O juiz Marcelo Trevisan Tambosi, da Vara Criminal da Comarca de Itapema (SC), que negou os pedidos da Polícia Civil e do Ministério Público para prender preventivamente dois bolsonaristas que mantiveram em cárcere privado o motorista de frete Rafael dos Santos Cabral da Silva, é dono de um clube de tiro e de uma empresa de comércio e importação de armas e munições, em operação desde 2021 e 2020, respectivamente.
Na mesma decisão em que negou a prisão preventiva de Carlos Ramon Faila e Gabriel Alexandre Garcia – identificados em vídeos e pela investigação policial como autores do cárcere privado – o magistrado recebeu a denúncia e tornou os dois suspeitos réus em um processo penal pelo crime de tortura, com o agravante de terem mantido a vítima sequestrada por cerca de quatro horas, conforme revelou o DCM na última quarta-feira (30).
A decisão do juiz contrariou o relatório final da Polícia Civil sobre a ocorrência, que solicita a prisão preventiva dos agora réus. Também foi contrária a um segundo pedido de prisão, expedido pelo Ministério Público de Santa Catarina, além de contrariar a própria lógica.
É que Marcelo Trevisan Tambosi admitiu que as provas apresentadas apontam para o crime de tortura e sequestro. Admitiu também que a vítima foi obrigada a deixar a cidade de Itapema e o estado de Santa Catarina, em virtude das ameaças de morte que sofria, o que o impede de exercer a atividade financeira de seu sustento (fretes em Itapema e região).
Mas, alegou que os acusados possuem residência fixa e estão – agora – longe de Rafael, que se encontra em um município não revelado, e que, portanto, não podem mais ameaçar a vida da vítima. Assim, não há motivo para prendê-los – e Rafael que se contente em viver como um foragido e longe da sua área de trabalho (essa parte o juiz não disse). Veja abaixo trecho da decisão.
Nada disso, porém, é suficiente para dizer que o juiz decidiu de modo parcial, a fim de proteger os bolsonaristas, que montam acampamentos em frente a quartéis e bloqueios em rodovidas. O que se sabe, isso sim, é que Tambosi é juiz e também empresário.
No dia 20 de julho de 2020, ele abriu a BJF Firearms, empresa de comércio, importação e exportação de armamentos e munições, conforme se pode ver abaixo.
Já no dia 3 de março de 2021, o juiz achou por bem abrir outra empresa para somar às suas tarefas de magistrado e dono de importadora: o Clube de Caça e Tiro e Centro de Treinamentos Winchester Ltda.
O clube de tiro do juiz Tambosi impressiona pela quantidade de armas que possui. Impressiona a qualquer um, inclusive aqueles que estão habituados com estabelecimentos desse tipo no Brasil e no mundo, como os donos do canal do Youtube “Operação 153”. Eles foram visitar o local e já desde o início avisam: “Galera, esse clube impressiona pela quantidade de armas que tem”.
Se o juiz é um autêntico cidadão de bem bolsonarista armado até os dentes e parcial em suas decisões, ninguém pode dizer. O que é, sim, fato é que seu clube é assumidamente partidário de Jair Bolsonaro, assim como seus frequentadores. Veja, abaixo, mais fotos do estabelecimento.