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“Barbosa Lima Sobrinho dizia que no Brasil só existem dois partidos: o de Tiradentes e o dos Silvérios. Se Dilma fosse presa, na cereja do bolo oferecida pela Lava Jato às petroleiras internacionais que se refestelarão com a entrega do pré-sal, a mensagem seria cristalina: jamais tente ser um Tiradentes, seja sempre um Silvério. Jamais seja uma Dilma. Seja um Temer, um Aécio, um Serra. Todos soltos, por sinal”, escreve Leonardo Attuch, editor do 247

O roubo do século acontecerá nesta quarta-feira, 6 de novembro, com o leilão cessão onerosa do pré-sal, quando o Brasil, sob um governo de ocupação, entregará às petroleiras internacionais as áreas mais lucrativas do pré-sal. Segundo um estudo da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), o prejuízo com esta entrega será de pelo menos R$ 340 bilhões – ou seja, 85 bilhões de dólares (saiba mais).

O pré-sal, como todos sabem, foi a maior descoberta de petróleo ocorrida no mundo, nos últimos cinquenta anos. Quando as primeiras reservas foram divulgadas, ainda no governo Lula, o que diziam os entreguistas? Era preciso vender tudo, o quanto antes, porque a Petrobrás jamais seria capaz de explorar tamanha riqueza. 

Mentira! Em pouco tempo, a Petrobrás bateu recordes sucessivos de exploração em águas profundas e o pré-sal passou a responder pelas áreas  mais lucrativas da empresa. Mais do que isso, sob o modelo de partilha, e não mais de concessão, o petróleo serviria a dois grandes propósitos: de um lado, desenvolver toda uma cadeia nacional de fornecedores de navios, sondas e equipamentos na cadeia de óleo e gás e, de outro, gerar recursos para investimentos em educação. Daí o slogan “Pátria Educadora”, que deveria marcar o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.

O sonho brasileiro de, a partir das descobertas da Petrobrás, produzir um salto de desenvolvimento, no entanto, começou a ser atacado em 2014, com o início da Operação Lava Jato, que teve focos milimetricamente calculados: a Petrobrás, evidentemente, mas também as empresas brasileiras de engenharia e até mesmo o Almirante Othon, que, na Marinha, desenvolvia o projeto dos submarinos nucleares, que serviriam para patrulhar os mares brasileiros.

Se Dilma tivesse sido derrotada por Aécio Neves em 2014, talvez não tivessem sido destruídas todas as empreiteiras nacionais e a cadeia produtiva do setor de óleo e gás. Isso poque o tucano dizia, em campanha, que o Brasil deveria seguir o modelo mexicano, ou seja, vender todo o pré-sal pelo modelo de concessão – modelo, diga-se de passagem, do qual só agora, o México, sob o governo nacionalista de López Obrador, tenta se libertar. Pena que só tenha restado o bagaço do petróleo mexicano.

Como Dilma foi reeleita, foi necessário derrubá-la – e também destruir praticamente toda a engenharia nacional – para que o assalto do século pudesse avançar. Para quem não se lembra, qual foi o primeiro projeto enviado ao Congresso pelo usurpador Michel Temer? O projeto de entrega do pré-sal. Escrito por quem? Pelo senador José Serra (PSDB-SP), que, nas gravações do Wikileaks, aparecera prometendo entregar o pré-sal à petroleira estadunidense Chevron.

Derrubar Dilma, no entanto, não era suficiente. Era também necessário prender o ex-presidente Lula, porque se ele voltasse, em 2018, o golpe de 2016 não se completaria. Dito e feito. Lula foi preso e, na eleição fraudada do ano passado, elegeu-se o “capetão” que diz “Brasil acima de todos”, mas bate continência para a bandeira de um outro país. E o duro é que, com esse discurso fajuto, ainda engana muita gente e também conta com os aparelhos de dominação ideológica.

Basta lembrar que todo esse processo de entrega das riquezas nacionais contou com o amplo apoio dos meios de comunicação corporativos. Em seus editoriais, Globo e Folha atacam o autoritarismo de Jair Bolsonaro, mas celebram em suas páginas noticiosas a entrega do pré-sal e as políticas econômicas de Paulo Guedes. Entre elas, a desvinculação de recursos do orçamento, com o fim de gastos obrigatórios em saúde e educação. Com o golpe de 2016, o Brasil saiu de um modelo em que o pré-sal, majoritariamente explorado pela Petrobrás, seria investido em educação, para outro, em que ele é entregue a multinacionais internacionais e os gastos com educação, pesquisa, ciência e tecnologia são reduzidos.

É uma tragédia, o maior suicídio de uma ex-nação em toda a história da humanidade, mas não se imaginava que haveria ainda um requinte de crueldade: o pedido de prisão da ex–presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira, que, felizmente, foi negado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. 

Qualquer brasileiro com mais de dois neurônios tem plena ciência de que Dilma foi alvo de uma das maiores farsas da história da humanidade: o golpe dos ladrões contra a presidente honesta. Basta lembrar de quem a derrubou: Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Aécio Neves, Michel Temer… e a lista é bem mais longa.

Por que então prendê-la a esta altura do campeonato? Para que fazer isso na véspera daquele que será, como dito no primeiro parágrafo deste artigo, o maior assalto da história da humanidade? Para passar uma mensagem contundente a todos os brasileiros desta e das futuras gerações. Barbosa Lima Sobrinho já dizia que no Brasil só existem dois partidos: o de Tiradentes e o dos Silvérios. Se Dilma fosse presa, na cereja do bolo oferecida pela Lava Jato às petroleiras internacionais que se refestelarão com a entrega do pré-sal, a mensagem seria cristalina: jamais tente ser um Tiradentes, seja sempre um Silvério. Jamais seja uma Dilma. Seja um Temer, um Aécio, um Serra. Todos soltos, por sinal.

Leonardo Attuch

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