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Tem mais de 40 anos que ouço falar de “união da esquerda”. Só a vi quando quem se encarregava de fazê-la era o povão.

Em 1982, enjoiei de ouvir que nós, os brizolistas, éramos “malucos”. Que ele não tinha chance – os famosos 2% que lhe dava o Ibope – e que todos deveríamos nos unir a Miro Teixeira, então candidato de Chagas Freitas, contra a “Bolsonara” da época, Sandra Cavalcanti.

Verdade que Sandra era de botar medo: lacerdista, ‘ditadurista’ e implicada na política de remoção brutal das favelas, como secretária de (pasmem!) Assistência Social do Corvo Lacerda.

Não é preciso lembrar que o povo carioca e fluminense se levantou numa onda brizolista.

Depois, em 1989, no segundo turno, o comando de Brizola pelo voto em Lula, independente de todas as rusgas que os dois tiveram, produziu a mais impressionante transferência de votos que já se registrou numa campanha presidencial.

Quem fez a unidade, nestas vezes, foi o povão. Em outras, quando se dependeu de lideranças  que pregavam uma esquerda “pura” – pessoas até então muito simpáticas e consideradas –  o que ocorreu foi diferente.

Não é preciso esmiuçar isso, até para não incorrer em comparações pessoais  que não são desejadas e, quase certamente, seriam improcedentes.

Não há nenhum tipo de “união da esquerda” neste país ameaçado que não comece com uma regra: é preciso permitir que Lula seja o candidato e que sobre ele incida o julgamento popular.

Quem coloca candidatura pessoal, arranjos locais, ambições próprias – por mais legítimas que sejam – acima disso é porque não entende que não haverá futuro algum para o povo brasileiro que não seja a crise e a ruptura definitiva das instituições sem que a eleição não reflita, minimamente, a expressão de Lula.

Claro que se estivéssemos diante de eleições “normais”, livres, numa competição entre candidatos e não entre candidatos e alguém que não querem deixar sê-lo, os espaços seriam outros, maiores.

Ou vamos desconhecer que estamos sob um golpe, uma semiditadura e a caminho de tê-la completa?

Unidade, na prática, significa sacrifícios de aspirações – pessoais ou partidárias – e o entendimento que ela se faz entre diferentes, não entre iguais.

O povo brasileiro não pode ser abandonado, neste momento, por quem quiser ter o espírito de “seita” ou mesmo por quem disser que é “o possível”, já que “Lula é impossível”.

Aliar-se aos golpistas não é aceitar os dissidentes e os náufragos do golpe se somarem à resistência. Aderir ao golpismo e, ainda que involuntariamente, ajudar a que se consume seu objetivo central: afastar o povo do Governo, afastando Lula das eleições.

POR FERNANDO BRITO