Nos últimos dias, a situação dos abrigos no Rio Grande do Sul (RS) tem se mostrado extremamente preocupante às mulheres desabrigadas pelas fortes chuvas que atingiram a região. Segundo o Metrópoles, a quantidade de casos de violência de gênero têm tido um aumento significativo.
Uma mulher que preferiu não se identificar contou que ela e sua filha passaram por situações de assédio e violência em um abrigo improvisado em um colégio da zona norte de Porto Alegre. Instaladas em um quarto com sete homens, enfrentaram ameaças e violência psicológica. “Eles falavam que tinham estado na cadeia, que tinham homicídios nas costas e passavam a madrugada falando baixaria, sob o efeito de droga, falando sobre violência. E ficavam nos observando”, relembrou a vítima.
A situação piorou quando começaram os assédios físicos. “Um deles começou a assediar a minha filha de 14 anos. Eu não dormia de noite. Eu passava a noite toda acordada, abraçada nela, vigiando. Uma noite, o homem pensou que ela estava dormindo e veio tocar nela. Aí perguntei o que ele queria, e ele saiu”, contou ao Metrópoles.
A mulher também afirmou que foi apalpada por um dos homens enquanto tentava descansar. Sem encontrar apoio na direção do abrigo e temendo represálias, decidiu sair, mesmo sem um destino certo.
Outra vítima disse que se viu obrigada a procurar o abrigo do Instituto E Se Fosse Você após ser assediada na rua, perto do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Com a casa alagada e separada do companheiro, ela acabou dormindo sob um viaduto. “Senti alguém colocando a mão dentro da minha calça. Ainda bem que acordei na hora, foi horrível”, lembrou ela, que também preferiu não ser identificada.
Uma outra mulher, aos 43 anos, também enfrentou dificuldades. Responsável por duas filhas e uma neta, pediu ajuda após ser resgatada em Eldorado do Sul e acolhida em uma escola no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. Porém, a postura dos homens no local a assustou. “Vi um senhor se masturbando no banheiro feminino. Também teve um rapaz de 30 anos querendo levar as meninas mais novas para o banheiro, e um outro que se ofereceu para trocar o disjuntor enquanto uma moça tomava banho”, recordou.
O Instituto E Se Fosse Você, presidido pela ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PCB), criou espaços de acolhimento dedicados a mulheres e crianças para tentar mitigar esses problemas. Com capacidade para 80 pessoas, o abrigo no bairro Santana, em Porto Alegre, conta atualmente com quase 50 acolhidas e oferece uma realidade um pouco mais segura e confortável.
Gabriele Lanot Gottlieb, vice-presidente do Instituto, explicou que há abrigos onde a situação é extremamente precária, com um chuveiro para cada 200 pessoas. No abrigo do bairro Santana, a média é de um chuveiro para 40 pessoas. “Caíram as paredes, essas situações geralmente ocorrem dentro das casas das pessoas”, afirmou, referindo-se a casos de abusos que muitas vezes já aconteciam nas famílias.
“O que se espera do Estado neste momento é a criação de um sistema de prevenção dentro desses espaços de acolhimento, a fim de que se evite a prática desses crimes”, disse a advogada Thais Constantin. Ela reforça que as denúncias de abusos podem ser feitas via Polícia Militar (190), Polícia Civil (197), Central de Atendimento à Mulher (180) e Disque Denúncia (181).
Uma nova plataforma de denúncia, criada pela Contato Seguro em parceria com a Doc9, chamada SOS RS, também foi lançada. Ela permite que as vítimas façam queixas de forma anônima, que são então encaminhadas para os órgãos competentes.
Com informações do Diário do Centro do Mundo
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