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Empresa que se beneficiaria do acerto entre os países tem jazida de nióbio

Bolsonaro divulgou o nióbio quando foi ao Japão, um dos produtos explorados pelo grupo Leros, empresa que seria ligada a Bolsonaro, segundo lobista do Paraguai

Enquanto a velha imprensa brasileira silencia, os jornais do Paraguai continuam dando destaque ao que consideram um dos maiores escândalos de tráfico de influência da história do país.

E o caso respinga em Jair Bolsonaro.

Na edição de hoje, o ABC Color, maior jornal do país, destaca na primeira página a revelação de que as mensagens de um advogado paraguaio citam uma suposta relação da família Bolsonaro com o Grupo Leros, que negociava exclusividade para vender energia excedente do Paraguai no mercado brasileiro.

O advogado Joselo Rodríguez González, que seria ligado ao vice-presidente do Paraguai, Hugo Velásquez, troca mensagens com o então presidente da estatal de energia do país, a Ande, Pedro Ferreira.

Em uma dessas mensagens, fala sobre uma reunião com diretores da Leros e informa:

“Eles vêm como representantes da família presidencial do país vizinho.”

A declaração pode ser apenas bravata de lobista.

É uma hipótese plausível que o advogado estivesse usando o nome de Bolsonaro para conseguir o que queria: a concordância da Ande de conceder à Leros exclusividade na venda de energia do Paraguai para empresas brasileiras.

O que enfraquece essa hipótese numa história nebulosa é que existem outros dois elementos que remetem a Bolsonaro.

Um deles é o suplente do senador Alexandre Luiz Giordano, que ajudou Major Olímpio, titular do mandato, a consolidar o PSL, partido de Bolsonaro, em São Paulo.

Giordano, que é empresário, admite que esteve no Paraguai para tentar abrir uma frente de negócios com a Ande.

Ele não atua no ramo de energia, e, segundo o advogado González, se apresentou como senador brasileiro, além de representante da família Bolsonaro, que seria o nome por trás da Leros.

Em entrevista à Piauí, Giordano negou que tenha se apresentado com essa credenciais e disse que esteve lá prospectando outros negócios, que não especifica.

Giordano é sócio de cinco empresas. Uma delas, de estrutura de ferro, e as outras quatro ligadas à mineração. Ele não tem participação na Leros.

Outro elemento que remete o caso a Bolsonaro é que a empresa que queria exclusividade na venda de energia ao Brasil atua num ramo que é caro ao presidente do Brasil, o nióbio.

O site na empresa informa que uma de suas divisões é a Léros Mining, “o braço do Grupo voltado à mineração.”

Em 2015, o grupo adquiriu a GAR Mineração em Belo Horizonte, que tem jazidas de diamante e nióbio.

Quando esteve na reunião do G20, Bolsonaro divulgou um vídeo em que promoveu o produto. Mostrou uma bijuteria comprada por mil dólares e destacou as qualidades do mineral. “Ninguém tem reação alérgica ao nióbio”, disse.

Com o vídeo inusitado, ele conseguiu desviar um pouco o foco na prisão de um militar com 39 quilos de cocaína no avião da comitiva presidencial, ocorrida dois dias antes. Mas, ao mesmo tempo, promoveu um produto que a Leros vende.

Justamente a Leros, que agora é apresentada no Paraguai como uma empresa ligada à família Bolsonaro.

É estranho. Por enquanto, nada mais do que isso: estranho

Mas é bom reter este nome: Leros.

Da mineração, inclusive nióbio, ao acordo do Brasil com o Paraguai em torno de Itaipu, a Leros tem uma pauta que se confunde com a do governo Bolsonaro.

Ontem, o ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, falando a uma plateia de estudantes, na Faculdade Politécnica da Universidade Nacional de Assunçõ, disse que o escândalo em torno do acordo com o Brasil é uma oportunidade para moralizar não apenas o governo do Paraguai, mas também o do Brasil.

“É hora de colocar a moralidade em todos os aspectos da nossa sociedade”, disse. “Vamos tirar a máscara dos mentirosos e, se possível, ajudar também o país vizinho a moralizar seus governantes ”, acrescentou.

Para alcançar essa moralidade, ele enfatizou, “não temos que importar uma Lava Jato para nosso país”.

Não ficou muito claro se criticava a Lava Jato, mas, quanto a aspectos imorais do acordo entre o Brasil e Paraguai em torno da energia excedente de Itaipu, não houve dúvida alguma.

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