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Ofensiva coamandada pelos Estados Unidos não foi seguida pelo governo do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador.

O Grupo de Lima anunciou nesta sexta-feira (4), na capital peruana, que não reconhecerá o governo venezuelano se o presidente Nicolás Maduro assumir um novo mandato em 10 de janeiro, por considerar que se trata do resultado de eleições “ilegítimas”. A Venezuela reagiu depronto. Em um comunicado lido pelo chanceler, Jorge Arreaza, o governo venezuelano expressou “sua maior perplexidade ante a extravagante declaração de um grupo de países do continente americano, que após receber instruções do governo dos Estados Unidos através de uma videoconferência, acordaram incentivar um golpe de estado”.

Mais cedo, Arreaza criticou o Grupo de Lima pelo Twitter, chamando o conselho de “humilhante subordinação” aos Estados Unidos. “O que temos afirmado desde a criação deste grupo de governos unidos contra a Venezuela, e que em teoria não pertence ao governo dos EUA: se reunem para receber ordens de Donald Trump por intermédio de Mike Pompeo. Que demonstração de subordinação humilhante!”, escreveu.

A decisão do Grupo de Limas não foi unânime, uma vez que o México, agora sob o governo de esquerda de Andrés Manuel López Obrador, se recusou a assinar a declaração. O subsecretário para a América Latina do presidente Obrador, Maximiliano Reyes Zúñiga, havia antecipado no Twitter que seu país não romperia relações diplomáticas com a Venezuela: “Autodeterminação dos povos, solução pacífica de controvérsias, não-intervenção, cooperação internacional e respeito, proteção e promoção dos direitos humanos em nossa América Latina e Caribe”, escreveu ele. Uma fonte do governo do México disse à agência de notícia Reuters que o país continuará sendo parte do grupo, mas que prefere manter abertos os canais diplomáticos para ajudar a encontrar uma solução para a crise política na Venezuela.

O chanceler peruano, Néstor Popolizio, disse que o Grupo pediu que Maduro não assuma o mandato e transfira o poder para a Assembleia Nacional até a realização de “eleições livres”. O Grupo de Lima foi criado em 2017 por iniciativa do direitista governo peruano com o objetivo de pressionar para o rompimento da democracia na Venezuela. Além do Brasil e do Peru, mais 11 países integram o grupo — Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá e Paraguai.

Os países-membros do Grupo se comprometeram a reavaliar as relações bilaterais com o governo venezuelano e impedir a entrada de altos funcionários de Maduro em seus territórios. Também definiu-se que as 13 nações devem elaborar listas com nomes de venezuelanos a serem banidos de relações com instituições financeiras e bancárias. A declaração prevê até o congelamento de recursos financeiros desses cidadãos. O documento determina ainda que os países avaliem com “critério restritivo” empréstimos de organismos internacionais à Venezuela.

No texto, os países também condenam “qualquer provocação ou deslocamento militar que ameace a paz e a segurança na região” e conclamam “o regime de Maduro e as Forças Armadas venezuelanas a desistirem de ações que violem os direitos soberanos de seus vizinhos”. Por fim, pedem que o governo “permita a entrada imediata de assistência humanitária na Venezuela a fim de evitar o agravamento da crise humanitária e de saúde pública no país e seus efeitos transnacionais”.

A reunião é a primeira com a participação de Ernesto Araújo, novo chanceler brasileiro, e contou com a participação excepcional, via videoconferência, do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, que não pertencem ao Grupo de Lima. No Twitter, ele disse que a declaração do grupo é uma “oportunidade inédita para redemocratizar a Venezuela”. Na visita ao Brasil, Pompeo já havia acertado com o chanceler Néstor Popolizio “incrementar a pressão” sobre o governo de Nicolás Maduro com o objetivo de restaurar a “democracia e a prosperidade” na Venezuela.

Populismo neoliberal

Essa retórica belicosa contra a Venezuela faz parte da plena restauração da ordem neoliberal na América Latina, derrocada após o fracasso dos anos 1990 pelo triunfo das forças políticas de esquerda numa virada democrática que começou exatamente na Venezuela com a vitória de Hugo Chávez. Os governos de direita prometeram que acabariam com as recessões, com a promessa de que os governos poderiam aumentar a renda e a qualidade de vida da população por meio da “estabilização da moeda”. O resultado foi um tremendo fiasco.

Como agora, com a volta do populismo neoliberal, aquela experiência se deu sob a tutela do regime norte-americano. Foram dois ciclos políticos. O primeiro foi marcado pela condução anglo-saxã de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, e liderado por Augusto Pinochet (Chile), Calos Menem (Argentina), Carlos Salinas de Gortari (México), Alberto Fujimori (Peru), Andrés Perez (Venezuela), Gonzalo Sánchez de Lozada (Bolívia) e Fernando Collor de Mello (Brasil). Perseguidos pela lei — alguns ainda estão foragidos —, eles foram substituídos, num segundo ciclo também marcado pela condução anglo-saxã (desta vez com Bill Clinton e Tony Blair).

A virada à esquerda, iniciada com a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, despertou imediatamente a reação da direita. Chávez assumiu dizendo que a América Latina não podia ser colônia norte-americana. Segundo ele, todos os países precisavam ser uma única pátria latino-americana. ”Precisamos de um tratado de comércio, e não esse de livre comércio, que oprime em vez de libertar”, disse, referindo-se à tentativa de imposição, pelos Estados Unidos, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Ele também disse que o Mercosul precisava de reformulações, para que evoluir de um acordo de cooperação comercial para um projeto de solidariedade e interesse social.

México Rebelde

Outro detalhe relevante é a posição do México no Grupo de Lima. A história das relações do México com os Estados Unidos mostra que os dois países estiveram em conflito praticamente em todo o decorrer dos séculos XIX e XX. A arrogância de Washington sempre foi respondida com altivez pelo povo mexicano.

O México é o grande exemplo revolucionário do continente. No seu território, houve uma revolução antes do que a da Rússia – em 1910. Os mexicanos lutaram e venceram, ao longo de sua história, três nações: Espanha, França e os Estados Unidos – que não puderam ocupar suas terras, ainda que tenham se apossado de parte delas. Até 1934, o país teve 73 movimentos revolucionários. Madero, Pancho Villa, Emiliano Zapata e Lázaro Cárdena, entre outros, são as grandes figuras que iniciaram os movimentos insurretos a anti-imperialista.

O México nunca serviu de comparsa dos Estados Unidos. As suas relações com Cuba não foram interrompidas nem quando OEA (Organização dos Estados Americanos), organismo fantoche do imperialismo, seguindo ordens do departamento de estado norte-americano, determinou o rompimento de relações com o governo revolucionário de Havana. Uma explicação sintética da histórica insurgência mexicana foi magnificamente descrita pelo jornalista John Reed no começo do século XX, em seu livro México Rebelde. A Cidade do México é cercada por uma grande avenida chamada “Insurgentes”.

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