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O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, que foi recentemente absolvido num dos processos do chamado “mensalão”, participou na manhã do sábado 5 do programa Bom Dia 247, na TV 247, e concedeu um depoimento histórico ao jornalista Leonardo Attuch, editor do canal, sobre sua trajetória política, sua prisão, sua expulsão do PT, sua posterior reabilitação no partido e sua visão sobre as alianças políticas que garantiram governabilidade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fundador do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores, Delúbio foi tesoureiro da campanha presidencial de 2002, aquela que levou Lula à presidência. Foi ele quem ajudou a costurar as principais alianças políticas com os partidos que apoiaram no Lula no primeiro turno, com aqueles que vieram a apoiá-lo no segundo turno e também durante seu governo. Ao equacionar dívidas de campanha de partidos aliados por meio de empréstimos tomados junto aos bancos Rural e BMG, Delúbio posteriormente foi um dos alvos preferenciais da Ação Penal 470, que era tratada como “mensalão” na imprensa, muito embora jamais tenham ocorrido pagamentos mensais a deputados ou compra de votos no parlamento.

Na entrevista, ele falou de seu martírio.  “Levamos 15 anos para ser inocentados, depois de muito sofrimento”, desabafou. Em seu depoimento, ele também perguntou “onde está hoje” o ministro Joaquim Barbosa, à época relator da Ação Penal 470, que comandou o julgamento espetacularizado pelos meios de comunicação. Para ele, “o ‘mensalão’ foi o pai, a mãe e o avô da Lava Jato”, inclusive tendo contado com assessoria direta do ex-juiz Sergio Moro, que forneceu elementos para Rosa Weber e o próprio Joaquim Barbosa na condenação de lideranças do PT.

Sacrifício pessoal

Delúbio falou sobre as alianças feitas à época pelo partido, a relação do governo com empresários, descreveu sua expulsão da legenda como “seu momento de maior sofrimento”, maior até do que a prisão, relembrou o período do cárcere e analisou o cenário das eleições de 2022, quando acredita que o ex-presidente Lula poderá ser mais uma vez candidato.

Sobre a política de alianças, que garantiu estabilidade política no momento em que Lula chegava ao poder sem maioria no Congresso, ele faz uma defesa enfática. “Tivemos aliados, mas todos aceitaram o nosso programa de mudanças sociais”, afirma. “O que nós fizemos foi correto, eu já disse e quero repetir. Eu faria tudo de novo, porque valeu a pena. E vale a pena a luta. Não importa o sacrifício”, diz ele, que foi preso por ordem de Joaquim Barbosa e depois de Sergio Moro.

Delúbio, que fez sua carreira como professor, descreveu como era na época a relação do poder público com os empresários e também as alianças feitas com partidos como PMDB. Com vida modesta, ele jamais acumulou patrimônio pessoal, ao contrário de tesoureiros de partidos de direita, ou de centro-direita, que jamais foram punidos, mesmo após a descoberta de contas bancárias milionárias em paraísos fiscais. Ele também lamentou as “fake news” da época, publicadas na imprensa comercial, que o apontavam como dono de fazendas e milhares de cabeças de gado – o que nunca foi verdade.

Novo momento da política 

No final de agosto, o Tribunal Regional Federal da primeira região, com sede em Brasília, extinguiu a punibilidade de Delúbio Soares, José Genoino e Marcos Valério por falsidade ideológica, em um dos processos do mensalão, que envolvia o BMG. “Depois de quinze anos de sofrimento meu, do José Genoíno, de outros, das nossas famílias… a gente consegue ser inocentado”, celebrou Delúbio, dizendo estar “feliz para caramba” com a decisão. “O Judiciário comete injustiças, mas também repara injustiças”, disse ele, que também comemorou a absolvição recente de Paulo Ferreira, outro ex-tesoureiro do PT, e disse ter certeza que o mesmo acontecerá com João Vaccari, condenado a partir de delações premiadas, na Lava Jato.

Sobre alianças, ele defendeu que o Partido dos Trabalhadores volte à fazê-las, mas com partidos de esquerda ou centro-esquerda. “Acho que a política é dinâmica. Naquele momento, nós elaboramos uma proposta que envolvia partidos que eram de centro. Eles concordaram com o nosso programa”, lembrou. “Tudo o que nós fizemos permitiu grandes transformações no País, como o Bolsa Família, milhões de empregos, os aumentos reais do salário mínimo… hoje, o companheiro Lula está pagando um preço hoje por essas transformações. E nós começamos a pagar esse preço em 2005”, disse. 

Sobre a relação do governo Lula com os empresários, ele afirma que, naquele momento, essa aliança estratégica foi importante para garantir um novo ciclo de desenvolvimento no País. Mas hoje ele revela uma nova visão sobre a chamada burguesia nacional. “Os grandes empresários brasileiros acham que o Estado é feito para eles. E agora os banqueiros estão mandando aqui e mudar essa realidade é uma luta que nós temos que fazer”.

Expulsão do PT e prisão

Na entrevista, que tem relevância histórica, Delúbio também fala sobre incompreensões que sofreu dentro do próprio Partido dos Trabalhadores. “O PT tinha muita dificuldade de entender o que chamavam de mensalão. Tanto é que eu fui expulso à época. Mas não me desesperei, falei para mim: ‘a verdade voltará’. Mentira tem perna curta. Cinco anos depois de expulso do PT, eu consegui voltar ao PT”, afirma. Sobre seu período de silêncio, ele se justifica. “Se eu era condenado condenado por setores do PT, imagina na sociedade”, lembrou Delúbio, que explicou quais foram as acusações contra ele e revelou ter ficado mais ferido com a expulsão do que com a própria prisão em decorrência da condenação no ‘mensalão’. “A coisa mais triste para um militante é quando ele sofre uma penalidade sem culpa. Quando se expulsa gente na esquerda? Ou por desvio de conduta, como alguns aí tão fazendo – dedo-duro – ou quando tem enriquecimento. No meu caso não tinha um, nem outro. Não tinha um centavo de dinheiro público. E eu fui expulso não pelo mensalão, mas por gestão temerária. Por que? Porque nós fizemos uma campanha em 2004 para as prefeituras, muito bem feita, e o PT se endividou um pouco, mas não que tivesse capacidade de pagamento. Aí o PT confundiu as coisas e me expulsou”, relatou.

Indagado sobre o que o machucou mais, a expulsão ou a prisão, respondeu: “Como a expulsão foi totalmente injusta, foi a coisa mais sofrida para mim. Mas não procurei retaliar ninguém. Todos os que votaram pela minha expulsão, eu procurei respeitar, nunca procurei tirar satisfação com nenhum deles”. 

Questionado sobre a postura recente de Antonio Palocci, Delúbio Soares foi duro. “Este cidadão teve todas as oportunidades no PT e quando foi pressionado inventou uma delação mentirosa que foi usada para impedir a eleição do Fernando Haddad”, afirmou. “Muitas vezes quem delata está pensando apenas em salvar o seu dindim.”

A eleição presidencial de 2022

Ao mencionar a decisão do TRF1, defendeu que é preciso ter “paciência histórica” diante de injustiças. Para ele, as alianças em 2022 devem ser feitas de acordo com os programas partidários. “As alianças devem ser feitas om partidos que têm programas parecidos, próximos. E acho que em 2022 nós teremos uma aliança positiva para a Presidência da República. A única coisa que eu tenho assim – certeza ninguém tem do futuro – mas em 2022 vai ter um tribunal popular, o do voto, que vai se reunir no primeiro final de semana de outubro para escolher seu presidente. Eu tenho muita clareza que o presidente Lula será inocentado e ele será o nosso candidato”, previu.

Assista, abaixo, à íntegra de sua entrevista concedida à TV 247. Na minutagem, contida na descrição do vídeo, é possível ir direto a trechos específicos:

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