Quando se acusa o governo de culpado pela alta inflação, ele se defende, afirmando que os preços estão elevados por causa da pandemia, seguida pelo conflito na Ucrânia, iniciado em 20 de fevereiro deste ano.
Esses dois fatores, juntos, são responsáveis pelo aumento dos preços que se observa atualmente em vários países do mundo.
De fato, durante os lockdowns, muitos bens essenciais deixaram de ser produzidos, o que reduziu a oferta deles, resultando na elevação dos preços.
Soma-se a isso, a alta mundial no preço do petróleo, produto que entra como componente em grande parte da produção dos países e resulta num aumento de preços ao longo de toda a cadeia de suprimentos.
Além do mais, a guerra entre Rússia e Ucrânia, responsáveis por grande porcentagem mundial do fornecimento de trigo, reduziu a produção desse bem, fazendo com que os países busquem por novos fornecedores, inclusive a Argentina, tradicional fornecedor de trigo para o Brasil.
Toda essa explicação está correta, e todas essas variáveis devem ser consideradas quando tentamos explicar a atual elevação dos preços, que tem feito pessoas fazerem filas para comprar ossos e outras se queimarem com álcool por não conseguirem comprar um botijão de gás.
Entretanto, existem outros fatores os quais, se fossem evitados, certamente os preços não estariam tão altos como agora.
Em primeiro lugar, o Brasil tem um histórico de inflação inercial, fazendo com que os índices de preços dos períodos anteriores também entrem na determinação dos componentes da inflação.
Mesmo antes da pandemia, os preços já vinham aumentando.
Com a política de preços da Petrobras somada à política cambial,que permitiu que a taxa de câmbio se elevasse, foi potencializada pela alta nos preços das commodities, em especial o petróleo, o que gerou uma reação em cadeia nos preços.
Quanto aos alimentos, o governo fechou diversos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os quais garantiam a oferta de alimentos em época de baixa oferta – os chamados estoques reguladores.
Não havendo estoque regulador, os preços dos alimentos básicos e, consequentemente, a segurança alimentar de milhões de famílias ficam expostos às mais diversas contingências: os preços internacionais, o clima e o próprio mercado.
A esta altura, podemos responder a pergunta: “o governo é responsável pelo atual aumento de preços?”.
A resposta é: em grande parte sim.
Apesar dos eventos externos – chamados em economia de variáveis exógenas -, uma parcela significativa dos preços é de responsabilidade do governo atual que:
(i) manteve a política de preços da Petrobras criada em 2016 no governo de Michel Temer; e
(ii) desmontou os estoques reguladores de alimentos essenciais para os mais pobres.
Qualquer esforço do governo que não toque esses dois problemas será completamente inócuo.
A atual proposta de se reduzir o ICMS dos combustíveis, além de oferecer uma solução de curto prazo, provocará dificuldades muito maiores ao próprio governo federal, aos estados e não resolverá o problema dos 33 milhões de pessoas que estão em situação de miséria no país.
*Emerson Iaskio é economista e doutorando em Políticas Públicas pela UFPR.
*Israel Gonçalves é cientista político e doutorando em Sociologia Econômica pela UFSC.
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