Guerrilheiro, líder estudantil, parlamentar, preso político, ministro, advogado, escritor, considerado por muitos o nome natural na transição de Lula na presidência da República. Estas são algumas marcas da trajetória de José Dirceu, que concedeu entrevista à TV 247, nesta semana, expondo memórias dos anos de chumbo da ditadura, sua resistência para manter a saúde mental sob o cárcere, além de apontar saídas para superar o golpe de Estado de 2016. “O objetivo da Lava Jato era eliminar Lula e o PT da vida pública”, avalia.
Dirceu foi preso político três vezes: em 1968, por ter participado do Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna (SP); pela condenação na Ação Penal 470, em 2013, e no que ele classifica como “espetáculo midiático da Lava Jato”, em 2017. Parte dessas relatos está no livro “Memórias – Volume 1” (Editora Geração), uma obra autobiográfica que escreveu na última vez em que esteve preso, contando apenas com uma cama de apoio, papel e caneta.
“O que é um fim de semana na prisão? Após a visita dos familiares que ocorriam às sextas, brinco que tínhamos a depressão pós-visita, a DPV. Para combater isso alguns dormem, outros cozinham, eu resolvi começar a escrever todos os sábados e domingos”, relata.
Lava Jato – A operação midiática
O ex-ministro destaca que o objetivo da Lava Jato era retomar o fio da Ação Penal 470, também conhecida como “mensalão”, tendo como foco a eliminação do PT. “Porém, ocorreu o oposto disso, Lula tem condições de ganhar as eleições no primeiro turno, o PT será o partido mais votado na Câmara dos Deputados, existe um grande apoio popular em torno da sigla”, descreve.
Mesmo não atuando oficialmente em nenhuma instância de direção do PT, e não falando em nome do partido, como faz questão de enfatizar na entrevista, Zé Dirceu passa seus dias em conversas com os colegas da legenda, orientando e também ouvindo conselhos, participando ativamente da vida política do País.
Ao analisar o complexo cenário das eleições de 2018, ele considera “que o PT poderá sair vitorioso no pleito eleitoral”, alertando que “para manter a governabilidade, a mobilização social é fundamental”. “Precisamos do poder popular como um punho de aço para garantirmos um governo sem golpes de Estado”, enfatiza.
Ele observa os rumos da candidatura de Lula, que poderá ser arbitrariamente barrada pela lei da Ficha Limpa, e enfatiza que o PT irá até o último limite para registrar o nome do ex-presidente como candidato. No caso de um eventual impedimento jurídico, Fernando Haddad, hoje candidato a vice, será o candidato natural da sigla, acrescenta. “Não existe nenhuma contradição nisso”.
Questionado sobre o espectro fascista que ronda o País, com a ascensão da extrema-direita, Dirceu acredita que “a elite brasileira nem se dará ao trabalho de tapar o nariz para votar no Bolsonaro”, e que o candidato do PSL “representa a continuação da política do golpe”. “Não devemos subestimá-lo”, alerta.
Influência dos EUA no golpe de 2016
Dirceu considera que, nas últimas duas décadas, os EUA ocupam países e constituem governos aliados às suas políticas. “Só não aconteceu na Síria porque a Rússia e o Irã impediram”, analisa.
Dentro do contexto internacional altamente bélico e de luta hegemônica, Dirceu lamenta o papel que os militares desempenham no Brasil. “Aos poucos, eles se entregam aos EUA e abandonam a política de soberania inaugurada por Lula”, condena.
“Não estou aqui criando nenhuma teoria da conspiração, mas há a mão do interesse norte-americano no impeachment da ex-presidente Dilma, apoiado pelos interesses da mídia e do empresariado”, conclui.
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