O feijão está caro e a culpa é do Bolsonaro
Por Zeca Dirceu*, exclusivo para o Viomundo
Muitos se perguntam como um país tão rico e próspero como o Brasil voltou a enfrentar tantos problemas em relação à fome e à insegurança alimentar, enquanto temos presenciado o agronegócio bater recordes de produção e exportação de alimentos. No Brasil de hoje o número de brasileiros com fome só aumenta.
A produção brasileira não é mais focada em alimentar a população, mas, sim, na exportação, principalmente de soja e milho.
Por outro lado, a produção de itens da cesta básica e a remuneração da agricultura familiar caíram. Se o campo não planta, a cidade não lancha, não almoça e nem janta.
O problema da fome brasileira não é apenas uma questão da fisiologia humana, “é um projeto político, de manipulação”, como diria Josué Castro, em 1946, ao escrever a obra “Geografia da Fome”.
Entre os anos de 2003 até o golpe de 2016 conseguimos avançar, deixando esse passado nefasto para trás, saindo do Mapa da Fome mundial em razão de todas as políticas públicas criadas pelos governos de Lula e Dilma.
Criamos políticas de comercialização, armazenamento e venda de produções.
Existia equilíbrio de preços e o Brasil dispunha de crédito, assistência técnica rural e investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação para a agricultura familiar e a organização de pequenas e médias unidades de produção, agroindústrias e cooperativas.
Os bancos públicos tinham um olhar diferenciado para quem produzia alimentos para o consumo da população.
Existiam ainda as políticas de fortalecimento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de projetos como o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que hoje é quase uma lenda. Tudo dentro do compromisso dos governos do PT de erradicar a fome e fortalecer a agricultura.
Mas ao passo de tantas evoluções nos últimos anos, nos deparamos com Temer e Bolsonaro. A agenda da alimentação nunca foi uma prioridade para eles.
Em 2019, Bolsonaro começa a política de desidratação da Conab: foram vendidos mais de 30 armazéns que serviam de estocagem de alimentos.
Antes disso, se fosse um ano de safra ruim, do feijão, por exemplo, com uma oferta pequena e preços altos, a Conab injetava o produto estocado no mercado, conseguindo baixar os preços, dando condições de compra para a população.
Infelizmente isso não ocorre mais. Atualmente, a produção estocada pela Conab não abastece mais que um dia de consumo nacional.
Sem condições para compra, sem políticas estratégicas e, enfim, sem um estoque regulador para enfrentar momentos difíceis, como foi o caso da pandemia da Covid-19, que acirrou a questão da fome e do desabastecimento.
O isolamento social para conter o avanço da doença revelou o lado mais cruel e nefasto do desmonte de políticas públicas promovido desde o golpe de 2016.
A pandemia não trouxe a fome de volta, apenas acelerou o retorno a um passado do qual já estávamos longe. Voltamos para o Mapa da Fome e para precarização dos direitos sociais, que impactam diretamente no poder de compra das famílias.
Com Bolsonaro no poder, os ataques não vão cessar. O último deles foi o fim do Bolsa Família e do Auxílio Emergencial, e a criação do chamado Auxílio Brasil, que ignorou mais de 22 milhões de pessoas, deixando-as sem nenhum benefício social em plena pandemia.
Como se vê, a fome e a desigualdade social são projetos criados pela perversidade daqueles que atendem ao sistema financeiro.
Por aqueles que querem o “quanto pior, melhor”, afinal, uma população bem alimentada e com direitos não pode ser manipulada e nem aceitar todas as mazelas impostas por governantes cruéis.
Ter comida na mesa também é um ato revolucionário.
*Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR) e vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados
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