O crescimento do fascismo bolsonarista na reta final, turbinado por uma avalanche de fake news disseminadas pela internet, não chega a surpreender.
Trata-se de tática já antiga desenvolvida pelas agências americanas e britânicas de inteligência, com o intuito de manipular opinião pública e influir em processos políticos e eleições. Foi usada na Ucrânia, na “primavera árabe” e no Brasil de 2013.
Há ciência por trás dessa manipulação.
Alguns acham que as eleições são vencidas ou perdidas apenas em debates rigorosamente racionais, em torno de programas e propostas.
Não é bem assim.
Na realidade, como bem argumenta Drew Westen, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Emory, no seu livro “O Cérebro Político: O Papel da Emoção na Decisão do Destino de uma Nação”, os sentimentos frequentemente são mais decisivos na definição do voto.
Westen argumenta, com base nos recentes estudos da neurociência sobre o tema, que, ao contrário do que dá a entender essa concepção, o cérebro humano toma decisões fundamentado principalmente em emoções. O cérebro político em particular, afirma Westen, é um cérebro emocional. Os eleitores fazem escolhas fortemente baseados em suas percepções emocionais sobre partidos e candidatos. Análises racionais e dados empíricos jogam, em geral, papel secundário nesse processo.
Aí é que entra o grande poder de manipulação pela produção de informações de forte conteúdo emocional e as fake news.
Os documentos revelados por Edward Snowden comprovaram que os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido possuem unidades especializadas e sofisticadas que se dedicam a manipular as informações que circulam na internet e mudar os rumos da opinião pública.
Por exemplo, a unidade do Joint Threat Research Intelligence Group do Quartel-General de Comunicações do Governo (GCHQ), a agência de inteligência britânica, tem como missão e escopo incluir o uso de “truques sujos” para “destruir, negar, degradar e atrapalhar” os inimigos.
As táticas básicas incluem injetar material falso na Internet para destruir a reputação de alvos e manipular o discurso e o ativismo on-line. Assim, os métodos incluem postar material na Internet e atribuí-lo falsamente a outra pessoa, fingindo-se ser vítima do indivíduo cuja reputação está destinada a ser destruída, e postar “informações negativas” em vários fóruns que podem ser usados.
Em suma:
(1) injetar todo tipo de material falso na internet para destruir a reputação de seus alvos; e (2) usar as ciências sociais e outras técnicas psicossociais para manipular o discurso on-line e o ativismo, com o intuito de gerar resultados que considerados desejáveis.
Mas não se trata de qualquer informação. Não. As informações são escolhidas para causar grande impacto emocional; não para promover debates ou rebater informações concretas.
Uma das técnicas mais usadas tange à “manipulação de fotos e vídeos”, que tem efeito emocional forte e imediato e tendem a ser rapidamente “viralizadas”. A vice Manuela, por exemplo, tem sido alvo constante dessas manipulações. Também Haddad tem sido vítima usual de declarações absolutamente falsas e de manipulações de imagens e discursos.
A abjeta manipulação de imagens de “mamadeiras eróticas”, que estariam sendo distribuídas pelo PT, é uma amostra de quão baixa pode ser a campanha de “truques sujos” recomendada pelas agências de inteligência norte-americanas e britânicas.
Muito embora tais manipulações sejam muito baixas e, aos olhos de uma pessoal racional, inverossímeis, elas têm grande e forte penetração no cérebro político emocional de vastas camadas da população.
Nada é feito ao acaso. Antes de serem produzidas e disseminadas, tais manipulações grosseiras são estudadas de forma provocar o maior estrago possível. Elas são especificamente dirigidas a grupos da internet que, por terem baixo grau de discernimento e forte conservadorismo, tendem a se chocar e a acreditar nessas manipulações grotescas.
Na realidade, o que vem acontecendo hoje no Brasil revela um alto grau de sofisticação manipulativa, o que exige treinamento e vultosas somas de dinheiro. De onde vem tudo isso? Do capital nacional? Ou será que há recursos financeiros, técnicos e logísticos vindos também do exterior?
É óbvio que isso demandaria uma investigação séria, a qual, aparentemente, não acontecerá. Só haverá investigação se alguém da esquerda postar alguma informação duvidosa.
O capital financeiro internacional e nacional, bem como setores do empresariado produtivo, já fecharam com Bolsonaro, no segundo turno. Boa parte da mídia oligárquica também. O mal denominado “centro”, na verdade uma direita raivosa e golpista, ante a ameaça de desaparecimento político, começa, da mesma maneira, a aderir, em parte, ao fascismo tupiniquim, tentando sobreviver das migalhas políticas que poderiam obter, caso o Coiso e Mourão, o Ariano, ganhem.
Trata-se, evidentemente, do suicídio definitivo da democracia brasileira e de uma aposta no conflito, no confronto, no autoritarismo e no fascismo, o que levaria a economia e a política brasileiras ao profundo agravamento de suas crises.
Contudo, esse agravamento da crise político-institucional e econômica, que inevitavelmente seria acarretado pela vitória do protofascista Bolsonaro, poderá ser útil aos interesses daqueles que querem se apossar de recursos estratégicos do país e de empresas brasileiras.
O caos e a insegurança podem ser úteis, principalmente para quem está de fora. Vimos isso muitas vezes no Oriente Médio. No limite, o golpe poderá ser aprofundado por uma “solução de força”, bancada pelo Judiciário e pelos militares. Desse modo, seria aberta a porteira para retrocessos bem mais amplos que os conseguidos por Temer. Retrocessos principalmente do ponto de vista da soberania nacional.
Do ponto de vista geoestratégico, o prometido alinhamento automático de Bolsonaro a Trump, seria de grande interesse para os EUA na região. Como se sabe, a prioridade estratégica atual dos EUA é o “grande jogo de poder contra China e Rússia”, entre outros. Bolsonaro, que já prometeu doar Alcântara ao americanos e privatizar tudo, poderia ser a ponta de lança dos interesses dos EUA na região, intervindo na Venezuela e se contrapondo aos objetivos russos e chineses na América do Sul.
Por isso, parece-nos óbvio que há um dedo, ou mãos inteiras, de agências de inteligência estrangeiras, principalmente norte-americanas, na disputa eleitoral do Brasil. O modus operandi exibido nessa reta final é idêntico ao utilizado em outros países e demanda recursos técnicos e financeiros e um grau de sofisticação manipulativa que a campanha de Bolsonaro não parece dispor.
A CIA e outras agência estão aqui, atuando de forma extensa.
Cabe às forças progressistas se contrapor, de forma coordenada, a esse processo manipulativo. E a resposta não pode ser apenas contrapor racionalidade ao ódio manipulativo. A resposta, para a disputa do cérebro político, tem de ser também emocional.
O ódio anti-PT, antiesquerda, antidemocracia, antidireitos, anti-igualdade etc., que anima Bolsonaro e que foi criado pelo golpismo e sua mídia fake, tem desse ser combatido pela projeção de sentimentos antagônicos, como esperança, amor, solidariedade, alegria e felicidade.
Eles projetam um passado de exclusão, violência e sofrimentos. Nós temos de projetar um futuro de segurança e realizações.
Quanto à campanha sórdida de difamação e manipulação, orientada de fora, o nosso lema deve ser o mesmo de Adlai Stevenson, o grande político democrata dos EUA, que propôs ao republicanos: “Vocês parem de falar mentiras sobre os Democratas e eu pararei de falar a verdade sobre vocês”.
O Coiso, Mourão, o Ariano, e a “famiglia” Bolsonaro só falam aberrações chocantes, devidamente comprovadas. Não são fake news. Assim, basta expô-los a sua própria verdade. Derreterão como vampiros na luz do sol.
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