Satisfeito com o desmonte do estado brasileiro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz, em seu artigo mensal que “do poder ninguém escapa, seja exercendo-o, seja sofrendo-o”
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tramou o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e a prisão política do ex-presidente Lula, e que atua como mensageiro das elites em seu artigo mensal, diz, em seu texto de fevereiro, que os brasileiros devem se contentar em sofrer com o degradante Bolsonaro. No artigo, ele não menciona a palavra impeachment, sinalizando que está satisfeito com o desmonte do estado brasileiro. Confira abaixo:
As difíceis escolhas
Além da pandemia, temos de vivenciar o jogo degradante de sempre de quem manda
Fernando Henrique Cardoso – Dias difíceis estes pelos quais passamos. Além da pandemia, o jogo do poder. Eu não me posso queixar: fique em casa, dizem os que mais sabem sobre os contágios. Isso é possível… para quem tem casa, como eu. E os que não a têm, ou a têm precária, e são muitos, na casa dos milhões? E os que estão no poder e, diferentemente de minha situação atual, precisam meter-se no dia a dia da política?
O bichinho persistente, o novo coronavírus, mata indiscriminadamente, é verdade, jovens ou velhos, ricos e poderosos tanto quanto pobres e sem alavancas de poder nas mãos. Mesmo assim, na minha faixa de idade, quando os 90 anos se aproximam celeremente, é triste viver dentro de casa, por mais confortável que seja, e ver a cidade murchando. E é tristeza para todos.
Mas não desanimemos. Se algo o tempo ensina, é como diz o velho ditado: não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.
Às vezes, raramente, sinto certo desânimo. Olho em volta e vejo: meu Deus, outra vez! É o Congresso em seu ritmo habitual: dá cá, toma lá. Certa vez perguntei a Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos: mas é sempre assim? Tratava-se da prática de pegar no telefone e falar com cada um dos deputados que o apoiavam, para pedir: é preciso votar a favor, ou contra, tal ou qual projeto.
Era o habitual. Mas vale a pena. Sem democracia é pior: a barganha, quando existe, não é vista nem comentada. Mas existe. Melhor que se a faça às claras.
Digo isso não para referendar o que está acontecendo (nem sei de fato), e sim para dizer que é melhor suportar tanto horror perante os céus do que amargar a falta de liberdade. Mas é preciso lutar. Por mais que se “entenda o jogo”, é necessário repudiá-lo do fundo da alma. Se for indispensável jogar, que se limite a barganha ao máximo. Fácil dizer, difícil fazer.
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