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Toda vez que sai uma notícia ruim na economia, como a queda de 0,2% do PIB do primeiro trimestre, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro diz que não entende nada desse assunto e joga o abacaxi no colo do Posto Ipiranga Paulo Guedes. Mais do que um aparente gesto de humildade de alguém que não teria receio de expor suas limitações, é um jeito de tentar se descolar politicamente do que não está funcionando bem.

Tudo ilusório, evidentemente, já que o eleito foi Bolsonaro, que escolheu Guedes e sua receita ortodoxa – o que, não por acaso, lhe rendeu um decisivo apoio do establishment e do mercado na eleição. Queira ou não, portanto, o presidente é o responsável pelo que se passa na economia e em algum momento será cobrado por isso. Vai defender e segurar a atual política? É a pergunta que mete medo a integrantes da equipe econômica.

O anúncio de uma retração da economia nos três primeiros meses do novo governo – que ainda tem só cinco – não foi surpresa para o público bem informado. Mas deu vida e corpo a críticas, vindas até de economistas simpáticos à receita ortodoxa, de que o ajuste fiscal, puxado pela reforma da Previdência, não será suficiente para reanimar a economia no curto prazo. É grande, inclusive, o risco de a Previdência ser aprovada – hoje há consenso em torno da opinião de que alguma reforma teremos – e nada acontecer no campo do emprego, do consumo e do investimento nos meses seguintes.

Esse é o cenário mais provável, e sua perspectiva vem animando esses economistas a defenderem de forma mais clara medidas de curto prazo para estimular o crescimento e injetar crédito na economia. Esse pessoal não chega a chamar a atual política de aperto fiscal, iniciada no governo Temer, de austericídio, como seus colegas da esquerda, mas começa a reconhecer que, de fato, o ajuste das contas não trará nem emprego e nem consumo por si só. Será preciso tomar outras medidas, tiradas da cartola heterodoxa, e de iniciativa do governo.

O próprio Paulo Guedes responde a esse tipo de pressão quando anuncia os estudos para liberação de contas ativas e inativas do FGTS para injetar algo em torno de R$ 30 bilhões na economia e no consumo. A medida, de sucesso duvidoso segundo especialistas, só seria implementada após a aprovação da Previdência. Mas serve para mostrar o grau de preocupação da ortodoxa equipe com as dificuldades que vem tendo para tirar o país de seu estado inanimado.

Serve, sobretudo, para mostrar que a chapa vai ficando quente para Guedes e sua equipe, e que as cobranças se multiplicam dentro do próprio Palácio do Planalto. O maior desconforto está relacionado à instabilidade do humor presidencial. Se Bolsonaro, que vem ouvindo queixas da área política – que mira as eleições do ano que vem – e de outros setores insatisfeitos, se enche do austericídio e comete mais algum sincericídio?

Por Helena Chagas, para o Divergentese  Jornalistas pela Democracia 

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