A disputa da presidência da Câmara dos Deputados e a possibilidade de impor a primeira derrota ao bolsonarismo
O acordo de Rodrigo Maia (DEM-RJ) com o partido de Bolsonaro, o Partido Social Liberal (PSL), não passa de uma aliança formal do DEM com o governo Bolsonaro. Se eleito, Maia entregará as duas principais Comissões da Câmara, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e a de Finanças e Tributação. Com isso, na prática, o Governo controlará a Câmara. Cenário pior, não há.
Pelo campo democrático, o PSOL se antecipou e lançou Marcelo Freixo à Presidência da Câmara dos Deputados em nome da unidade do campo popular. Freixo é um ótimo quadro, dos melhores, mas o momento exige ampliação para se construir uma oposição progressista e democrática. Infelizmente, o momento não está propício para quadros do PSOL, PT e PCdoB assumirem tal desafio por razões óbvias. Diante disso, a oposição precisa dialogar, se organizar, se entender.
Não se trata aqui de escolher o melhor em competência, representatividade ou carisma. Trata-se de pragmatismo. Temos que parar com essas disputas por protagonismo, de um partido indicar um nome para marcar posição. É legítimo, é verdade, mas pode atrapalhar também. Parece que não aprendemos com o ocorrido em 2015, como o bate-cabeça do campo popular, com o PT, PSOL e PSB lançando candidatos próprios e facilitando a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. O processo que desencadeou depois disso, todos lembram, não é?
O campo democrático-popular, a centro-esquerda, se quiser impor a primeira derrota ao bolsonarismo, precisará mais do que os 136 votos (PT, PSOL, PDT, PSB e PCdoB) que dispõe hoje, mas de um candidato que consiga dialogar e transitar com a centro-direita republicana que não aderiu ao bolsonarismo. Ou seja, com setores do PSDB, do PPS, com o PV e boa parte do MDB. Nesse quesito, o que não falta é nome com alta capacidade de trânsito e diálogo para se colocar à disposição de tal desafio: Molon (PSB-RJ), Orlando Silva (PCdoB-SP) e, em especial, a combativa deputada Lidice da Mata (PSB-BA), que seria um ótimo nome da oposição para governar a Câmara.
Também não podemos excluir a possibilidade de se apoiar um nome da centro-direita, desde que seja minimamente comprometido com valores republicanos e democráticos que o afastam do bolsonarismo. Pra isso, também precisaremos dos nossos parlamentares mais qualificados e capacitados para construir pontes de diálogo e consensos. Para que se possa ter uma ampla coalizão democrática, os atores precisam deixar suas armas do lado de fora e sentar na mesa para conversar, com um único pré-requisito: a defesa da democracia nos marcos da Constituição cidadã de 1988.
O esforço da oposição democrática deve ser no sentido de fazer com que o Congresso não se alinhe ao bolsonarismo. Maia tem hoje como certos os votos dos parlamentares do PSL, PRB e do próprio DEM, que são insuficientes para elegê-lo. Derrotar Maia na eleição da Câmara dos Deputados significa impor a primeira derrota ao bolsonarismo.
por Daniel Samam GGN
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