Dados da Agência Nacional de Aviação (ANAC) indicam que existem 1.260 pistas para pouso e decolagem de aeronaves em condição regular em toda a Amazônia Legal. Esse número, no entanto, fica aquém do total de pistas ilegais na região: 1.269, e contando. Desse total, estima-se que pelo menos 362 tenham relação direta com o garimpo ilegal na floresta.
Sinais do garimpo estão evidentes no entorno de muitas dessas pistas. Barracas, terra revirada, buracos profundos no chão e a presença de equipamentos pesados para derrubada de árvores e mineração do solo. A infraestrutura para aeronaves é essencial para a atividade garimpeira: no meio da Amazônia, isolados de centros urbanos, os garimpeiros encontram no transporte aéreo uma maneira de levar mantimentos para as áreas mineradas, bem como movimentar o ouro garimpado ilegalmente para seus compradores.
Assim, não é uma surpresa que as áreas que concentram as permissões de lavra garimpeira, utilizadas para esquentamento de ouro, também sejam aquelas com o maior número de pistas clandestinas, como os municípios paraenses de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso. Essas áreas também figuram no topo do ranking do desmatamento por mineração, de acordo com dados do MapBiomas relativos a 2020. Só Itaituba e Jacareacanga responderam pela derrubada de mais de 54,3 mil hectares por conta do garimpo naquele ano, uma área superior à cidade de Maceió (AL).
“Não são trabalhadores humildes que usam essas pistas, são grandes empresários”, observou a antropóloga Luísa Molina ao jornalista Hyury Potter no Intercept Brasil. “Se o governo quiser combater de verdade o negócio do ouro ilegal, tem que fiscalizar a cadeia logística por terra, rio e ar. Até porque essa logística não serve apenas para a economia do ouro ilegal, mas também para tráfico de drogas e armas”.
O levantamento desses dados foi feito a partir de dados da Earthrise Media, que reuniu imagens de satélite da região amazônica ao longo do ano passado, processados por meio de uma parceria entre o Intercept Brasil, Pulitzer Center e o jornal norte-americano The New York Times. Este último também publicou uma reportagem interativa que ressalta o avanço do garimpo em Terras Indígenas nos últimos anos e o envolvimento de grupos empresariais na atividade garimpeira na Amazônia.
Em tempo 1: De acordo com Tácio Lorran no Metrópoles, empresários investigados pela Polícia Federal por conexão com o garimpo ilegal em Terras Indígenas tentaram ocultar o patrimônio obtido ilicitamente por meio de criptomoedas, usando contas de laranjas e carteiras frias. Essas operações eram conduzidas por meio da plataforma da Binance, maior corretora de criptomoedas do Brasil e do mundo.
Em tempo 2: Por falar em aplicações virtuais, Phillippe Watanabe informou na Folha que áreas supostamente preservadas por uma empresa que vende NFTs (tokens não fungíveis) associados à proteção da Amazônia registraram desmatamento. A Nemus comercializa NFTs a investidores interessados, com a promessa de que os recursos serão utilizados para manter áreas específicas da floresta em pé – no caso, terrenos no município de Pauini, no sul do Amazonas. “A região embaixo das áreas que eles estão vendendo já tem área desmatada”, assinalou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. “É uma boa ideia captar recursos para conservar a área, mas ela pode morrer por conta desses descuidos”. A empresa não se posicionou sobre a questão.
(Texto originalmente publicado em CLIMAINFO)