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O Partido dos Trabalhadores está procurando sair da crise provocada pela derrota nas eleições de 2018. Há uma tese entre segmentos petistas remanescentes de que a hegemonia paulista, desde a fundação do PT nos anos 1980, esgotou-se. As outras grandes forças seriam Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O PT gaúcho, no entanto, saiu muito dividido das eleições estaduais. O melhor resultado estaria em Minas, onde não obstante a derrota do governador Fernando Pimentel, as bases não se saíram muito mal.

O Partido dos Trabalhadores está procurando alternativas para superar essa crise. As derrotas produzem grandes mudanças. O grupo de comando desde a fundação do PT nos anos 1980, esgotou-se. As outras grandes forças seriam Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O PT gaúcho, no entanto, saiu muito dividido das eleições estaduais. O melhor resultado estaria em Minas, onde não obstante a derrota do governador Fernando Pimentel, as bases não se saíram muito mal.

O deputado federal Patrus Ananias (PT/MG) é um dos últimos cardeais do Partido dos Trabalhadores na ativa e com mandato. O ex-prefeito de Belo Horizonte e deputado reeleito  está se empenhando em reerguer o partido que fundou, duramente abalado nas duas últimas eleições: “O PT tem de fazer seu exame de consciência, de fazer sua reflexão política, tem de dar meia-volta às bases, adotar a uma nova política de promoção com os movimentos sociais, entidades da sociedade, escolas, universidades, juventude”.

O veterano político mineiro acredita que “vão crescer dentro do PT movimentos de baixo para cima neste sentido da renovação. Quando começamos (década de 1980) ninguém acreditava que o PT chegasse onde chegou. O fundamental agora é definirmos o que vamos fazer nos próximos anos”.

No momento o PT está à procura de um novo comando. Das lideranças antigas, a mais expressiva é a do veterano político mineiro. Entre os novos desponta o paulista Fernando Haddad, ex-candidato presidencial, que representa o núcleo hegemônico até então. Há também a atual presidente nacional, oriunda do Paraná, senadora e futura deputada Gleisi Hoffmann, que tenta se manter no cargo. Entretanto, os esteios petistas sugerem que seja chamado um nome fora de São Paulo e que seja emblemático, uma reserva. Neste caso, Patrus é um líder muito forte. E vem de Minas, do Vale do Jequitinhonha.

Patrus não se oferece, mas apresenta a tese: “Minas Gerais é uma síntese do Brasil. É o estado mais parecido com o País. O que acontecer no Brasil vai se repetir em Minas. Nós, mineiros, temos a característica de colocarmos o Brasil acima dos interesses locais e regionais, por mais legítimos que sejam”.

O PT mineiro chega no cenário nacional partidário com uma forte credencial: foi o único estado de fora do Nordeste em que a bancada estadual cresceu de fato. Em 2014 elegeu 10 parlamentares, perdeu dois nas janelas partidárias e recuperou estas duas cadeiras em 2018. “Em MG nos perdemos a eleição majoritária, mas mantivemos a votação proporcional, o que prova que o partido tem força no Estado. Temos de estabelecer uma estratégia para nos recuperarmos no campo majoritário. Ninguém constrói uma estratégia sozinho. Tem de ser compartilhada, tem-se de conversar com lideranças, com os eleitos para a Assembleia Legislativa e para Câmara. Precisamos retomar o trabalho de formação política. Com as responsabilidades que assumimos (governos e administrações) nos afastamos um pouco desse trabalho de base, de formação. Temos de usar as novas tecnologias os novos instrumentos de comunicação, precisamos trabalhar com a perspectivas de elevar o nível de consciência política das pessoas, dos mais pobres, trabalhadores, no sentido de alargar consciências, os corações”.

Patrus aponta uma prioridade para as ações de oposição ao novo governo: “Neste primeiro momento a nossa preocupação é com o destino do Brasil. O respeito aos direitos fundamentais, ao estado de direito, quais as políticas públicas o que nós vamos oferecer e que sociedade queremos construir? Quais são os valores fundamentais?” E reponde: “O valor fundamental é a vida. É proteger a vida, desde alimentação, segurança alimentar, trabalho, moradia, saúde, etc.”.

Também propõe um forte trabalho de arregimentação: “Trazermos as pessoas para o debate político. Levantarmos a questão de desenvolvimento partidário regional, sem perdermos vista do projeto estratégico, atentarmos também às potencialidades das macrorregiões, trabalhar suas potencialidades, suas vocações, articular-se com Igrejas, universidades, trabalhadores, empresários. Eleger vereadores e prefeitos, já com uma nova leitura de projetos para seus territórios”.

O parlamentar mineiro tem uma detalhada agenda para o desenvolvimento de seu partido: “Fundamental também é definirmos o que nós vamos fazer nos próximos anos.  A oposição aos governos estadual e federal. Oposição firme no campo democrático, fazermos as mediações, estabelecer em que espaço a gente pode existir na sociedade? Temos desafios muito rigorosos de retomar nossos temas fundamentais. Porque um país como o Brasil, com as dimensões continentais não se encontrou? Onde estão as travas do Brasil? Privatização é a negação da construção de um país”, diz já se referindo ao novo governo federal.

Ele sugere táticas para pôr em prática a oposição: “Sou cuidadoso neste sentido. Penso que nós o PT e as forças do campo democrático (esquerda) temos de trabalhar com cenários. Esse cenário de seis meses é impossível. Trabalho com o cenário do voo de galinha, aquilo que a ditadura conseguiu com o Milagre Econômico, de 68 a 73,74”, prevendo que o desempenho da gestão Bolsonaro deverá se esgotar rapidamente.

Na parte política, ele é um tanto pessimista: “Nós estamos vivendo um golpe. Até onde vai esse golpe? Concretamente se materializa em 2016, como afastamento da presidente Dilma Rousseff. Depois prenderam Lula, a maior liderança do país. Eu como advogado como professor de direito vejo isso como uma afronta. Terceiro: o congelamento de gastos, o chamado teto de gastos. A seguir, a reforma trabalhista. Conquistas históricas foram por terra. Retira-se dinheiro dos trabalhadores para aumentar o lucro. A tendência é que eles aprovem no Congresso as privatizações. Sou um mineiro apaixonado por MG, mas a minha preocupação maior hoje como deputado federal é com o Brasil.

Sobre o novo governante, Patrus é ponderado: Não subestimo ninguém. Há um processo de um golpe diferente. Eles não colocaram tanque na rua por enquanto. Como vivemos numa época demagógica, inicia-se com a negação da política. Considero, no caso do Brasil, que há interesses muito poderosos e esses interesses não podem ser subestimados. E eles podem apertar o cerco. Vão implantar o autoritarismo através dos processos legais, do legislativo. Pela via legislativa”.

Patrus se declara ativo e atento: “Tenho 67 anos. Gosto muito de ler e estudar (cita sua leitura do momento, o livro do jornalista Barbosa Lima sobrinho, “O Capital se faz em Casa”, sobre o nacionalismo japonês). Quero continuar dando minha contribuição. Tenho 53 anos de militância política. Comecei com 13 e 14 anos. Quero continuar dando, através de palavras e atos”.

José Antônio Severo, Agência Digital News

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