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Em 4 de janeiro de 2021, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis fez em rede social um tenebroso alerta:

 Acabou. A equação brasileira é a seguinte: Ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos em 2021.

A advertência não foi levada a sério e o resultado estamos vendo.

À época, o país contabilizava 196,5 mil mortos e 7.754.560 casos confirmados da doença.

Nesse domingo (04/04), quase três meses depois, os brasileiros mortos somam 331.530 e os que têm ou tiveram infecção pelo novo coronavírus, 12.984.956.

Crescimento de quase 60% no número de casos e de óbitos.

Não à toa, há semanas, o professor Nicolelis adverte para a magnitude da catástrofe sanitária brasileira.

Em 26 de março, quando o Brasil, em apenas 24 horas, teve 3,6 mil mortes por covid, atingindo 307.326 óbitos desde o início da pandemia, ele bradou: Hora de gritarmos a plenos pulmões! #BASTA.

Paradoxalmente, no mesmo 26 de março, o Congresso Nacional aprovou o orçamento da União para 2021, cortando, no mínimo, entre R$ 30 e R$ 40 bilhões da Saúde.

Nicolelis condenou veementemente: Brasil cometendo suicídio através de medidas como esta!

Em 31 de março, o Brasil registrou 3.869 mortes em 24h.

E março se encerrou sendo o mês mais mortífero da pandemia: 66 mil brasileiros mortos pela covid.

“66 mil vidas interrompidas!”, brada o médico. “Não podemos esquecer de nenhuma delas!”

A catástrofe sanitária que estamos vivendo é resultado de incompetência, irresponsabilidade criminosa e negacionismo científico dos nossos governantes, particularmente do presidente Jair Bolsonaro (sem partido-RJ), o amigo número 1 do coronavírus.

“Se nada for feito, abril será pior que março e maio pior que abril”, avisa Nicolelis, perplexo com a inércia dos governantes e a apatia da população.

“O ponto de não retorno se aproxima do Brasil”, informa.

“Se nada mudar dramaticamente, podemos atingir 400 mil mortos por covid-19 no início de maio! Muito mais rápido do que a estimativa feita no início de março”, acrescenta.

ALERTANDO E DENUNCIANDO E O PODCAST ‘DIÁRIO DO FRONT’

O professor Miguel Nicolelis não desiste facilmente das batalhas.

Portanto, enquanto puder, vai continuar alertando quem estiver disposto a ouvir. E denunciando tudo aquilo que não foi feito para evitar uma tragédia ainda maior.

Tanto que, na semana passada, postou o primeiro episódio do seu mais novo podcast — Diário do Front –, que irá ao ar toda semana.

Um resumo das notícias da pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo, transmitido diretamente do fronte brasileiro.

Vale a pena ouvir na íntegra o primeiro episódio do Diário do Front

Ele está no topo.

Abaixo, a degravação de alguns pontos fundamentais para entender a gravidade do momento:

— O Brasil está numa bifurcação histórica.

Nesse momento, todo o país vive uma pandemia com crescimento exponencial, fora de controle, em meio a um colapso hospitalar jamais visto na nossa história.

Todas as regiões brasileiras encontram-se virtualmente com uma a quatro semanas de estoques de oxigênio e medicamentos para intubação, listas de espera por um leito de UTI, que alcançam milhares de pessoas.

— Nas próximas semanas, podemos atingir 4 a 5 mil óbitos por dia e 500 mil mortos por volta de julho.

— Diante desse cenário, o futuro que nos espera pode ser ainda mais dantesco,  uma vez que não existe por parte do governo federal nenhum tipo de iniciativa crível de combate real à pandemia.

— Já existem sinais em várias regiões do país, tanto em cidades de pequeno quanto de grande porte, de que um colapso funerário se aproxima a passos largos do Brasil.

— Nesse cenário, o prefeito de São Paulo decidiu, não se sabe a conselho de quem e a mando de que gênio da lâmpada, criar ou adiantar os feriados futuros para nessa semana, a partir da sexta-feira dia 26 de março, estabelecer feriado de  10 dias, que já ganhou a alcunha de feriadão.

O que o feriadão fez de bom para pandemia é absolutamente nada. Muito pelo contrário. O prefeito de São Paulo exportou milhões de paulistanos para o interior e a Baixada Santista, porque não houve nenhum tipo de mensagem, nenhum tipo de ação paralela, que garantisse que as pessoas ficassem em casa e reduzissem o fluxo pelas estradas, pelas ferrovias, que deveria ter sido intento de uma medida desse porte.

– Para isso, seria necessário que a prefeitura e o estado tivessem criado bloqueios nas rodovias para instruir as pessoas e bloquear qualquer tipo de fluxo particular, de ônibus intermunicipais ou de carros particulares, que não fossem essenciais, que não tivessem uma justificativa muito clara, objetiva e emergencial.

— As pessoas deveriam ter ficado em casa para evitar que São Paulo entrasse num estado ainda mais crítico que já está, como foi mostrado num vídeo essa semana por médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior complexo médico do hemisfério sul Brasil, não só do Brasil, onde a maior UTI do país já está com taxa máxima de ocupação.

–Inclusive nesse vídeo alguns colegas meus de faculdade, de turmas próximas à minha, fizeram apelos emocionados, apelos desesperados para que a população entendesse o grau de calamidade, o grau trágico que assola o país neste momento e que a população da cidade de São Paulo  ficasse em casa.

— Infelizmente, parece que ninguém no Brasil ou, pelo menos, os gestores brasileiros não conseguem ler o noticiário ou não conseguem ver exemplos bem sucedidos de lockdown, como o do Reino Unido.

Lá, se conseguiu reduzir o número  de mortes de 1.800, no início deste ano, para 17 mortos na última semana de março.

E, agora, o Reino Unido começa a planejar a saída deste lockdown, que foi de quase três meses, mas que conseguiu evitar com o sistema de saúde  colapsasse,

— A propósito,  em 27 de março, o Chile que já conseguiu vacinar mais da metade da população com, pelo menos, uma dose, decretou um lockdown rígido na cidade de Santiago e  vizinhanças para tentar impedir um surto de coronavírus que está aumentando dramaticamente o número de casos nos últimos dias.

Ou seja, o Chile, um dos líderes mundiais de vacinação, percebeu que não adianta só vacinar. É preciso restringir o fluxo de pessoas e aumentar o isolamento social para ter qualquer chance contra esse vírus.

— Já no Brasil, após atingirmos o momento mais crítico da pandemia, temos perspectivas ainda mais dramáticas para as próximas semanas e os próximos meses.

— Daí a bifurcação que eu comentei no começo deste podcast.

Ela é muito clara. Ou o Brasil faz o que tem que ser feito imediatamente ou envereda por um rumo sem previsão alguma.

Com isso, quero dizer que nós estamos há pouco semanas de um ponto de não retorno na crise brasileira da pandemia.

— Se o colapso funerário se instalar nesse país, começaremos a ver corpos sendo abandonados pelas ruas, em espaços abertos. Teremos que usar o recurso terrível de valas comuns para enterrar centenas de pessoas simultaneamente, sem urnas funerárias, só em sacos plásticos, que vão acelerar o processo de contaminação do solo, lençol freático,  alimentos e, com isso, gerar uma série de outras epidemias bacterianas gravíssimas que leveriam o país a entrar num caos nunca jamais visto.

Caos sanitário. Caos social. Caos econômico. E, eventualmente, caos político.

— Esse é o cenário que espera o Brasil, caso nós, enquanto sociedade civil, não iniciemos imediatamente um processo de resistência, de protesto pacífico, legal, que obrigue as autoridades do governo federal e do congresso nacional a agirem de forma decisiva no combate desta pandemia.

Enquanto país, nós cruzamos todos os limites aceitáveis da decência, desumanidade grave, falta de empatia e falta de ação.

Neste instante, o Brasil é um país pária. Em todo o mundo, é reconhecido como epicentro da pandemia e uma ameaça global ao manejo desta pandemia.

— Portanto, é hora de a sociedade civil se organizar, de as instituições da sociedade civil, juntamente com a comunidade científica, com todos os órgãos e instituições do poder público, se unirem.

Independentemente de visões partidárias, ideológicas, políticas,  se unirem num movimento de salvação nacional , cujo lema seria BASTA!

Basta de mortes evitáveis!

Basta de incompetência, inépcia e desmando na maior crise sanitária do mundo em 100 anos!

Basta de ver nossos irmãos e irmãs morrerem sem medicamentos, sem leitos de UTI e sem a possibilidade de um atendimento médico digno!

Basta de ver os nossos heróis, profissionais de Saúde, darem as suas próprias vidas!

Basta de ignorar as medidas fundamentais para o Brasil conseguir evitar  um colapso funerário e um mergulho num poço sem volta, num abismo maior do que o Brasil!

Para o BASTA! ser literalmente ouvido em todo o país, é preciso que todos nós, enquanto cidadãos,  passemos a disseminar esse nosso grito de protesto de todas as formas e todos os meios possíveis — redes sociais, nossas comunidades, nossos vizinhos, nossas famílias, nossos grupos de WhatsApp.

É para que o nosso BASTA! atinja a todos os poderes da República, e deixe-lhes muito claro que o povo brasileiro não suporta mais o estado de abandono a que foi condenado.

— Quando um presidente da República manda um documento ao Supremo Tribunal Federal, pedindo a revogação de poucas medidas que ainda conseguem proteger alguns brasileiros desse vírus letal, ele dá uma declaração pública e notória, assinada e reconhecida em cartório para o Brasil e o mundo, de que ele renunciou a sua obrigação constitucional de defender o povo brasileiro da covid-19.

— Porque o que nós enfrentamos hoje é uma guerra. E para enfrentar uma guerra, você precisa ter um comandante que defenda a vida dos brasileiros e das brasileiras.

— Este BASTA! precisa ser acompanhado de decisões operacionais imediatas.

A primeira delas é a criação de uma verdadeira comissão de salvação nacional integrada pelos poderes da República, independentemente do Poder Executivo, que ainda tentam e querem salvar o Brasil de uma catástrofe sem precedentes.

Essa comissão deveria contar com o apoio do fórum dos governadores, das entidades dos prefeitos, instituições da sociedade civil e representantes da comunidade científica, que teriam condições de gerar  recomendações, normas, procedimentos e abrir negociações com o mercado internacional para ajudar o Brasil a sair desta crise.

— Esta comissão tem que ter voz ativa e poder parar implementar as suas decisões, independentemente de querelas políticas.

— Uma comissão de salvação nacional é a única esperança que o Brasil tem.

— O Brasil precisa entrar lockdown nacional rígido pelos próximos 30 dias — 21 dias, não dá mais! — para evitar que a pandemia continue gerando em grau geometricamente progressivo novos casos e novos casos graves, que impeçam que o sistema hospitalar brasileiro, que já colapsou segundo a Fundação Oswaldo Cruz, saia desse colapso e tenha um respiro.

— O Brasil precisa interromper o fluxo não essencial, não emergencial, de pessoas pelas malhas rodoviária. aeroviária e ferroviária. E fechar o seu espaço aéreo internacional.

— Com esses bloqueios sanitários nas rodovias, aeroportos, nas ferrovias, ter um respiro de 30 dias.

— O Brasil precisa aumentar o número de vacinas entregues ao povo brasileiro para algo próximo de 2 a 3 milhões de pessoas vacinadas por dia. A meta de 1 milhão do ministro da saúde é insuficiente, medíocre.

— O Brasil não pode mais aceitar a mediocridade. A mediocridade está levando o Brasil a um extermínio em massa.

Está levando o Brasil a uma crise que, no limite, vai atentar contra a própria soberania do país. No Congresso dos Estados Unidos, já há deputados pedindo ao presidente americano que crie e lidere uma intervenção internacional no Brasil, dada a ameaça que nos tornamos para todo o mundo.

— Por isso é preciso vacinar de 2 a 3 milhões de pessoas por dia.

— Essas medidas são a tradução operacional desse BASTA!.

O Brasil chegou nesta bifurcação histórica, épica, quase que bíblica, onde se o governo brasileiro e o presidente decidiram renunciar aos seus deveres constitucionais.

Cabe a nós, brasileiros e brasileiras de todas as orientações políticas, visões de mundo, vertentes ideológicas, nos unirmos neste BASTA! para permitir que o Brasil volte a respirar.

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