Pesquisa do Financial Times revela temores em relação à política econômica de Trump
As políticas protecionistas de Donald Trump, que toma posse neste mês como presidente dos Estados Unidos, levantam sérias preocupações entre economistas globais quanto aos seus impactos no crescimento econômico. Segundo uma pesquisa realizada pelo Financial Times e pela Booth School of Business da Universidade de Chicago, divulgada pela Folha de S. Paulo, a maioria dos especialistas ouvidos acredita que a agenda de Trump pode prejudicar a economia americana a longo prazo, apesar do otimismo inicial de investidores.
A pesquisa, que ouviu mais de 220 economistas de diversas regiões, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Zona do Euro, apontou que as promessas de “Maganomics” — uma fusão entre o slogan “Make America Great Again” e “economia” — podem trazer resultados adversos. As propostas incluem tarifas de até 20% sobre importações, deportações em massa de imigrantes indocumentados e cortes de impostos permanentes. Apesar de Trump defender que essas políticas impulsionariam a produção interna e fechariam o déficit comercial, especialistas preveem um cenário de estagflação e retração global.
Sebnem Kalemli-Ozcan, professora da Universidade Brown e membro do painel consultivo do Federal Reserve de Nova York, destacou que “as políticas de Trump podem trazer algum crescimento a curto prazo, mas isso será às custas de uma desaceleração global que depois voltará a prejudicar os EUA”. Ela também alertou para o caráter inflacionário dessas medidas, tanto no mercado interno quanto globalmente.
Impactos econômicos e o contraste com o mercado – Embora a maioria dos economistas aponte para os riscos das medidas protecionistas, os mercados reagiram de maneira distinta à vitória de Trump. O índice S&P 500 encerrou 2024 com alta de 23,3%, impulsionado por cortes de impostos, desregulamentação e avanços na inteligência artificial.
No entanto, economistas acreditam que os ganhos de curto prazo podem ser anulados pelos impactos de longo prazo. Mais da metade dos entrevistados esperam efeitos negativos moderados das políticas de Trump, enquanto 10% preveem impactos severos. Apenas um quinto dos especialistas acredita em benefícios econômicos gerais.
Repercussões globais e preocupações europeias – O estudo também revelou preocupações mais profundas fora dos EUA, particularmente na Zona do Euro. Cerca de 85% dos economistas europeus preveem efeitos negativos das tarifas e políticas de Trump, com destaque para os setores industriais da Alemanha. A indústria automobilística alemã pode ser “especialmente visada,” alertou Martin Wolburg, economista da Generali Investments. Além disso, tarifas elevadas sobre a China podem levar Pequim a inundar o mercado europeu com produtos de baixo custo, intensificando a concorrência.
No Reino Unido, Alpesh Paleja, economista-chefe da CBI, destacou que o impacto de segunda ordem das tarifas americanas poderia pesar sobre o crescimento europeu e, indiretamente, afetar o Reino Unido. Segundo ele, “a administração Trump será uma ‘máquina de imprevisibilidade'”, dificultando decisões de longo prazo.
Um futuro incerto para a economia global – Apesar de previsões de crescimento mais robusto para os EUA em 2025 em comparação à Europa, o legado econômico de Trump permanece incerto. Sem um plano econômico claro, analistas continuam a basear suas projeções nas promessas de campanha e na experiência do mandato anterior. O contraste entre o otimismo dos investidores e o ceticismo dos economistas reflete os riscos e oportunidades de um cenário econômico moldado por políticas protecionistas.
Com informações do Brasil 247
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