a maior parte do povo brasileiro – mesmo que uma parcela tenha, ocasionalmente, eleito um fascista – repudia criaturas como Ustra e Strossner.

Parte daí a análise dos dois primeiros meses do governo Bolsonaro. E, em contraponto oportuno, faça-se desde logo a homenagem devida: Viva Sérgio Porto!

O escritor, radialista, teatrólogo e humorista de pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta que, em 1966, criou a expressão que hoje resume o governo Bolsonaro: “Febeapá” (Festival de Besteira que Assola o País).

Sim, o atual governo do Brasil é uma fonte incessante de asneiras.

Seria apenas risível se pudéssemos reduzir tudo ao “menino veste azul, menina veste rosa” de Damares Alves, a ministra da Mulher.

Mas não. À fartura de discursos ridículos – de Damares, do ministro da Educação Véllez Rodríguez, do chanceler Ernesto Araújo e do próprio presidente – deve-se acrescentar a ameaça permanente aos direitos do povo, a desqualificação generalizada do primeiro escalão da República e, ainda, o show de horrores, autoritário, cínico e corrupto, que faz dos filhos do presidente protagonistas lamentáveis desses primeiros dias de governo.

Disso tudo se conclui que a avaliação só pode ser péssima. E como que a coroar este espetáculo deprimente, tem-se como ponto principal desse primeiro momento uma reforma da Previdência que, se aprovada como está, vai transformar nossos idosos em miseráveis.

Restaria esperar de Sérgio Moro, outrora protagonista, uma performance que emprestasse seriedade a esse enredo. Que nada!

Nomeado para ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro adaptou-se rápida e confortavelmente ao papel de coadjuvante, contribuindo, inclusive, com o vasto repertório de incoerências e contradições do governo que integra.

Trocou, convenientemente, a toga pela fatiota política e saiu perdoando o que antes considerava imperdoável, inclusive os assassinatos cometidos por policiais. Se fosse uma fábula, ver-se-ia que o “príncipe” virou sapo.

Há dois outros em cena: o contador de dinheiro Paulo Guedes e o representante do passado, o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão.

O primeiro é o vilão que sobe ao palco para tramar pelos próprios interesses de banqueiros. A proposta de capitalizar a Previdência o revela por inteiro.

Quanto ao segundo, reconheça-se o esforço em não parecer mais um personagem dessa tragicomédia. Mas o figurino dessa sua sensatez tardia é o pijama.

Em tempo: esse artigo havia sido concluído antes do post inacreditável de Bolsonaro no Carnaval.

O que dizer daquilo??? Que é escatológico! Tanto no sentido de “gosto por fezes” (do grego skátos = excremento), quanto no sentido menos conhecido de “teoria acerca do fim do mundo” (do grego “éskhatos” = extremo).

A língua portuguesa admite esses dois sentidos para o adjetivo “escatológico”. Pois não é que a postagem de Bolsonaro conseguiu ser, ao mesmo tempo, nojenta e premonitória? Sim, de tão abjeta, sua tuitada já está sendo considerada, até o começo do fim do seu governo.

* Bohn Gass é deputado Federal (PT/RS)

O governo escatológico de Bolsonaro

por Bohn Gass*, exclusivo para o Viomundo

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