Vacina ainda não foi testada em maiores de 60. Pessoas acima dessa idade estão impedidas de tomar o imunizante
Mais propensos a ter doenças crônicas associadas à idade, além de sistemas imunológicos menos resistentes do que tinham na juventude, os idosos são mais vulneráveis e têm mais chance de ser hospitalizados quando infectados com dengue, como apontam especialistas em saúde. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde (SES), dos 11 óbitos confirmados por dengue até o momento, seis foram de pessoas acima de 60 anos. Do início do ano até 3 de fevereiro de 2024, o DF registrou 46.298 casos prováveis da enfermidade, um número 1.120,6% maior em comparação ao mesmo período do ano passado. Pacientes que buscam unidades públicas que cuidam, na capital federal, de quem apresenta sintomas de contaminação pelo mosquito Aedes aegypti ainda enfrentam o drama de esperar horas para ser atendidos.
O Correio visitou, nesta terça-feira (6/2), o Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira (FAB), em Ceilândia, as tendas do Sol Nascente e de Samambaia e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) nesta região administrativa. Muitas pessoas, inclusive as do grupo da terceira idade, chegaram a aguardar mais de sete horas por atendimento. É o caso do aposentado José Ursino, 62 anos, que chegou à UPA de Samambaia às 6h e só teve atenção médica às 14h30. “Recebi a pulseira amarela na triagem. O problema é que são só dois médicos aqui e a demanda é muito grande. Esperei três horas pelo resultado do exame de sangue e deu positivo para dengue”, disse. “Senti muita dor no corpo e nas articulações. Estou com os sintomas há seis dias. Cheguei a ir ao posto de saúde, mas disseram que era uma virose. Tomei remédio, mas passaram quatro dias e eu não melhorei, por isso vim aqui. Me deram medicamento na veia aqui e orientaram a me hidratar e repousar”, detalhou.
Segundo Rafael Canineu, geriatra e diretor do grupo Alliança Saúde, os idosos são mais suscetíveis à dengue por terem mais possibilidade de adquirir doenças crônicas associadas à idade, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. “Idosos que contraem dengue ficam fracos, (por isso) têm mais propensão a serem hospitalizados, onde há chances de adquirem outras enfermidades, como pneumonia e infecção de urina, o que pode comprometer ainda mais a saúde deles”, explicou.
O especialista — que em sua empresa é responsável pela área de Health Analytics, setor que avalia dados coletados em hospitais públicos e privados — orientou ainda que, ao apresentar sintomas de dengue, os idosos devem buscar um médico imediatamente. “É primordial que o diagnóstico seja confirmado por exames laboratoriais de sorologia, moleculares ou testes rápidos. A doença pode evoluir rapidamente e levar a complicações graves. Tampouco pode-se deixar de se hidratar e devem ser consumidos alimentos leves”, ressaltou Canineu.
O geriatra aconselhou a se redobrar a atenção. “Além de seguir as recomendações referentes à eliminação de focos de água parada, é preciso usar repelente, calça e blusa de manga comprida cobrindo a maior parte do corpo. O Aedes aegypti é atraído pelas substâncias que o corpo humano elimina pelo suor e pela respiração. É importante manter a saúde em bom estado, se alimentando bem, com taxas em dia e doenças controladas para que, caso a pessoa contraia dengue, não fique ainda mais debilitada”, indicou.
Longa espera
Terezinha Baessa, 61 anos, estava com sintomas de dengue e buscou a tenda de Samambaia por volta das 14h. Acompanhada dos filhos, chegou debilitada e foi colocada em uma maca por não conseguir ficar sentada. Após 40 minutos, foi informada de que não havia testes de dengue disponíveis e que ela precisaria ir à UPA de Samambaia. A reportagem do Correio acompanhou sua peregrinação. “Precisamos fazer a triagem novamente aqui na UPA. Deram a pulseira amarela para minha mãe. Na tenda, pelo menos tinha onde ela se deitar adequadamente. Aqui na UPA, ela precisa ficar deitada em um banco de espera”, disse a filha dela, Aline Baessa. Terezinha saiu da UPA somente às 18h30, com resultado positivo para dengue. Antes de ser liberada, tomou dipirona, vitamina B12 e soro intravenoso.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), responsável pela gestão da UPA de Samambaia, informou que a epidemia tem acarretado um aumento expressivo da demanda nas unidades de pronto atendimento. “Dessa forma, a espera em nossas unidades foi diretamente afetada. Apesar da superlotação, a equipe médica da UPA atendeu a todos que procuraram por assistência”, informou uma nota divulgada pelo instituto. O Iges acrescentou que uma sala de hidratação extra foi aberta na UPA de Samambaia, com 10 lugares, para agilizar o serviço.
Lizete Viana de Freitas, 70, buscou a tenda do Sol Nascente, após cinco dias sentindo os sintomas de dengue. Contou que, uma hora depois de haver chegado ao local, conseguiu atenção. “A orientação que recebemos, antes de vir, foi que deveríamos esperar os cinco dias. Sinto muita dor no corpo e nas articulações. Estava tomando paracetamol e agora passaram soro, também. Apesar da demora, o atendimento foi bom”, contou.
Cuidados
Estudos para o uso da vacina contra dengue foram feitos em pessoas de 4 a 60 anos. De acordo com o laboratório do imunizante, quem estiver acima dessa faixa etária não poderá recebê-la. O Distrito Federal está entre as unidades da Federação que serão contempladas com a primeira remessa. A prioridade foi determinada pelo Ministério da Saúde, que atendeu a um pedido do GDF apontando a situação emergencial resultante do grande número de casos da doença.
O Hospital de Campanha (HCamp) da FAB no Distrito Federal entrou em operação na última segunda-feira (5/2) e funciona 24 horas por dia. Para adiantar o início dos atendimentos, a unidade exigiu o fornecimento de energia por gerador. Na madrugada de terça-feira (6/2), com o movimento reduzido, houve a troca do fornecimento elétrico para conexão à rede elétrica. Isso fez com que os atendimentos a novos pacientes, que chegaram durante a mudança, fossem suspensos por algumas horas sem que isso comprometesse o funcionamento ininterrupto enquanto a unidade for necessária
No primeiro dia de funcionamento, o HCamp — que conta com 60 leitos — realizou um total de 753 procedimentos. O volume é maior do que o dimensionado pela equipe, que esperava prestar cerca de 600, no primeiro dia. Até então a Aeronáutica ainda não havia atuado com uma estrutura de Hcamp no combate à dengue. Ao todo, 29 militares da área de saúde, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e de laboratório, estão na unidade.
Com informações do Correio Braziliense
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