Para compreendermos o que é Capitalismo ou quem são os verdadeiros capitalistas, precisamos primeiramente entender o que é um bem capital para desta maneira entendermos se a maioria de nós que se diz capitalista o é de fato e de verdade.
Capital é o bem que em uma economia viabilliza, media e potencializa a produção. Por exemplo, se eu sou um construtor o meu bem capital se constitui de um martelo, de uma colher de pedreiro, de uma pá e etc. Se você é um um professor o teu bem capital é a tua caneta piloto, o teu apagador, os teu diários e etc. E se nós somos comerciantes ou industriais o nosso bem capital é o balcão da nossa loja, os computadores da nossa empresa, as esteiras da nossa fábrica e etc.
Em praticamente toda a trajetória humana sobre a terra sempre existiram bens capitais. Afinal de contas os homens desde a pré_história sempre necessitaram de anzóis para possibilitar a pesca, sempre precisaram de flechas e lanças para mediar a caça e sempre necessitaram de arados para viabilizar a agricultura. Mas por que a presença de todos esses bens capitais não engendrou o nascimento histórico do indivíduo capitalista?
A resposta à pergunta acima está na ênfase que era dada ao capital até meados do fim da Idade Média e principalmente até meados da aurora da Revolução Industrial. Pois as possibilidades da produção até esses tempos eram muito mais voltadas para a confecção artesanal de todos os bens. Mas o fato de Leonardo da Vinci ter projetado o arquétipo do primeiro helicóptero, o fato de Gutemberg ter inventado a primeira impressora e o fato de René Descartes ter falado do corpo do homem como”a máquina humana” já demonstrava sinais do surgimento de uma nova maneira das pessoas se relacionarem com a produção, através da Mecânica. O Mecanicismo por sua vez realizou um gradativo e produtivo diálogo com as Ciências Experimentais pós galileana que unidas vão criar fenômenos industriais como a máquina a vapor, descoberta que foi definitiva no aparecimento de uma nova sociedade, a sociedade industrial promovida pela industrialização da vida e das condições humanas. São nessas relações que surge o indivíduo capitalista acumulando bens capitais que por serem de investimento muito mais que os investimentos das oficinas artesanais, vão se concentrar nas mãos de grupos minoritário de investidores economicamente mais habilitados, os verdadeiros capitalistas.
Hoje em dia e por falta de maiores esclarecimentos, é muito comum que algumas muitas pessoas se declarem capitalistas também. Mas quando esse termo surgiu nos idos do século XIX o mesmo se referia unicamente aos detentores dos meios de produção na aurora da formação da sociedade industrial. Ou seja, aos que detinham suficiente quantidade e suficiente qualidade de bens capitais para com isso não ter que viver direta e unicamente do trabalho como é o caso do trabalhador comum que por não ser proprietário de bens capitais dispõe apenas de um bem, o seu corpo como moeda de troca perante o potencial do capital. Neste caso, qual é a possibilidade da maioria de nós que acordamos as vezes as seis, as vezes as cinco e as vezes até as quatro horas da madrugada para trabalhar de sermos capitalistas sem sermos proprietários dos mais relevantes bens capitais?
Evidentemente que vivemos em uma sociedade capitalista. Mas leia_se, vivemos em uma sociedade de moral e de ética predominantemente capitalista. Mas é muito importante salientar que os capitalistas não somos nós que trabalhamos simplesmente. Pois é o nosso corpo que predomina nas relações trabalhistas que temos, e não o capital.
Talvez a instituição onde trabalhamos seja de propriedade de autênticos capitalistas. Isso se os mesmos não necessitarem diretamente do emprego de força física no empreendimento, alienando capital e trabalho. Pois não confundamos capitalista com empreendedor simplesmente e não confundamos capitalista com autônomo. Pois todo capitalista é um empreendedor, mas nem todoo empreendedor é um capitalista.
Ser um militante consciente ou inconsciente da moral e da ética capitalista é uma coisa, ser um legítimo participante da elite capitalista é outra coisa. Pois essa ética que está na base do tripé da sociedade industrial se regula através do trabalho, da produção e do consumo. Todos em comum acordo em busca da meritocracia da produção e o seu paraíso edênico, o lucro e o consumo. E finalmente essa sociedade industrial realizará a ação justificadora que faz da mesma uma sociedade capitalista, pois o excedente da produção será investido majoritariamente na saúde do capital para que o mesmo permaneça na vanguarda do modelo econômico.
A grande diferença é que na aurora da sociedade industrial, tanto capitalistas como trabalhadores sabiam muito bem que lugar eles ocupavam na pirâmide social. Pois os capitalistas militavam explicitamente em favor de maiores e sempre maiores investimentos no capital, ao passo que os trabalhadores procuravam se mobilizar pela conquista de direitos civis, políticos e sociais. Mas como a princípio a luta dos trabalhadores estava muito relacionada a movimentos da esquerda comunista, fenômenos como a queda do Muro de Berlim, a abertura do mercado chinês e a Perestroika e a glassnot russa evidenciaram a vitória do bloco capitalista pós guerra fria. Com isso os trabalhadores se viram gradativamente sem uma referência intelectual para embasar as suas demandas, gerando uma verdadeira esquizofrenia sociológica. Pois principalmente em países periféricos afetados pelo neoliberalismo como é o caso do Brasil, o Capitalismo conseguiu uma proeza que foi simplesmente um xeque mate histórico, conseguir convencer a maioria esmagadora dos trabalhadores de que eles são uma espécie muito exótica de capitalistas sem capital. E nós acreditamos.
Hoje no Brasil e talvez quase no mundo inteiro percebemos os efeitos nefastos dessa falta de identificação dos trabalhadores com as suas causas. Por exemplo, hoje a união de grupos de trabalhadores por conquistas e manutenção de direitos sociais tem sido equivocadamente confundida com exteriótipos do Comunismo Soviético e cubano, como se ser de esquerda fosse um crime político contra a suposta direita capitalista. Antigamente grupos de trabalhadores questionavam estruturas de poder que eram hostis à conquista de direitos do operariado. Mas hoje percebemos que enquanto um direitoloides qualquer chama alguém de seu comunista! e um esquerdopata por aí o ofende chamando_o de seu coxinha! ambos se esquecem que nem o esquerdopata é um comunista e nem o direitoloides é capitalista Mas ambos são uma coisa só na sua maioria esmagadora, trabalhadores sem causa as vezes brigando entre si.
Precisamos voltar a discutir o papel da nossa luta em plena revolução digital do capitalismo no século XXl. Sobretudo em um país elitista como é o nosso onde um indivíduo compra um apartamento para ser pago em vinte anos e se julga capitalista. Sobretudo em um país elitista como é o nosso onde um indivíduo empreende quase uma batalha diária para pagar a prestação do seu automóvel do ano com os maiores juros do mundo e se julga capitalista. Sobretudo em um país elitista como é o nosso onde o indivíduo se desgasta anualmente para pagar a prestação e os juros do cartão das suas viagens internacionais e se julga a elite capitalista. Mas de fato e de verdade, tem algum capitalista aí?
Eldon de A Rosamasson
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