Segundo os pesquisadores, o resultado demonstra que o programa social tem um impacto equivalente a uma vacina
Uma pesquisa divulgada na revista Nature Medicine nesta sexta-feira (3) mostra que o Bolsa Família reduziu em quase 60% os casos de tuberculose e em 70% a mortalidade da doença, informa a Folha de S. Paulo. O estudo também mostra que houve redução nas infecções entre grupos mais vulneráveis, como indígenas (63% para os casos e 65% para a mortalidade) e naquelas vivendo em pobreza extrema (redução de 49% nos casos e 60% mortes).
A pesquisa foi conduzida por uma equipe de cientistas do ISGlobal (Instituto de Saúde Global) em Barcelona, do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Cidacs (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde) da Fiocruz Bahia, com o apoio da Fundação “La Caixa” de Barcelona. A análise se concentrou em 54,57 milhões de brasileiros de baixa renda, com foco em 23,9 milhões de beneficiários do Bolsa Família e 30,66 milhões de não beneficiários, entre 2004 e 2015. Os pesquisadores cruzaram esses dados com informações sobre novas infecções e mortes por tuberculose, retiradas dos sistemas Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade).
Priscila Pinto, pesquisadora do ISC e co-primeira autora do estudo, destacou a importância da metodologia utilizada, que possibilita uma visão mais abrangente do impacto social do programa. “É fundamental trazer essas informações sobre como o Bolsa Família reduz também outras cargas na população, além de aliviar a pobreza, reduzir o custo de transporte e o acesso aos alimentos. Ele também tem efeitos significativos na saúde”, afirmou.
Davide Rasella, coordenador da pesquisa e professor do ISC e ISGlobal, afirmou que os resultados demonstram um impacto quase equivalente a uma vacina. “Sabemos que a tuberculose é uma doença muito sensível aos determinantes sociais. Melhorar as condições de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade reduz consideravelmente a incidência de doenças relacionadas à pobreza, como diabetes, HIV/Aids e tuberculose”, explicou Rasella.
O estudo também observou que o impacto do Bolsa Família foi mais acentuado entre os mais pobres, especialmente nas populações indígenas e em áreas remotas. Rasella enfatizou que, apesar dos avanços, o programa pode ser ainda mais fortalecido para beneficiar grupos em situação de extrema pobreza. “O Bolsa Família é um programa consolidado, mas pode ser ampliado para reduzir ainda mais as desigualdades e melhorar a qualidade de vida de populações mais vulneráveis”, afirmou o pesquisador.
Os dados mais recentes, de 2023, indicam que o Brasil registrou 80.012 novos casos de tuberculose, com uma incidência de 37 casos por 100 mil habitantes. Em 2022, após a recuperação da pandemia, foram 78.057 novos casos e 5.845 óbitos. O estudo é parte de um conjunto de investigações sobre os efeitos dos programas de transferência de renda na saúde da população, integrando informações do CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) com dados de saúde do Ministério da Saúde.
Além da redução de tuberculose, outros estudos da mesma equipe apontaram uma queda de 17% na mortalidade infantil, redução de 56% nos suicídios entre beneficiários do programa e prevenção de 1,5 milhão de mortes ao longo dos anos.
Com informações do Brasil 247
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