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Todos os esforços para desqualificar essas revelações foram por água abaixo na sexta-feira quando a Veja, revista conservadora de maior influência no país, publicou uma matéria de primeira página destacando novas e devastadoras revelações sobre o ministro mais famoso de Bolsonaro, aponta a reportagem

Por Tom Phillips correspondente para a América Latina do Guardian, com tradução de Ricardo Silveira – Sérgio Moro, Ministro da Justiça do Brasil, se encontra novamente sob pressão para renunciar depois que a principal revista conservadora do país deu andamento a um escândalo bombástico sobre o papel por ele desempenhado numa imensa investigação contra a corrupção que ajudou a redesenhar a cena política da América do Sul.

O presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, e seus aliados tentaram apresentar a virada de revelações sobre a conduta de Moro na Operação Lava Jato como um ataque esquerdista liderado pelo site investigativo The Intercepte seu co-fundador Glenn Greenwald.

No início de junho, o The Intercept começou a fazer várias revelações sobre o vazamento que chamou de “um grande tesouro” em mensagens trocadas por agentes da lei no Brasil.

Entretanto, todos os esforços para desqualificar essas revelações foram por água abaixo na sexta-feira quando a Veja, revista conservadora de maior influência no país, publicou uma matéria de primeira página destacando novas e devastadoras revelações sobre o ministro mais famoso de Bolsonaro.

A Veja – que era a maior torcedora da cruzada de Moro contra a corrupção – disse que seus jornalistas passaram toda uma quinzena debruçados sobre quase 650.000 mensagens trocadas entre autoridades envolvidas na investigação e concluíram que o ex-juiz teria mesmo cometido sérias “irregularidades”.

Eles também alegaram que Moro, apesar de ser considerado um juiz imparcial nas investigações da Lava Jato, teria ilegalmente conduzido os procuradores em seu trabalho para incriminar políticos brasileiros.

A capa da Veja mostrou Moro – que levantou polêmica ao aceitar o cargo no ano passado depois de ajudar a prender o principal adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – usando o dedo indicador para inclinar os pratos da balança da justiça para a direita.

Em editorial condenatório, a Veja disse que sua matéria “revelou com precisão a maneira como Sérgio Moro extrapolou a sua função de juiz.”

A revista chegou a traçar paralelos entre a maneira como diziam que Moro tinha tomado “a lei nas próprias mãos” e as atividades de esquadrões da morte e “justiceiros” assassinos.

“Há quem aplauda e defenda esse tipo de comportamento, mas, como veículo de imprensa responsável, não podemos acolher tais atitudes,” disse a Veja, negando que a sua reportagem tivesse a intenção de apoiar a esquerda no país ou de ajudar a tirar Lula da prisão.

Reinaldo Azevedo, destacado comentarista conservador que também colaborou com o The Intercept, disse que o comportamento de Moro, conforme descrito pela Veja, foi “um escândalo” e funcionaria como um guia “para tudo que um juiz não pode fazer”.

“A reportagem arrasa com a reputação do Moro. Arrasa com a reputação do sistema jurídico brasileiro. E isso é só o começo,” escreveu Azevedo.

Num depoimento, Moro – que nega ter agido de forma errada e resiste aos pedidos de renúncia – condenou “a divulgação distorcida e sensacionalista das ditas mensagens que teriam sido obtidas de maneira criminosa”.

Bolsonaro, que esta semana completa seis meses de mandato, continua apoiando o seu ministro, declarando-o um “tesouro nacional” e desfilando ao seu lado num jogo de futebol em Brasília, a capital da República.