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“As Forças Armadas não aceitaram se prestar ao papel de cabo eleitoral de Bolsonaro”, escreve a colunista Denise Assis

“Em todos os lugares onde isto foi implantado, enquanto durou, gerou miséria, estagnação, morte e escravidão e perdurou até que a ameaça do caos ou o próprio caos se instalasse de forma irremediável”.

Enganou-se quem pensou que o general da reserva, Paulo Chagas, estava definindo o governo Bolsonaro ao emitir tal opinião.

Esse foi um pronunciamento publicado em 30/08/2014, no “blog do Kaveski”, um portal de militares e militantes da ultradireita. A postagem, feita às 9h5 daquela manhã, exibia um general fechado com o propósito de “virar o jogo”. Posicionava-se, claro, contra o “comunismo”, ideia fixa entre pessoas desse grupo, contra o governo constituído e, obviamente, trabalhava para levar à presidência o seu ex-colega de farda, o “capitão”.

Oito anos depois, sem abandonar as suas convicções quanto ao “Fórum de São Paulo” – outro ponto a que se aferram os ultradireitistas de plantão -, o general anda enfezado. Cheio de insatisfação, distribui pela mídia críticas ao Bolsonaro que ajudou a eleger.

Naquela época, a que aplaudia a candidatura surgida na AMAN, numa cerimônia de entrega de espadins, em 2014, quando o comando permitiu que Jair não só entrasse no quartel (ele era proibido de frequentar unidades militares desde o episódio de sua expulsão), como também fizesse discurso já com performance de candidato, Paulo Chagas aderiu.

O general, que durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, era contratado para TTC e prestava serviço no Departamento Geral de Pessoal, após carta pública ao Ministro da Defesa Jaques Wagner e informação de que estava processando a Comissão da Verdade, foi comunicado pelo general Enzo Martins Peri, o comandante do Exército, de então, que estava dispensado. Na reserva, ligou a metralhadora giratória e distribuía críticas constantes ao PT e seu governo, até ver Bolsonaro no cargo.  

Agora, oito anos depois, ele é mais um dos que romperam com o capitão e vem dando declarações contra a inusitada – para não dizer escalafobética – ordem de Jair, para que o desfile de Sete de Setembro, tradicionalmente feito na Av. Presidente Vargas, no Centro do Rio, acontecesse em Copacabana, à beira mar.

O general chegou mesmo a dizer que os militares deveriam se rebelar contra a ordem absurda. Segundo ele, “ordem errada não se cumpre”. Pelo “manual”, Bolsonaro pode determinar que o exotismo seja executado, mas sem dúvida que do ponto de vista técnico a iniciativa foi rechaçada pelo prefeito Eduardo Paes, responsável por arrumar a casa para receber os convidados. Só que, nesse caso, os convidados seriam de Jair, e são do tipo pouco “amigáveis”.  

Dado o nível de desespero de Bolsonaro, aferido em declarações recentes, quando disse que se fosse buscado em casa preso poderia “atirar para matar”, mas não se entregaria, conclui-se que alguma ele pretendia aprontar com a transferência do tradicional desfile. Não se acredita mais, por todo um contexto desfavorável já avaliado – a começar pelo desestímulo da Casa Branca -, que ele consiga dar um golpe. Ainda que integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tenham feito chegar à mídia informes sobre a possibilidade de atentados ao estilo dos cometidos pela direita nos idos de 1981.  

Acontece que a mistura dos fanáticos de blusa amarela, com moradores de classe média do alto dos prédios e a circulação de banhistas que irão à praia aproveitar o feriado, transformariam o aglomerado da Atlântica numa mistura pra lá de explosiva. Bastaria que de uma das janelas alguém atirasse algo sobre os componentes do desfile, ou soltasse um rojão fora de hora, alarmando a plateia, para que um tumulto de consequências imprevisíveis se formasse entre os presentes. A esta altura, seria impossível conter o estouro, a correria e, quem sabe, tiros, disparados contra a multidão, por militares assustados.  

Por tudo isto, a decisão, de extrema irresponsabilidade, não foi acatada nem pelo prefeito, Eduardo Paes, tampouco pelo comando, que já havia solicitado licença para a realização do desfile no local de sempre, a Avenida Presidente Vargas.  

Impossível não pensar em Dallas. Para quem usou uma facada, em 2018, um tiro disparado de um dos edifícios, que arrancasse a pontinha da orelha do candidato – é nessa condição que ele estaria indo à Copacabana – seria suficiente para que todo o cenário eleitoral se transformasse. Resultando, inclusive, na suspeição do pleito. As Forças Armadas não aceitaram se prestar ao papel de cabo eleitoral de Bolsonaro. Prevaleceu o princípio de que servem à sociedade e à defesa do Estado, e não para fazer figuração para Bolsonaro. No final da tarde o prefeito Eduardo Paes confirmou, por um tuíte, que o desfile de Sete de Setembro será no cenário de sempre.  

Por Denise Assis

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