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“O governo Bolsonaro, a partir do Itamaraty sob Ernesto Araújo, transformado numa trincheira da extrema-direita internacional, substituiu a diplomacia e o diálogo pelo intervencionismo, a ação de corresponsabilidade com as Nações Unidas pelo unilateralismo, a independência pelo alinhamento automático e subserviência ao imperialismo estadunidense”, escreve o jornalista José Reinaldo Carvalho, editor internacional do Brasil247

Por José Reinaldo Carvalho, do Jornalistas pela Democracia Onde estão os defensores do Estado de Direito, os zeladores da ordem constitucional, até agora calados sobre a violação da Carta Magna por parte de Jair Bolsonaro no episódio do assassinato de militares iranianos e iraquianos, uma ação claramente terrorista do presidente dos Estados Unidos? 

Afinal, o titular do Poder Executivo e o Itamaraty sob o comando da extrema-direita apoiaram oficialmente uma ação proibida pela Constituição Federal.  O governo brasileiro respaldou o ato terrorista de seu chefete Donald Trump, repetindo a abjeta argumentação do ocupante da Casa Branca de que o assassinato do general Qassem Soleimani e outros militares de alta patente foi uma ação “preventiva” para evitar ataques do Irã contra alvos estadunidenses no Oriente Médio.   

A Constituição brasileira obriga o governo de turno a defender a paz, a autodeterminação das nações e a solução pacífica dos conflitos internacionais. Esta tem sido aliás, salvo raríssimas exceções, a prática do Itamaraty desde que foi fundado pelo Barão do Rio Branco, uma tradição da qual o governo atual se afasta cada vez mais.   

O governo Bolsonaro, a partir do Itamaraty sob Ernesto Araújo, transformado numa trincheira da extrema-direita internacional, substituiu a diplomacia e o diálogo pelo intervencionismo, a ação de corresponsabilidade com as Nações Unidas pelo unilateralismo, a independência pelo alinhamento automático e subserviência ao imperialismo estadunidense.   

Durante a tentativa de golpe de Estado na Venezuela no início do ano passado, o governo Bolsonaro manifestou claras inclinações pela intervenção militar, ladeando as posições norte-americanas e colombianas. Foi ao longo de todo o ano de 2019 um protagonista das ações mais ferrenhas do Grupo de Lima, um arranjo de facto de países inimigos da soberania nacional venezuelana à margem dos organismos multilaterais de direito.   

Os democratas e patriotas brasileiros não podem permitir que o Brasil, país querido na comunidade internacional pela grandeza de sua gente e defesa de valores simultaneamente patrióticos e universalistas, apoie um ato criminoso e terrorista como o praticado por Trump nos últimos dias e substitua o orgulho nacional pelo opróbrio.  

No caso em tela, a violação da Lei maior do país por Bolsonaro é ainda mais patente porquanto o crime dos Estados Unidos atropelou a soberania e a integridade territorial de um país independente, o Iraque, membro pleno da Organização das Nações Unidas, a cuja Carta todos os países membros devem obediência. Os princípios do documento maior da ONU, a começar do mais fundamental – a defesa da paz e da autodeterminação das nações – estão integralmente inscritos em nossa Constituição.   

O ataque terrorista dos Estados Unidos, para além de  ofender a autodeterminação dos povos, compromete a paz e a segurança no mundo, aumenta a instabilidade, acende conflitos com potencial de se transformar em incontroláveis e generalizadas conflagrações e que podem acarretar irreparáveis danos à humanidade em perda de vidas e prejuízos materiais.   

O imperialismo estadunidense promove a escalada das tensões no Oriente Médio como parte da estratégia de domínio geopolítico da região. O Brasil não tem por que engajar-se em tais aventuras nem subordinar-se a tais planos.   

Trump já tinha deixado claro que preparava uma ofensiva para avançar na execução dessa estratégia, começando por rechaçar os esforços diplomáticos que tinham sido feitos por seu antecessor e que resultaram na assinatura de um acordo nuclear com o país persa. Retirou-se unilateralmente do pacto firmado em 2015 por todos os membros do Conselho Permanente de Segurança da ONU mais a Alemanha com o Irã. Adotou para com este país a nefasta e injustificável política de sanções econômicas, com vistas a estrangulá-lo e fomentar divisões e conflitos internos.    

O Brasil precisa voltar a ser um fator de paz e estabilidade no mundo e isto não está desligado da solidariedade com os países e povos agredidos pelo imperialismo.   

Isto é tarefa para as forças progressistas e um governo de outro tipo, de caráter soberano, democrático, popular, pacífico, solidário e integrador.   

Com Bolsonaro no governo o povo brasileiro corre o risco de pagar o alto preço de graves crises internacionais e guerras.

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