Solução criativa para enfrentar a violência institucional da direita
O acordo também garantiu palanque para Lula (ele próprio ou quem ele indicar) em mais de dez Estados, e impediu que o tempo de TV do PSB fosse para algum adversário — neste momento, pela decisão de Ciro Gomes de marchar sozinho, o PDT se tornou adversário, não como as candidaturas da direita, como Alckmin e Bolsonaro, mas adversário, na medida em que o alvo é o mesmo, a eleição presidencial.
Claro que Ciro e o PT buscarão aliança mais à frente, pelas inegáveis afinidades de propostas, mas hoje são adversários — não inimigos.
Por isso, não faria sentido nenhum abrir mão de um acordo com o PSB para deixá-lo somar forças com Ciro Gomes. Seria suicídio político ou, por outras palavras, representaria abrir mão do esforço para voltar a governar o Brasil, retomando o lugar de que Dilma foi tirada pela força da violência institucional, com aparência de legalidade.
No artigo, escrevi que a vaga de vice estava reservada a Manuela D’Ávila, do PCdoB, e os leitores mais apressados podem dizer que o lugar foi preenchido por Fernando Haddad — portanto, errei.
Calma, Haddad só está esquentando o lugar, que é de Manuela. Então, por que não colocar Manuela agora? Pela simples razão de que, como vice provisório, falando em nome de Lula, Haddad pleiteará participar de todas as atividades públicas de campanha, inclusive sabatinas pelos órgãos de imprensa e debates.
Mas isso Manuela não poderia fazer? É a pergunta pertinente. Sim, poderia.
Mas Manuela é do PCdoB, e, por isso, mais apropriado, é que alguém do PT fale em nome da chapa, e Haddad preenche como ninguém este requisito — além de petista, foi ministro de Lula, coordenou o programa de governo.
A voz de Haddad será a a voz de Lula. Com esse propósito, é ele quem será registrado como vice. A pergunta óbvia é: então, Haddad é o candidato a presidente? Por enquanto, não.
O candidato a presidente é Lula e a aliança levará até a último momento a campanha para que Lula tenha o direito de disputar a eleição.
Com isso, serão duas as campanhas: Lula Livre e Lula presidente — no fundo, significam a mesma coisa. Ao defender Lula Livre, a aliança denuncia o processo violento com que se tirou o PT do Planalto e, em seguida, em uma ação que teve tramitação com rapidez anormal e com uma ação judicial sem provas e demonstração de culpa, se prendeu Lula.
As duas coisas — o impeachment de Dilma e a prisão de Lula — representam a fotografia do golpe, e é preciso mostrá-la ao eleitor, o que significa radicalizar a democracia: demonstrar a torpeza em todos os seus detalhes e dar ao eleitor a oportunidade de entender que, por conta disso, o alvo não é apenas Dilma, Lula ou o PT. O alvo é a soberania da nação — afastá-los abriu caminho para o saque. Não é à toa que o litro da gasolina custava R$ 2,90 e hoje está em R$ 5,00.
Lula está tendo seus direitos políticos roubados, num processo viciado, mas o roubo maior ocorre no bolso da maioria dos brasileiros.
Se Lula, por conta desse processo, não puder ser candidato, Haddad será, com Manuela vice. Se Lula puder ser candidato, Haddad cede o lugar de vice para Manuela. Dois nomes serão registrados na justiça eleitoral neste momento — Lula e Haddad —, mas são três os nomes que, informalmente, estão na chapa — além dos dois, Manuela. É uma chapa com três nomes.
Nunca aconteceu isso antes no Brasil, mas também não é sempre que o Brasil sofre um golpe.
Para combater a violência institucional, há momentos em que o povo pega em armas. Na escola do PT, isso está descartado. O que o partido aprendeu a fazer é disputar eleição.
Mostrou que, derrotado nas urnas, sabe perder. Mas não abre mão do direito de tentar ganhar. E, ao ganhar, usar o governo como meio de transformar efetivamente o país. No governo já errou, e muito, mas a costura política concluída neste fim de semana mostra que o PT e seus aliados mais próximos, como o PCdoB, não desistiram de tentar.
Joaquim de Carvalho