A visita é classificada como “retomada” das relações entre os dois países, mas entender o cenário alemão, que poderá afetar o Brasil, é algo fundamental
Com todas as honrarias de um chefe de estado e um plus de uma militância aguerrida, que fincou o pé horas a fio na porta do “hotel Carlton Berlim”- e diga-se de passagem que tal carinho não é gratuito a qualquer presidente- Lula foi recebido num gelado domingo (3), com sensação térmica avassaladora de -10 graus na terra do chopp e chucrute, em sua última agenda após passar a semana no Oriente Médio.
A partir de então, deu-se início a uma maratona de encontros envolvendo o presidente brasileiro, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, diversas autoridades políticas do Brasil como Fernando Haddad, Marina Silva e também lideranças políticas germânicas, com destaque para o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier e a chefe do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig.
Da série de encontros, que também contou com setores do empresariado dos dois países ávidos por novas parcerias, 19 acordos de cooperação foram firmados (leia a íntegra aqui), com destaque para o retorno das iniciativas de reposicionar o Brasil na questão da preservação do meio ambiente e uma Marina Silva em plena forma ressaltando o potencial de produção de energia limpa brasileira: hidrelétrica, solar, eólica e combustível verde (hidrogênio). Além disso, outro tema foi ressaltado nas bilaterais, após 4 anos de Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente que defendeu abertamente “passar a boiada” com sua motosserra. Somente neste a
no, o desmatamento já diminuiu em quase 50% no país, dado que é fundamental para o Fundo Amazônia e assunto de extremo interesse para os alemães, tendo em vista que são um dos principais financiadores do projeto de preservação.
Pedra argentina no caminho- Já no campo do tão esperado acordo entre União Européia e Mercosul, as negociações não culminaram com a assinatura final, mas Lula não desistiu dos planos. “Só posso dizer que não vai ter assinatura quando terminar a reunião do Mercosul e eu tiver o não. Enquanto eu puder acreditar que é possível fazer esse acordo eu vou lutar para fazer”, disse Lula em conversa com a imprensa em Berlim.
Na construção do acordo, que já é por si só demasiadamente delicado e que já dura 23 anos, uma pedra no sapato surgiu, na verdade um pedregulho: Javier Milei. O atual governo argentino sinalizou que não irá assinar o acordo, já que um novo presidente assume o cargo apenas três dias depois da cúpula do Mercosul.
Em suma, a passagem de Lula na Alemanha foi celebrada pela maior parte da imprensa germânica como a “retomada” das relações entre os dois países após o cenário de terra arrasada dos últimos anos. Um sopro de alívio na abissal diferença entre ter que lidar um estadista e um defensor de Brilhante Ustra.
As contas não fecham na Alemanha – Quem viu o sorriso aberto de Olaf Scholz nos últimos dias ao lado de Lula, sabe que alguns problemas graves circulam pela mente do chefe de estado e que podem sim afetar os financiamentos propostos ao Brasil a médio prazo.
De acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Alemanha deve ser a única grande economia do mundo a encolher em 2023, amargando um déficit de 17 mil milhões de euros (18,66 mil milhões de dólares) no orçamento de 2024. Além disso, num balaio de inflação, crise energética (lembramos aqui da dependência do gás natural dos russos) e instabilidade social, um amargo pesadelo vem ganhando cada vez mais força, em um ritmo alarmante: o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que não possui nenhum pudor em expor seus quadros neonazistas, ganha cada vez mais a simpatia dos alemães. Sim, na Alemanha que já foi de Hitler. Um cenário perigoso e imoral.
Neste contexto de crise fiscal, o chanceler carrega em seu pires vários abacaxis, principalmente em manter fundos de investimentos internacionais, a imensa ajuda financeira à Ucrânia – guerra já custou 100 bilhões de euros à Alemanha e governo anunciou em maio que prepara um novo plano de ajuda militar no valor de 2,95 bilhões de dólares (R$ 14,5 bilhões)- e ainda por cima garantir algo tão caro aos alemães desde o cenário pós segunda guerra mundial: O estado de bem estar social.
Robert Habeck, o vice-chanceler e ministro da Economia, deu uma declaração enfática sobre corte de custos em investimentos internacionais no mesmo final de semana em que a comitiva brasileira desembarcava no Brasil. Indireta ou direta?
Com informações do Brasil 247
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