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Além de se tornar fornecedor de carne humana para Putin, Trump dá as costas para os grandes credores dos EUA. Credores e investidores

Para forçar a Ucrânia a aceitar a rendição à Rússia, o aliado de Putin Donald Trump suspendeu a ajuda militar ao país. A “pausa” poderá resultar na morte adicional de milhares de civis ucranianos, visto que compromete a defesa aérea contra os constantes e cada vez mais intensos ataques russos a áreas residenciais e infraestrutura energética.

Donald Trump se torna oficialmente, assim, fornecedor de carne humana ao açougue do ditador russo.

Parece inteligente tentar encontrar uma lógica nas atitudes do presidente americano. Pois não há lógica nenhuma e, quando há algum resquício de lógica no seu conteúdo, ela é cancelada pela forma brutal com a qual as decisões são implementadas.

No caso da Ucrânia, se é fato que os Estados Unidos não têm mais condição econômica de ser a polícia do mundo, não é menos verdadeiro que o mundo não pode ser deixado nas mãos de criminosos como Vladimir Putin.Play Video

O ditador russo não irá se contentar com naco do território ucraniano. Desde que assumiu, ele contou com a ingenuidade e o laxismo ocidentais para promover uma guerra híbrida contra os Estados Unidos e a Europa, alimentando dissensões internas, interferindo em processos eleitorais e realizando ataques cibernéticos contra instituições.

O seu objetivo expresso é ressuscitar o império soviético com a anexação de territórios que dele faziam parte, como já fez em relação a partes da Geórgia e da Ucrânia, e a recriação de uma área de influência na Europa que alcançaria a Polônia, a Romênia e a Hungria, tornando essas nações satélites russos outra vez.

É loucura do século XX com método do século XXI.

Um mundo novamente dividido pelas fronteiras da Guerra Fria — e coloquemos também, inevitavelmente, as pretensões chinesas no tabuleiro — é um mundo mais tenso, perigoso e ruim para o capitalismo, porque implicaria necessariamente uma alocação maior de capital para indústria bélica.

No curto prazo, uma economia de guerra cria oportunidades nas áreas que lhe são subjacentes; no médio e longo prazo, suga energia e recursos que deveriam estar direcionados para o aumento do bem-estar e do consumo da população. A paz a qualquer preço tem preço muito mais elevado.

Se o guarda-chuva militar americano sobre a Europa é fardo pesado demais para os pagadores de impostos nos Estados Unidos, é simplesmente burro fechá-lo. Trata-se de dividir o seu custo com os europeus.

Na estimativa mais realista, a Europa demoraria dez anos para substituir a defesa americana no continente. Se Donald Trump tivesse um mínimo de racionalidade, montaria um plano conjunto para que essa substituição ocorresse, com evidentes vantagens para a indústria bélica dos Estados Unidos, uma vez que ela poderia ser provedora confiável dos aliados históricos do país — esses mesmo aliados que o presidente americano acho que pode tratar como servos.

Assim como as relações humanas, as relações internacionais têm na confiança o seu cimento. Donald Trump está destruindo esse cimento, e as consequências negativas disso não demorarão a ser sentidas pelos americanos.

Os analistas que querem parecer inteligentes gostam de pintar as nações europeias como decadentes, mal geridas e destinadas ao apocalipse demográfico. Esses problemas existem, mas o seu super dimensionamento é uma irrealidade.

A União Europeia é o maior bloco comercial do mundo. Conta com riqueza material e humana que não deve ser menosprezada. É uma ilusão imaginar que, sem a Europa, as empresas americanas ficariam muito bem, obrigado.

Donald Trump disse, com a elegância que lhe é peculiar, que a “União Europeia foi criada para nos foder”. É mentira. Ele quer impor tarifas comerciais a países que têm papel fundamental para o crescimento da economia dos Estados Unidos. É falsa a ideia de que a Europa é uma exploradora dos coitados dos americanos.

Pegue-se o caso dos direitos de propriedade intelectual. Como mostra o jornalista italiano Federico Furbini, com base em dados do Banco Central Europeu e do relatório Breton Woods 3.0, de Gilles Moëc, economista-chefe da Axa Group, os americanos multiplicam os seus ganhos “todas as vezes que, em Roma, Milão, Paris e Berlim, alguém dá cinco euros ao Facebook para divulgar um post, assina o ChatGPT, compra a licença de um software da Microsoft, ativa um WhatsApp Business, aluga um quarto pelo AirB&B, usa o Youtube ou o X ou se inscreve na Amazon Prime Video ou na Netflix para assistir a uma série”.

Para se ter ideia do que isso significa, o saldo da balança de pagamentos entre Estados Unidos e a Zona do Euro, em 2019, era deficitário para os americanos em US$ 124 bilhões, por causa da importação de carros, maquinário, roupas e bebidas. Hoje, o déficit é europeu. Está em quase US$ 20 bilhões e continua a crescer.

O motivo não é material, mas imaterial, digamos assim: há cinco anos, os Estados Unidos vendiam para a Europa US$ 15 bilhões em produtos digitais. Em 2023, esse total subiu para US$ 128,5 bilhões. Sim, oito vezes mais.

Travar uma guerra comercial contra essa Europa que gasta o dinheiro que ganha por meio da exportação de produtos materiais para os Estados Unidos com a importação de produtos imateriais americanos não é apenas ilógico. É estúpido.

Há outro ponto levantado pelo economista Gilles Moëc, cujo relatório é um raio de luz na escuridão trumpista: os europeus substituíram os chineses e os japoneses como os maiores credores externos dos Estados Unidos. A economia que Donald Trump quer golpear é a que sustenta, hoje, o modo de vida americano.

A exposição dos investidores europeus aos títulos americanos quadruplicou nos últimos dez anos. Passou de US$ 3,6 trilhões, em 2013, para US$ 13,1 trilhões, em 2024, quase o valor do PIB da União Europeia. Há quem diga que as sanções comerciais são um bode na sala que Donald Trump colocou para que os europeus aumentem essa exposição. Chantagem nunca foi um modo esperto de tocar os negócios.

Mais: na Bolsa de Nova York, há uma década, as ações nas mãos de investidores europeus totalizavam US$ 1,8 trilhão . Hoje, esse valor está em US$ 6,5 trilhões, um quarto do incremento graças ao dinheiro que atravessou o Atlântico Norte; três quartos por causa do aumento do preço das ações. Não é um exagero dizer que os investimentos europeus deram um bom empurrão para que as Big Techs americanas alcançassem um imenso valor de mercado.

Os cretinos da direita que cresceu sob os auspícios de Vladimir Putin criticam o “globalismo” como a raiz de todos os males que afetam o planeta. Planetária é a miopia dessa gente.

A interdependência entre as economias é fato incancelável, os Estados Unidos não conseguem crescer sem a Europa e vice-versa, a Europa precisa ser protegida da Rússia, o Ocidente não pode transigir com um psicopata como Vladimir Putin, sob pena também de alimentar o imperialismo chinês. Negar tal realidade é ruim para a democracia em todas as latitudes e péssimo para o capitalismo, inclusive o americano. É que o Donald Trump está fazendo ao trair a Ucrânia, sinalizar que abandonará os europeus e fornecer carne humana ao açougue de Vladimir Putin.

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