247 – O jornal Folha de S. Paulo, que também fez campanha pelo golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff e pela prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrou aos seus leitores, de forma cabal, que anda de mãos dadas com a grande corrupção, ao publicar reportagem tímida sobre os Pandora Papers, na qual aponta que especialistas apontam “possível conflito de interesses” nas contas mantidas por Paulo Guedes e Roberto Campos Neto em paraísos fiscais, que servem justamente para esconder recursos ilícitos e para sonegar impostos. No caso de Guedes e Campos Neto, o conflito de interesses é evidente, uma vez que ambos são responsáveis pela política cambial e lucram com alta do dólar, enquanto os brasileiros sofrem com inflação alta, disparada dos combustíveis e escassez de alimentos. Guedes é também responsável pela política tributária e comanda a Receita Federal, que deveria investigar as fortunas de brasileiros em paraísos fiscais. Abaixo, a reportagem da Agência Pública:
Da Agência Pública – No dia 24 de setembro de 2014, com o mercado financeiro cada vez mais agitado diante da iminência da reeleição de Dilma Rousseff (PT), o Banco Central interveio para conter a alta do dólar. No dia seguinte, o economista Paulo Guedes, então sócio da gestora de recursos Bozano Investimentos, tomou uma providência para manter parte da sua fortuna longe das turbulências da economia brasileira: fundou a Dreadnoughts International, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Nos meses seguintes, Guedes aportou na conta da offshore, aberta numa agência do banco Crédit Suisse, em Nova York, a quantia de 9,55 milhões de dólares, o equivalente a 23 milhões de reais na época (no câmbio atual, o valor hoje corresponde a 50 milhões de reais).
A abertura de uma offshore ou de contas no exterior não é ilegal, desde que o saldo mantido lá fora seja declarado à Receita Federal e ao Banco Central. Mas, no caso de servidores públicos, a situação é diferente. O artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, instituído em 2000, proíbe funcionários do alto escalão de manter aplicações financeiras, no Brasil ou no exterior, passíveis de ser afetadas por políticas governamentais. A proibição não se refere a toda e qualquer política oficial, mas apenas àquelas sobre as quais “a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função”. Em janeiro de 2019, cinco anos depois de abrir a offshore e depositar 9,55 milhões de dólares, Guedes virou o principal fiador do governo Bolsonaro e assumiu o cargo de ministro da Economia, sob cuja responsabilidade está um enorme leque de decisões capazes de afetar seus próprios investimentos no exterior.
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