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Bolsonaro fracassou no combate à covid. Agora ele pode ter como alvo a democracia brasileira

O Brasil está vivendo um dos piores picos de infecções por covid-19 que o mundo já viu.

Na quarta-feira, registrou 3.869 mortes, um recorde que representou quase um terço de todas as mortes por coronavírus no mundo naquele dia.

Não há fim para a onda à vista: graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados e as medidas de bloqueio necessárias para retardar novas infecções, inclusive de uma variante virulenta que surgiu no Brasil, são praticamente inexistentes.

Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo.

Com alguns no Congresso ameaçando impeachment, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emergindo como um potente adversário nas eleições do ano que vem, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa nesta semana e os principais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica saíram juntos.

Não foram dadas explicações, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, era conhecido por receber tratamento à distância de um presidente que se referiu às Forças Armadas no mês passado como “meus militares”.

O Sr. Bolsonaro escolheu seu ex-chefe de gabinete para substituir o Sr. Azevedo e Silva e nomeou um policial próximo à sua família como o novo ministro da Justiça.

As medidas foram suficientes para levar seis prováveis ​​candidatos à presidência a emitir uma declaração conjunta alertando que “a democracia do Brasil está ameaçada”.

“O claro plano de apoio do Bolsonaro”, escreveu o editor-chefe Brian Winter no Americas Quarterly, “é ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022″.

Embora as instituições democráticas do Brasil sejam relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação, há motivos para preocupação.

Bolsonaro expressou abertamente sua admiração pela ditadura militar que governou o país nas décadas de 1960 e 1970.

Admirador de Donald Trump, ele adotou a tática do ex-presidente dos EUA de alertar sobre fraude nas próximas eleições e exigir que os sistemas de votação eletrônica sejam substituídos por cédulas de papel.

Ele apoiou as alegações de Trump sobre fraude eleitoral, e seu filho, um legislador que visitou Washington, D.C., na véspera de 6 de janeiro, expressou consternação porque o ataque ao Capitólio não teve sucesso.

O Congresso brasileiro pode propor o impeachment de Bolsonaro por sua péssima gestão da pandemia, inclusive minimizar sua gravidade, resistir às medidas de saúde pública e promover curas charlatanescas.

Mas as democracias dos Estados Unidos e da América Latina devem prestar atenção à medida em que as eleições do próximo ano se aproximam — e deixar claro para Bolsonaro que uma interrupção da democracia seria intolerável.

O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo.

Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo.

Editorial do Washington Post

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