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Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Foto: Reprodução

Jorge Paulo Lemann e seus dois sócios bilionários na Americanas ficaram R$ 42 bilhões mais ricos desde que a gigante do varejo admitiu uma fraude contábil de cerca de R$ 40 bilhões e perdeu 99% do seu valor de mercado.

O patrimônio de Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira foi atualizado nesta semana pela revista Forbes, que anualmente publica a lista das pessoas mais ricas do mundo e do Brasil. Os três estão entre cinco brasileiros mais ricos da atualidade.

Juntos, eles têm um patrimônio de R$ 202,15 bilhões. Só Lemann, o terceiro brasileiro mais rico, tem R$ 91,81 bilhões, segundo a Forbes; Telles tem R$ 60,82 bilhões; e Sicupira, que chegou a presidir o conselho de administração das Americanas, R$ 49,52 bilhões.

Já em dezembro de 2022, a fortuna somada dos três bilionários era de R$ 159,85 bilhões. Lemann tinha R$ 72 bilhões; Telles, R$ 48 bilhões; e Sicupira, R$ 39,85 bilhões.

Dias depois de a Forbes divulgar os valores de 2022, a Americanas anunciou que sua contabilidade havia sido fraudada, já em janeiro de 2023. A empresa admitiu que, “por um longo período”, suas contas haviam sido manipuladas para indicarem lucro quando, na verdade, ela amargava prejuízo.

A fraude, segundo a própria Americanas, superou os R$ 40 bilhões. Desde que ela foi relevada, uma ação da Americanas negociada na Bolsa de São Paulo, a B3, perdeu mais de 99% do seu valor. Só nesta sexta-feira (30), caiu mais 3,8%.

Lemann e seus sócios, apesar de tudo isso, ficaram 27% mais ricos.

Bilionário não perde

O economista Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, disse que o enriquecimento de bilionários enquanto suas empresas praticamente vão à falência não é exceção. É regra.

“Quando você tem esse volume de dinheiro, as alocações que você faz dificilmente são não rentáveis”, afirmou. “Até mesmo no caso das Americanas, eles não perderam dinheiro nenhum. Pelo contrário, ganharam antecipadamente com as fraudes.”

“Os ricos ficam mais ricos porque a maior parte de suas rendas não são tributadas e seu patrimônio ainda é remunerado com altas taxas de juros”, acrescentou afirmou Nathalie Beghin, economista e integrante do colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Viviana Santiago, diretora executiva da organização internacional Oxfam, ressaltou que o que Lemann e seus sócios ganharam com as Americanas nunca foi tributado pelo governo, pois dividendos são isentos. Já o que os trabalhadores das Americanas e outras empresas recebe pelo seu trabalho é tributado mensalmente.

Americanas. Foto: Divulgação

A diferença contribui para uma sociedade cada vez mais desigual, disse ela. “Sistemas econômicos, financeiros e fiscais estruturam uma alta concentração de renda, possibilitando com que essas pessoas que já são ricas, elas se tornem cada vez mais ricas, porque não existe um processo de tributação dessa ultra riqueza.”

Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), disse que o processo de concentração de riqueza tem se acentuado nos últimos anos. Parte disso também é explicado pela precarização do trabalho.

Entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2024, a Americanas já dispensou mais de 10 mil funcionários, o que quase um quarto de sua força de trabalho.

Até agora, ninguém foi punido pela fraude na empresa.

Empresa culpa executivos

Em junho, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) realizaram uma operação para esclarecer como essa fraude na empresa foi cometida. Ela foi autorizada pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e envolveu cerca de 80 policiais federais para o cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão.

Todos os alvos são ex-diretores da Americanas, que se desligaram da empresa após a fraude ser publicamente anunciada, em janeiro do ano passado. Entre os procurados, estiveram o ex-presidente da Americanas, Miguel Gutierrez, e a ex-executiva Anna Saicali.

Gutierrez já afirmou em depoimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que obedecia a ordens de Sicupira. Disse também que Sicupira tinha total conhecimento de todas as decisões estratégicas sobre a Americanas.

“O Beto era o meu chefe. E toda a interligação minha com o conselho das Americanas era através do Beto. E o Beto saiu da chefia do conselho em 2020 – que foi um plano programado em 2019, ele ia sair para depois eu ir pro conselho novamente. Então, nesse período, meu contato com Beto sempre foi muito intenso”, disse Gutierrez. “Eu tinha uma relação com o Beto de 20 anos de trabalho. Você cria, obviamente, uma proximidade.”

Sicupira – assim como Lemann e Telles – não foram citados em informes sobre a operação. O processo que a autorizou está em sigilo na Justiça.

De acordo com a PF, a atual direção da empresa colaborou para as investigações do órgão. Essa mesma direção, em junho do ano passado, já havia acusado antigos executivos da companhia pela fraude e poupado os sócios bilionários.

De acordo com a própria empresa, seus antigos diretores simularam contratos, tomaram empréstimos e manipularam dados sobre dívidas para simular lucro. Ainda segundo a empresa, eles fizeram tudo isso sem as devidas aprovações dos sócios da companhia e sem que eles soubessem das manipulações nas contas apresentadas ao público.

Com informações do Diário do Centro do Mundo

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