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Presidente eleito diz que taxará produtos do BRICS em 100% caso o bloco crie uma moeda comercial alternativa ao dólar; especialistas indicam que se a ameaça se concretizar haverá disparada da inflação nos EUA e alertam para momento de decadência do país

A ameaça do futuro presidente de extrema direita sinaliza para muitos retrocessos na diplomacia dos EUA

Antes mesmo de assumir a presidência dos Estados Unidos, o magnata republicano Donald Trump já deu o tom de como será a guerra comercial contra a China e o Sul-Global durante seu mandato. Em publicação na rede social X, neste fim de semana, Trump ameaçou abertamente os países do Brics com taxação de 100% sobre os produtos exportados pelo bloco, caso os membros resolvam levar adiante a criação de uma nova moeda que substitua o dólar no comércio internacional.

“A ideia de que os países do BRICS tentam se distanciar do dólar enquanto nós esperamos e assistimos ACABOU. Nós exigimos o compromisso destes países de que eles não irão criar uma nova moeda do BRICS, nem apoiar qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar, ou eles vão enfrentar tarifas de 100% e dar adeus para as vendas à nossa maravilhosa economia”, esbravejou o empresário.

“Eles podem encontrar outro ‘otário’! Não existe nenhuma chance de os BRICS substituírem o dólar no comércio internacional e qualquer país que tentar deve dizer adeus à América”, acrescentou Trump.

Reações de Rússia e China

A intimidação não foi bem recebida pela Rússia, membro-fundador do Brics, que reagiu às falas do futuro presidente dos EUA. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, avisou, nesta segunda-feira (2), que qualquer tentativa de Trump de obrigar os países do Brics a utilizarem o dólar “será um tiro pela culatra”. Peskov lembrou que a moeda estadunidense vem perdendo, em ritmo acelerado, sua relevância no mundo.

A China, por sua vez, condenou as bravatas do empresário extremista e a tentativa de Washington de lançar mão do dólar como arma econômica, desestabilizando a economia global.

“Os EUA se utilizaram amplamente da hegemonia do dólar para mudar crises, espalhar a inflação do país para outras partes do mundo e a tornou uma ferramenta geopolítica, que destrói a estabilidade econômica e financeira global e perturba a ordem internacional”, rebateu Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China na capital estadunidense, à Newsweek.

As ameaças do republicano também fizeram o dólar disparar. Por volta das 14h desta segunda, o comercial era negociado a R$ 6,07. O turismo atingiu R$ 6,30.

Tiro no pé

Os EUA mantém déficit comercial de US$ 433 bilhões com os países do Brics, responsáveis por fornecer itens essenciais, entre eles, medicamentos, equipamentos médicos e até minerais de terras raras. As exportações estadunidenses (petróleo, automóveis e armas), por outro lado, enfrentam forte concorrência no mercado internacional. Em meio a este cenário, 65% das trocas comerciais entre os membros do bloco já são feitas em moedas locais.

Professor emérito da Universidade de Massachusetts Amherst, o economista Richard D. Wolff advertiu para as consequências do contencioso comercial prometido por Trump, em entrevista ao The Real News Network, há pouco menos de uma semana. A população dos EUA encara alta persistente dos preços, um dos fatores para a derrota do democrata e ainda presidente, Joe Biden, na corrida à reeleição.

“Ele {Trump} disse: ‘eu vou atingir os chineses com uma tarifa’. Isso mostra que ele é ou um vigarista ou um ignorante […] E aqui está a ironia: isso fará a inflação neste país sair do controle e é por isso que ele não pode fazê-lo. Porque o preço de tudo subirá”, explicou o economista, antes de mencionar produtos simples, como café e açúcar, que precisam ser importados para dar conta do mercado interno.

Na mesma linha, o economista britânico Rodney Shakespeare, cofundador do Movimento pela Justiça Global, disse ao site Sputnik que os maiores prejudicados pelo ‘tarifaço’ contra o Sul-Global seriam os próprios estadunidenses. “Se os EUA prosseguirem com uma grande guerra comercial contra os Brics, coletivamente ou individualmente, pode ser uma guerra que os EUA perderão”, ponderou.

A decadência dos Estados Unidos

À TV Fórum, no sábado (30), o economista Paulo Nogueira Batista abordou a decadência do império estadunidense. “Não existe ordem internacional mais, já há algum tempo não existe. O que existe é uma estrutura de poder, decadente, mas ainda grande, que é esse ‘condomínio Atlântico Norte’: militar, na Otan; econômico, no FMI, no Banco Mundial, no dólar, no swift, que é o sistema de pagamentos”, argumentou.

“E esse sistema […], eu estou convencido, cada vez mais, que não tem reforma possível […] Os Brics, se quiserem fazer alguma coisa de útil, devem parar de falar em ‘mudança da governança global’ e entender que o sistema que está aí não vai prestar, vai funcionar mal. Nós temos que construir algo alternativo a isso”, defendeu Nogueira, antes de ponderar que o Brics é a melhor opção para o Brasil no atual rearranjo geopolítico.

O também economista Jeffrey Sachs, que já visitou o gigante asiático 43 vezes, garante: “A China não representa qualquer ameaça à democracia e à segurança dos EUA. A sociedade chinesa coloca seus filhos em escolas americanas. Eles gostam da América, não há animosidade”.

“O que a China fez que tem deixado os EUA loucos é que a China tem sido bem sucedida, só isso, não há nada além disso”, resumiu Sachs, durante entrevista ao podcast Cyrus Janssen.

Com informações do PT Org

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