Total de inscritos vem caindo desde 2016. Políticas educacionais definharam após o golpe contra Dilma. Jovens se sentem desanimados pelas chances reduzidas no mercado de trabalho
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Após uma série de polêmicas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que é a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil, realiza sua primeira edição sob a nova administração do presidente Lula (PT) cercada de expectativas. Nos últimos dois anos, houve uma queda nas inscrições para o exame. A atual edição do Enem foi divulgada nas redes sociais pelo próprio presidente e pela primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, que se envolveram pessoalmente na campanha para aumentar a adesão à prova. No entanto, o aumento de meio milhão de inscritos em relação a 2022 não foi suficiente para alcançar os números registrados antes da pandemia, informa o jornal O Globo.
Em 2016, o exame teve 8,6 milhões de jovens e adultos inscritos, mas esse número foi diminuindo nos anos seguintes. Em 2021, um ano marcado pela alta da Covid-19, as inscrições foram 64% menores, totalizando 3,1 milhões. Essa participação foi a pior desde 2005, quando o exame teve um pouco mais de 3 milhões de inscritos. Em 2023, embora o cenário tenha melhorado, ainda persiste o desinteresse dos estudantes pelo Enem, com 3,9 milhões de candidatos buscando uma vaga na universidade.
Luiz Cláudio Costa, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que a dificuldade em recuperar as taxas de inscrição anteriores reflete o impacto contínuo da pandemia de Covid-19 na educação brasileira. Além disso, Costa acredita que o desânimo dos jovens também é influenciado pelas oportunidades limitadas no mercado de trabalho e pelo desestímulo ao ensino superior. “O maior desafio que temos como país é aumentar o número de inscritos no Enem, que despencou nos últimos anos. O número de inscritos reflete que o jovem percebe que não tem incentivo, programa e expectativa de estar em uma universidade e isso o desanima. É necessário resgatar a motivação do jovem de que tem direito, independentemente da classe social, de garantir uma vaga no ensino superior”, afirma o ex-presidente da autarquia na gestão de Dilma Rousseff.
José Roberto Covac, especialista em direito educacional, também destaca que o novo governo enfrenta um desafio significativo de reformular um programa de financiamento para permitir que estudantes de baixa renda tenham acesso ao ensino superior. O modelo atual do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) está enfrentando uma crise sem precedentes, com uma alta taxa de inadimplência. Recentemente, o presidente Lula anunciou um programa de refinanciamento que oferece descontos na dívida principal e promete até 100% de redução nos juros acumulados. De acordo com as regras atuais, o governo financia os estudos de estudantes de baixa renda em universidades particulares, e o pagamento da dívida começa apenas após a formatura, quando os estudantes iniciam suas carreiras. No entanto, a falta de oportunidades de emprego torna essa lógica problemática. Segundo o governo federal, cerca de 1,2 milhão de pessoas estão inadimplentes com o Fies, acumulando uma dívida de R$ 54 bilhões. Além disso, a situação se agrava com a redução do número de financiamentos concedidos pelo Fies. Dados do Inep mostram que o Fies encerrou o ano de 2022 com apenas 73 mil financiamentos concedidos. Esse número representa o terceiro pior resultado desde 2010, ficando atrás apenas de 2020, com 53 mil contratos, e 2021, com 45 mil. Em seu auge, em 2014, o programa chegou a conceder 732 mil financiamentos.
Com informações do Brasil 247
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