LULA, A LAVA JATO E UM PERÍODO QUE PRECISA SER PASSADO A LIMPO
Por Eliara Santana*
Ontem (02-03), com a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, caiu a 24ª e última acusação contra o ex-presidente Lula.
Desde 2016 – quando os grupos de elite decidiram que era necessário interromper a trajetória de ascensão, ainda que tímida, de grupos populares, de governos alinhados a demandas populares, de governos de centro-esquerda no Brasil – Lula e Dilma estavam totalmente na mira.
Primeiro, articulou-se e construiu-se o golpe fantasiado de impeachment, deflagrado pelo posicionamento torpe de Aécio Neves, golpe que destituiu do poder, sem crime de responsabilidade, a primeira mulher eleita presidente da República.
Foi preciso mesmo um malabarismo muito bom para convencer a população de que Dilma, a presidente que instituiu a PEC das domésticas, o Ciência sem Fronteiras e diminuiu na marra os juros bancários dos bancos públicos, fosse corrupta e inapta – inventou-se então a pedalada fiscal, artifício tão ridículo e insustentável que foi necessário construir uma narrativa midiática potente para sustentar o argumento pífio e produzir uma opinião publicizada de apoio.
A mídia, ancorada pela Lava Jato e vice-versa, fez então um trabalho contínuo, intenso, bem estruturado, abusando dos grandes temas crise econômica e corrupção, preenchendo espaços de informação com imagens de canos carcomidos em fundo vermelho e muita grana escoando.
Para enfeitar, patos amarelos, sob os auspícios da maior federação de indústrias do país, situada no berço do Tucanistão, invadiam as avenidas da grande metrópole e faziam dancinhas ridículas embalados pela cantoria “Fora, Dilma; fora, Lula; fora PT”.
Concluído o impeachment, era preciso, então, eliminar qualquer possibilidade de o PT voltar ao poder.
Portanto, era preciso extirpar, tirar de cena o possível candidato Luiz Inácio. E era preciso fazê-lo de modo a não deixar dúvidas de que ele era um mal para o país.
De novo, o conluio mídia e Lava Jato tratou de produzir simbolicamente os “escândalos” e as denúncias de corrupção capazes de criar o inimigo comum a ser combatido pelos cidadãos de bem da grande pátria brasileira. E assim o fizeram.
Da condução coercitiva (04-3-2016) ao vazamento de conversas que incluíam a presidente (16-03-2016), passando pelas várias denúncias de corrupção passiva e tráfico de influência, Lula foi desconstruído como o presidente que tirou milhões de brasileiros da miséria e levou o país a se tornar a sexta economia mundial e reconstruído como um corrupto inimigo da nação.
Foram horas e horas e horas de fundo vermelho, cano carcomido e muito dinheiro saindo pelo cano – a cor vermelha passou a ser um gatilho de ódio. E tudo culminou com o decreto, em 5 de abril de 2018, da prisão de Lula pelo ex-juiz, ex-ministro e ex-opção da terceira via, Sergio Moro.
Parecia que ali estava finalmente resolvida a questão – e a cena final da reportagem do JN de 7 de abril, quando Lula se entrega à polícia política de Moro, com o avião com o ex-presidente sumindo nos céus de Sampa rumo a Curitiba, marcava a tentativa de silenciamento de um período histórico para a reconstrução de outro, mais ao gosto da elite “casa grande e senzala”.
Nesse tempo, Michel Temer, o vice golpista, tentava construir a ponte para o futuro, mas os sinais eram de um passado que não ia agradar os brasileiros – inflação, desemprego, crise de verdade.
Tudo piora, e chega 2018; uma onda avassaladora de desinformação, fake news, falseamento, ressignificação de tudo, ao lado da leniência da mídia corporativa, do judiciário e do apoio financeiro da elite contribuíram para colocar no poder o que havia de pior em termos de civilização – o Brasil elegeu um ogro machista, misógino, incomível, atrelado às milícias.
Um governo embalado por fake news e retrocesso civilizatório, que destruiu tudo o que havia sido construído em termos de políticas públicas, de mínimo estado de bem-estar, que deixou a floresta ser atacada e destruída, que deixou a boiada passar, que deixou o garimpo atacar as populações indígenas, um governo que não comprou vacinas e deixou a população se entupir de remédio pra verme na pandemia.
O Brasil dos tais “cidadãos de bem” se tornou esse país triste, ensimesmado, meio carrancudo, que vê agora seus filhos comendo pé de galinha e morando nas ruas. Passamos a brigar para ter vacina. Passamos a brigar para mostrar às pessoas que remédio pra verme não combate vírus. Retrocedemos muito.
Mas o mar da história é agitado. E o que parecia tão desgraçadamente sem rumo começa a mudar; Lula sai da prisão; o STF reconhece que o juiz, afinal, não tinha condições de julgar; a CPI mostra que o governo de Jair, o incomível, deixou os brasileiros morrerem à míngua na pandemia. E a conspiração do universo age no modo intenso; uma a uma, caem por terra todas as ações contra o ex-presidente Lula. E de alguma forma, apesar de ter de enfrentar uma salada de chuchu, o Brasil volta a ter esperança e já sonha com o churrasco de domingo.
Ontem, quando li a notícia da decisão de Lewandowski, senti uma alegria imensa. E esse resumo é pra sintetizar a alegria e, sobretudo, dizer que não podemos esquecer.
Não tenho rancor, mas acho que precisamos ter memória. Foi um período muito duro, desde 2016.
Mergulhei fundo porque fazia a tese, e era sobre isso, e tinha quase ânsia de vômito a cada reportagem com o cano carcomido. Tinha vontade de gritar ao ver aquela parceria indecente entre mídia e Lava Jato.
Indecente porque marcava com ferro a democracia brasileira, detonava a Petrobras, nossa galinha dos ovos de ouro, estrangulava a tentativa bem tímida de fazer deste país um lugar um pouquinho melhor.
Chegamos a 2022. Seis anos depois do golpe, muita coisa veio à tona. Mas muita coisa está ainda submersa; a Caixa de Pandora foi aberta liberando o que há de pior, não será fácil. A vida quer da gente é coragem. Sigamos, muito atentos.
*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/MG
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