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[Não quero desqualificar o trabalho de ninguém, mas tenho um compromisso com o jornalismo e com a democracia, que estão sob ataque violentíssimo. Iniciativas que desmoralizam ou vulgarizam o combate democrático aos arbítrios da Lava Jato apenas contribuem, naturalmente, para o fortalecimento do golpe. Peço desculpas se me excedi em algum momento, e também por voltar mais uma vez a este assunto].

O ex-ministro Eugênio Aragão e o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) conversaram ontem sobre as artimanhas do golpe para “enfraquecer” lideranças da esquerda.

No minuto 25:53 (ou 15:34 de trás para frente), os dois rechaçam peremptoriamente o golpe do “documento bombástico”, que um certo blog usou para criar um movimento sórdido de desqualificação das principais lideranças de esquerda, provocando uma enorme confusão em setores mais ingênuos da militância.

Não há esse documento, afirmaram eles, acrescentando que é preciso ficar alerta para esses movimentos de desqualificação, que apenas beneficiam o golpe e, obviamente, não acrescentam nada à defesa do presidente Lula.

É importante fazer um registro, que o tal blog publicou, no dia 2 de março, num post intitulado “Indigno, Paulo Pimenta pendura acordo com Eduardo Cunha na vítima: Lula!”, calúnias bizarras contra Pimenta e Wadih, que reproduzo abaixo porque, a meu ver, ainda não caiu a ficha para algumas pessoas sobre a gravidade desse crime.

Antes de revelar no programa as “pressões” indevidas que sofri por parte dos Deputados Wadih Damous e Paulo Pimenta para não dar sequência à pauta do acordo espúrio Cunha/ Moro, entrei em contato com membros da Executiva do PT. E também com pessoas do entorno do Presidente Lula. De ambos os lados ouvi que a tal “tratativa” de Pimenta e Wadih com Eduardo Cunha não tinha se dado nem em nome do PT e nem em nome de Lula. Na verdade, desconheciam por completo tal “iniciativa”. Pela surpresa indignada no tom de voz de um dos membros da Executiva, restou claro: Lula – e o PT – foram traídos!

Notem, contudo, que nem tudo estava perdido: renovando minha fé e esperança no Partido dos Trabalhadores, esse destacado membro da Executiva Nacional, que muito admiro, não hesitou:

– Não ceda a pressões indevidas. Faça o seu trabalho. Publique o que apurou. É importante: desmascarar a Lava Jato é fundamental para defendermos o Presidente Lula. É do nosso interesse.

E assim eu fiz. Na certeza de que cumpria com o meu dever. Sim, dever para com Lula, a quem tanto admiro e a quem sou imensamente grato pelo que fez pelo meu país – e mais: pelo que ainda fará! Mas também, principalmente, dever para com os milhões de brasileiros que tem no Presidente Lula a sua única esperança de retornar à dignidade, da qual foram arrancados pelo Golpe.

É ver para crer: uma nova traição urdida contra Lula, numa verdadeira “PPP” – dois Deputados “de esquerda” (?)/ Lava Jato + PIG/ (certos!) Blogs “progressistas” (sic!)

O tal blog  denunciou, sem provas, deputados e blogs progressistas (com aspas) de “traição”, e de estarem mancomunados com o PIG e com a Lava Jato, e ainda usou, de maneira desonesta, o nome de Eugênio Aragão para corroborar o golpe do documento.

A pessoa que caluniou Pimenta, Wadih e os blogs progressistas (os quais entraram na roda apenas porque não deram trela ao tal “documento”), usava um nome falso, conforme revelou Luis Nassif.

Todo mundo tem o direito de usar pseudônimos, mas quando essas mesmas pessoas usam o anonimato para, no meio de um golpe de Estado, lançar calúnias contra as principais lideranças e blogs que atuam na resistência a este golpe, então elas perdem esse direito.

Reparem que a pessoa ainda tenta intrigar Paulo Pimenta com seu próprio partido, inventando uma mentira grotesca acerca de um contato que havia feito com “membros da Executiva” e com pessoas do “entorno do presidente Lula”.

Algum membro da equipe de defesa de Lula, possivelmente o próprio Cristiano Zanin, cujo celular todo mundo tem, e é uma pessoa muito acessível, também foi usado indevidamente para corroborar o valor de tal documento.

Contatado pelos editores do site, um “membro da Defesa de Lula” respondeu com uma mensagem singela, certamente via whastapp: “belo trabalho”. Eles saíram espalhando aquela resposta como se isso representasse alguma coisa. A partir daí, comentaristas que apoiam o blog saíram dizendo coisas como se vê num comentárioa um post meu, no blog do Nassif:

Óbvio que não. Mas tem caroço no angu vejamos:

– porque o duploexpresso daria tanta ênfase – junto com Eugênio Aragão e Zanin – num documento se ele é tão inútil? Será que eles deveriam ter perguntado antes aos outros blogueiros “progressistas”?

Ora, Zanin jamais deu ênfase a nenhum documento. Como se vê, a notícia é uma bomba de fragmentação de fake news. O estilo verborrágico do blog lança dezenas, centenas de acusações e suspeitas para todo o lado, enlameando geral.

Mais uma vez, o editor do referido blog parece não entender que uma mensagem privada de whatsapp não é mais que isso: uma mensagem privada. E não se expõe mensagens privadas sem autorização.

O Cafezinho publicou, ontem, um artigo desmontando a farsa do tal documento “bombástico”.  Moro sempre soube do endereço de Tacla Duran e o tal documento não compromete (infelizmente) em nada o juiz ou a Lava Jato.

Mas eu gostaria de acrescentar algumas outras informações.

Houve uma certa confusão, inclusive na esquerda, quando Sergio Moro publicou despacho, no dia 7 de dezembro de 2017, em que negou, pela terceira vez, o pedido da defesa de Lula de incluir Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, como testemunha do processo.

Em seu despacho, Sergio Moro faz uma afirmação que produziu o curto circuito:

Além disso, mesmo tendo sido consignado na decisão que é ônus da Defesa indicar o endereço da testemunha a fim de viabilizar a oitiva ou ainda que é o seu ônus demonstrar como ela poderia ser ouvida por videoconferência, persiste a Defesa em não cumpri-lo, pretendendo transferir esse ônus ao Juízo, o que é inapropriado.

Era mais uma das malandragens de Moro. Ele nunca disse que não sabia o endereço. Ele disse apenas que era “ônus” da defesa indicar o endereço da testemunha, assim como demonstrar como ela poderia ser ouvida por videoconferência.

Uma semana depois, no dia 15 de dezembro, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, faz uma vídeo conferência com Tacla Duran, para provar à justiça e a opinião pública que não havia problema nenhum em se realizar uma vídeo conferência com a testemunha. Na conferência, Tacla Duran lembra que Sergio Moro conhece seu endereço, porque este consta em sua identidade, e havia cópias destas no processo de tentativa de extradição conduzido pela justiça de Curitiba.

Alguns sites de esquerda deram manchetes confusas, que enfatizavam uma coisa irrelevante: “Tacla Duran diz que Moro sabia seu endereço”.

Daí criou-se esse “hoax”, bem típico dos tempos de informação rápida de internet, de que Moro havia negado ouvir Tacla Duran porque não conhecia seu endereço.  Parece que até mesmo alguns deputados fizeram “lives” em cima dessa informação errada.

Nesse despacho do dia 7 de dezembro, a principal justificativa de Moro para negar o pedido da defesa de Lula foi a de sempre: não quero e não quero. A questão do endereço, secundária, serviu apenas para acrescentar uma firula técnica.

Então o site veio com a história de que tinha um “documento bombástico” provando que Sergio Moro sabia o endereço de Tacla Duran, fazendo uma enorme confusão.

Moro sempre soube do endereço de Tacla e nunca escondeu isso. No dia 18 de setembro de 2017, ele já havia publicado despacho (um documento público) em que descrevia, no próprio texto, o endereço do advogado.

matéria do site tinha um tom bizarramente sensacionalista. Alguns trechos:

– “Vazou” (oh, glória!) documento – prova documental! – que im-plo-de essa máfia, instalada no MPF e no Judiciário.

Trata-se do pedido – clandestino! – que os Procuradores de Curitiba fizeram para ouvir, na Espanha (bem longe dos holofotes da Globo…), Rodrigo Tacla Durán, o ex-advogado da Odebrecht (e homem-bomba!)

– Olé!

*

Para compreenderem, em todo o seu teor, o poder de destruição do míssil nuclear lançado hoje de Brasília – para aniquilar Curitiba (ui!) (…)

– Casa caiu: advogado de Lula faz “live” bomba com Tacla Durán. E (pior!): Moro & “DD” já passaram recibo – “molhado”!

– Dr. Cristiano Zanin protocola recurso no TRF contra a mentira deslavada de Sergio Moro, que diz “desconhecer” o endereço de Tacla Duran na Espanha, para não o ouvir. Para “bombar” (literalmente!) esse recurso, Zanin anexa vídeo em que já toma o depoimento de Tacla Durán. E diante de um tabelião! Ui!

(…)

– Como sabemos todos, Moro negou o pedido de Lula, alegando “desconhecer” o endereço de Tacla, para a sua citação (um “convite” para que fosse ao tribunal espanhol depor).

– Uai! Como é que Moro “desconhece o endereço” (rs!) quando quem pede é Lula, mas…

– … (bem!) o conhece quando quem pede é o… “DD”?!

Toda a tese do site era de que Moro havia negado ouvir Tacla Duran porque “desconhecia” o endereço deste. Como vimos, não era verdade, mesmo que tenha havido alguma inocente confusão quanto a isso.

Um internauta me avisa que eles fizeram uma outra estrepolia. Enganaram Eugênio Aragão, quando disseram que o número do processo constante no “documento bombástico” era secreto, ou seja, não podia ser encontrado nos arquivos públicos da justiça do Paraná.

“É um processo que não se acha”, diz um dos editores do site para Eugênio Aragão.

Confusão ou má fé, não era verdade. O documento que eles divulgaram trazia, na verdade, dois números de processo. Ambos podem ser consultados livremente no site do Tribunal de Justiça do Paraná.

Você pode conferir no minuto 1:17:35 do vídeo abaixo (já deixe engatilhado na hora exata para vocês assistirem):

Eu encontrei os processos em 2 minutos, através do sistema de buscas do TRF4 (o sistema de busca processual do TJ-PR é muito confuso).

Você mesmo pode ver o processo número 50197279520164047000, referente a Marcelo Odebrecht, clicando aqui.

O processo 501996140174047000, por sua vez, referente a Rodrigo Tacla Duran, pode ser visto aqui. Abaixo, fácsímiles dos processos.