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É inacreditável, mas Bolsonaro informou que Ernesto Araújo está de férias, e que só quando ele voltar irão conversar sobre a cobrança de explicações do Irã, depois de o Brasil ter sido cobrado pelo país por seu respaldo eloquente ao ataque de Trump, informa a jornalista Tereza Cruvinel

O chanceler Ernesto Araújo fez como o menino que atira uma pedra na vidraça da vizinha, e no meio do estrondo sai correndo e se esconde. É inacreditável que ele esteja de férias no exterior numa hora destas. Mas Bolsonaro informou que está, e que só quando ele voltar (onde estará descansando off-line neste mundo conectado?) irão conversar sobre a cobrança de explicações do Irã, após o Brasil ter oferecido respaldo eloquente ao ataque de Trump que matou o general iraniano Soleimani. Os últimos sinais são de que Bolsonaro, na ausência do chanceler olavista, agora está confuso, sofrendo pressões internas para que o governo fique “pianinho”, conforme o colunista Lauro Jardim, de O Globo, disse ter ouvido de ministro palaciano.

Apesar do endosso formal do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, à postura adotada, sabe-se que ela enfrenta oposição de amplos setores das Forças Armadas, preocupados com a transformação do Brasil em alvo, ao entrar numa guerra que não lhe diz respeito, imiscuindo-se num conflito do qual sempre se manteve equidistante.  A repulsa brasileira tem sido ampla e foi externada por todos os veículos de comunicação, a exemplo do editorial de hoje do jornal O Globo. É sabido também que os barões do agronegócio, que só falam “pianinho” com o governo que ajudaram a eleger, também fizeram chegar ao Planalto a contrariedade com uma postura que pode lhes trazer enormes prejuízos, pois têm no Irã um grande comprador de milho e soja, principalmente. Daí Bolsonaro ter saído hoje com declaração de que “o comércio com o Irã vai continuar”. Mas quem determina isso não é o Brasil, é o Irã comprador.

Os brasileiros têm o direito de saber o que disseram as autoridades iranianas à encarregada de negócios em Teerã, Maria Cristina Lopes, que atendeu à convocação no lugar do embaixador que está de férias no Brasil. Trata-se de assunto de interesse público, nacional. Mas Bolsonaro também disse hoje que “como estadista”, não iria fazer revelações. Alguém precisa ensinar a ele que não basta ser chefe de governo para virar estadista, coisa que ele está longe de ser. Mas é óbvio que o Irã não vai deixar por isso mesmo, não vai se contentar com meras explicações de uma interina. Alguma resposta haverá ao Brasil.

A nota em que o Itamaraty externou apoio a Trump, segundo analistas, foi muito mais afirmativa e atrevida que a manifestação de outros aliados históricos dos EUA, como a Inglaterra.  Nela o governo brasileiro justifica o ataque terrorista da maior potência como combate ao terrorismo. Logo, chama o general morto de terrorista. Chegou a afirmar, sem provas, como sempre, que Soleimani esteve envolvido no ataque terrorista à sociedade judaica AMIA, em Buenos Aires, em 1994,  no qual morreram 84 pessoas. O regime de Teerã anotou tudo isso, é claro.

Assim, os sinais do governo brasileiro agora são contraditórios. Enquanto algumas autoridades  dizem que o Brasil deve ficar “pianinho”, e pedem que ninguém se manifeste sobre o assunto, mesmo de longe Araújo continua pilhando o Itamaraty. Os diplomatas locais e os embaixadores em outros países foram orientados a não assinar livros de condolescências por Soleimani e a não comparecer a eventos solidários ao Irã. Bolsonaro difama o general morto mas diz que o comércio com o Irã vai continuar, e hesita em ir ao encontro de Davos,  onde certamente seria uma figura deslocada entre governantes que adotaram posições mais cautelosas no conflito.

Alguns analistas dizem que Trump pode ter cometido um erro, dado um tiro no pé com o ataque. Terá que retirar suas tropas do Iraque, colheu repulsa interna e pode até ter alimentado o movimento por seu impeachment, sem falar no revide iraniano, que deixa o mundo apreensivo.  Mas Bolsonaro e Araújo vão ganhar o quê com a postura subserviente a Trump, que segundo o editorial do jornal o Globo, deixou de levar em conta os interesses naciois? Araújo saiu de férias e Bolsonaro dá sinais de que perdeu o rumo. Mas o estrago já está feito.  

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