Jair Bolsonaro e general general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército
Quando um pilar histórico das Forças Armadas. como a disciplina, é ignorado por seus próprios comandantes cai junto a autoridade para combater a anarquia nos quartéis. O país tem que dar um basta nisso.
Andrei Meireles
Diante de uma situação adversa é até compreensível a gente se autoenganar. Mas isso dura pouco quando é apenas ilusão. As cada vezes mais frequentes declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o “meu Exército” foram amenizadas como figura de linguagem. A partir dessa quinta-feira (3), com a humilhante rendição do Exército, que passou o pano na transgressão do general Eduardo Pazuello ao princípio basilar da disciplina militar, tudo isso foi pro sal.
O Exército brasileiro ignorou posturas históricas para atender a mais uma jogada da estratégia autoritária de Bolsonaro. Assim, a descrição mais adequada na língua portuguesa é outra. O que foi vendido como figura de linguagem se transformou em um objetivo e bem aplicado pronome possessivo. Bolsonaro, de papel passado, virou dono do Exército.
O ministro Fernando Azevedo e os comandantes da Marinha, almirante Ilques Barbosa; do Exército, general Leal Pujol, e da Aeronáutica, brigadeiro Moretti Bermudez – Foto Orlando Brito
Mas isso vem lá de trás, quando no final de março Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e os comandantes do Exército, general Edson Pujol, da Marinha, almirante Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, brigadeiro Antônio Carlos Bermudez. O que ali mais ou menos acalmou a situação foi a informação repassada por inúmeras fontes militares a outros poderes da República e à imprensa de que a escolha do general Paulo Sérgio Nogueira para o comando do Exército era uma garantia de que as aventuras golpistas de Bolsonaro continuariam sem respaldo.
Pura balela. O preço da rendição do general Paulo Sérgio — pouco importa a justificativa de que ele se preservou no cargo para evitar um mal pior no futuro — foi abrir as guaritas do Exército e de todas as outras forças militares, inclusive as PMs, para o jogo de Bolsonaro de tentar melar sua previsível derrota nas eleições presidenciais ano que vem.
Ele tem a pretensão de chefiar um golpe de Estado que seja mais bem sucedido que o do seu guru Donald Trump nos Estados Unidos. O problema é que lá e aqui o buraco é mais embaixo. A rendição do comandante Paulo Sérgio, pouca importa suas intenções, pegou muito mal para militares que levam a carreira a sério estando na ativa ou na reserva. Recebeu censuras explícitas e implícitas.
Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão – Foto Orlando Brito
O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, que vinha defendendo a punição de Pazuello como um antídoto “a anarquia nos quartéis”, fez uma censura muda, que pareceu um recado sutil: “Não irei comentar por uma questão de disciplina intelectual, pois como general da reserva também sou subordinado ao comandante do Exército brasileiro”. Mais explícito, o general Paulo Chagas, o candidato do bolsonarismo ao governo de Brasília em 2018, pôs o dedo na ferida: “Não tenho dúvida de que isso vai causar indisciplina no Exército”.
General Sérgio Etchegoyen Foto Orlando Brito
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