Alta cambial e restrição na oferta de proteínas e café podem elevar preços em até 7,4% no próximo ano, dólar fechou a R$ 5,87
247 – Apesar das expectativas de uma safra recorde de grãos em 2025, a combinação entre dólar mais alto e limitações na oferta de alguns produtos deve fazer os preços dos alimentos subirem acima da inflação geral. A XP Investimentos e outros especialistas projetam uma inflação alimentar de até 7,4% para o próximo ano, superando a média geral, estimada em torno de 4%, segundo o Boletim Focus, que reúne as previsões do mercado financeiro. Esse cenário se dá em um momento em que o dólar acumula alta de 19,2% no ano, alcançando R$ 5,87, o maior patamar desde o início do governo Lula.
O impacto é sentido, principalmente, nas proteínas. A carne bovina, por exemplo, pode registrar o maior aumento em cinco anos, com uma alta estimada de até 16,1%, impulsionada pela restrição da oferta de gado e pela crescente demanda interna e externa como aponta reportagem do Globo. Segundo Alexandre Maluf, economista da XP, “a pressão no setor de proteínas deve continuar forte, com os efeitos desse ciclo de alta se estendendo até 2026”. Ele explica que o custo da arroba do boi, que vem surpreendendo o mercado com sua rápida escalada, já influencia o consumidor final de forma acelerada.
Os preços do frango e da carne suína também devem seguir em alta, com projeções de aumento de 11% e 13%, respectivamente. Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, destaca que, além da menor oferta de animais para abate, o clima adverso e as queimadas têm impactado negativamente a disponibilidade de pastagem, contribuindo para a elevação dos preços. “A falta de gado pronto para abate afeta diretamente os preços, especialmente da carne e do leite”, observa.
Demanda Externa e Efeito Cambial
Outro fator determinante na escalada dos preços é o aumento das exportações, impulsionado pela demanda crescente da China e de novos mercados. José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, explica que a pecuária brasileira deve priorizar a retenção de fêmeas em 2025 para garantir produção de bezerros, após um período de abate intenso. Segundo ele, “esse movimento pode fazer a arroba do boi subir entre 10% e 20%, dependendo do nível de retenção, o que impacta também outras proteínas, como o frango e a carne suína”.
A analista de inflação Andrea Angelo, da Warren Investimentos, alerta que o dólar alto, estimado entre R$ 5,40 e R$ 5,55 para o próximo ano, exerce uma pressão adicional sobre itens importados ou dependentes de insumos externos, como o trigo, refletindo em produtos panificados e outros itens. Ela aponta que as empresas já têm repassado esses custos ao consumidor, impulsionadas pela resiliência do mercado de trabalho e pelo aumento da renda: “O câmbio elevado cria um efeito psicológico que facilita o repasse de custos por parte das empresas, mesmo antes de o mercado se estabilizar”.
Café e Óleo de Soja: Altas Expressivas
O café é outro item com projeção de alta significativa. A combinação de seca e altas temperaturas prejudicou a produção, além de uma oferta reduzida internacionalmente. Andrea estima que o preço do café ao consumidor suba 22,5% este ano e mais 7% no próximo, enquanto Fábio Romão, economista da LCA Consultores, prevê uma elevação de 32% neste ano e de até 11% em 2025.
Outro item de destaque é o óleo de soja, cujo preço deve aumentar devido à demanda crescente para a produção de biodiesel, após a aprovação do projeto de lei “Combustível do Futuro”. Maluf espera uma alta de até 8% no próximo ano, ressaltando que, embora a produção recorde de soja possa atenuar a pressão sobre os preços, a valorização cambial compensa parte desse alívio.
Possíveis Alívios: Arroz, Feijão e Hortaliças
Alguns itens, contudo, podem trazer algum alívio às famílias. A expectativa é que o arroz e o feijão, por exemplo, apresentem uma leve deflação, com queda de até 5,6%, devido a uma previsão de safra mais robusta. Produtos como batata e cenoura também podem ter uma redução de preços, enquanto hortaliças e verduras devem permanecer estáveis.
Para as famílias de baixa renda, a preservação do poder de compra dependerá do controle da inflação de alimentos, principalmente considerando o peso desses produtos no orçamento doméstico. “Se conseguirmos uma safra favorável e estabilidade no câmbio, é possível que a inflação de alimentos fique dentro da meta, o que seria positivo para o poder de compra”, pondera André Braz, coordenador de preços ao consumidor do Ibre/FGV.
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