Trecho da petição “Este CFM não nos representa”: ”Incrédulos e envergonhados, tomamos conhecimento da solenidade ocorrida em 27 de julho de 2022, na sede do CFM, na qual o presidente da república, acompanhado do ministro de estado da saúde (graduado em medicina), explicitamente e diante de dezenas de médicos ridicularizou a pandemia e desprezou todos os que com ela perderam a vida (inclusive muito médicos e profissionais de saúde), criticou as normas éticas e valores científicos da medicina e, chegou ao cúmulo de se vangloriar de não ter sido vacinado contra COVID-19 e estar vivo. Isso feito, sem que fosse interrompido ou questionado, em pleno século XXI, por sequer um dos médicos ali presentes”. Entre eles, na mesa, o ministro da Saúde e o atual presidente do CFM, José Hiran Gallo. Mauro Ribeiro (em pé, na primeira fila, de paletó cinza claro) é atualmente tesoureiro da entidade. Fotos: CFM/Divulgação e rede social
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é o órgão que, por lei, fiscaliza a prática médica no Brasil.
Tem a obrigação de defender a saúde da população e zelar pelo exercício ético da profissão em todas as instâncias.
Nos últimos anos, porém, assumiu crescentemente uma postura política-ideológica.
Na pandemia extrapolou.
Em vez de ajudar a salvar a vida de brasileiros, apoiou tratamentos ineficazes, mandando às favas as evidências científicas e a ética médica.
Fez vista grossa às mentiras espalhadas inclusive por médicos contra medidas de proteção, como o distanciamento social, o uso de máscaras, álcool gel e a vacina.
De saída, em 23 de abril de 2020, autorizou a prescrição da cloroquina/hidroxicloroquina, apesar de não haver evidências científicas de eficácia contra a covid-19.
Isso se deu após encontro do então presidente da entidade, Mauro Ribeiro, com Jair Bolsonaro (PL-RJ).
O próprio Ribeiro relatou o parecer do CFM, o 04/2020, que facultou aos médicos receitar cloroquina e hidroxicloroquina e, na sequência, respaldou o Ministério da Saúde a divulgar o protocolo para “tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da covid-19” no SUS.
Em julho de 2020, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP) e a Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD) solicitaram ao CFM a suspensão do parecer de 04/2020.
Os pedidos foram em vão.
O Brasil tinha nesse domingo, 31 de julho de 2022, 678.513 óbitos confirmados por covid-19, segundo o Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde)
Até hoje, o CFM não reviu a sua posição anticientífica e o funesto parecer 04/2020 continua em vigor.
E na última quarta-feira, 27-07, atravessou o rubicão.
Deu palanque (auditório do Conselho em Brasília) e plateia (conselheiros da entidade e outros médicos negacionistas) para o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, fazer proselitismo político-negacionista à vontade.
Bolsonaro exaltou as ações do seu governo na pandemia, debochou dos cientistas, defendeu cloroquina e, ainda, investiu contra a vacina. Vangloriou-se de nunca ter-se vacinado e estar vivo até hoje.
Ao final da sua fala, os médicos aplaudiram-no de pé. Houve gritos de “mito”
”ESTE CFM NÃO NOS REPRESENTA”
A reação dos profissionais comprometidos com a saúde da população, o SUS, a prática ética da medicina e a ciência foi imediata.
Indignação. Repúdio. Vergonha. Constrangimento.
“No meu caso, foi revolta, mesmo!”, disse-me o médico Renan Araújo, Salvador (BA).
“O CFM levou o genocida miliciano para dentro de sua sede, para manchar de sangue a história da medicina brasileira”, acrescentou.
Araújo foi provavelmente o primeiro a se manifestar em rede social. Viralizou.
Ainda na tarde de quarta-feira, 27-07, publicou o texto (na íntegra, ao final) intitulado 27 de julho de 2022: o dia em que a medicina foi estuprada em sua própria casa (com o consentimento de quem deveria protegê-la)
À noite,’em nota (na íntegra, mais abaixo), a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP), também em rede social, condenou ‘esta postura do CFM, palanque para genocídio, fascismo e golpismo”.
Em nota de repúdio (na íntegra, mais abaixo), a Associação de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD) salientou: “Entendemos que o CFM incorreu em desvio de finalidade ao promover esta reunião amplamente divulgada pela mídia”.
Na sexta-feira, 29-07, foi lançado o abaixo-assinado Este CFM não me representa.
O texto que embasa a petição (na íntegra, ao final) atenta para presença do “ministro de estado da saúde (graduado em medicina)” e o fato de Bolsonaro ter ridicularizado a pandemia, desprezado mortos e criticado as normas éticas e valores científicos, ”sem que fosse interrompido ou questionado, em pleno século XXI, por sequer um dos médicos ali presentes”.
No momento (9h40, segunda-feira, 01-08), o abaixo-assinado já conta com 15.360 adesões.
Recomendo que leiam todos.
Renan Araújo: 27 de julho de 2022, o dia em que a medicina foi estuprada em sua própria casa (com o consentimento de quem deveria protegê-la)
”É estarrecedor que o Conselho Federal de Medicina, que deveria proteger a sociedade brasileira contra o erro médico e as más práticas médicas, tenha sucumbido vergonhosamente ao fascismo e à necropolitica de Bolsonaro.
A casa dos médicos recebeu o genocida, sem se importar que ele há quatro anos leva o nosso povo à fome, ao desespero, ao empobrecimento, ao adoecimento e à morte.
O despresidente corrupto e perverso foi recebido como herói, com pompas e honrarias.
O mesmo ser seboso que permitiu que o Brasil fosse recordista de mortes por COVID, neglicenciando a compra de vacinas, prescrevendo tratamentos inúteis e zombando dos pacientes que morriam aos milhares por falta de oxigênio, entrou no CFM pela porta da frente e se vangloriou de ter sido protagonista de um dos períodos mais tristes de nossa história, com apoio de parte da categoria médica e de suas entidades.
O charlatão-presidente (que prescreveu cloroquina até para as emas do palácio) nos proporcionou assim mais um espetáculo dantesco.
Ele até “poderia” adotar as posições bizarras que chama de autonomia médica, pois não prestou juramento nem tem sua atuação regida pelo Código de Ética Médica.
Mas aquela plateia entusiasmada de doutores assistiu o sangue do povo escorrer solenemente pelo granito imponente da casa da medicina, ora apelidada de palácio da morte”.
O CFM não representa os médicos e as médicas do Brasil
Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP)
“Hoje, 27 de julho, houve mais uma prova da íntima relação entre a atual diretoria do Conselho Federal de Medicina (CFM) e a gestão genocida do Governo Bolsonaro.
O Presidente da República visitou o CFM em tom eleitoreiro, fora da agenda oficial. Reafirmou o discurso negacionista e anticientífico: favorável à cloroquina, antivacina e contra o uso de máscaras, fatores que contribuíram para as mais de 700 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Quanto ao seu discurso, não há surpresas…
Ao contrário da subprocuradora-geral da República, que indicou o arquivamento de todas as acusações baseadas na CPI Covid sob alegação de que o presidente “não sabia”, toda a sociedade brasileira sabe das milhares de vidas que se perderam devido ao projeto de morte de um governante que sabotou a vacinação e toda forma de controle da pandemia. Sim, o Presidente é cúmplice, assim como toda a sua equipe gestora na saúde e o CFM.
Não é aceitável que ele repita seu discurso em plenas instalações do Conselho Federal de Medicina, recebendo palmas como reação da plateia, de conselheiros e bajuladores.
Nós sabemos que muito se faturou na pandemia com consultas desnecessárias, orientações sem base científica, medicamentos caros e ineficazes.
Nós sabemos quantas mortes poderiam ter sido evitadas, principalmente entre a população periférica, indígena e negra desse país.
As consequências permanecem, pois até hoje o CFM não abandonou a postura negligente e anticientífica, inclusive contra a vacinação.
Há médicos que pensam diferente e que não se conformam com esta postura do CFM, palanque para genocídio, fascismo e golpismo. Somos e precisamos ser médicos e médicas que defendem a população, o SUS, a ciência e a democracia.
Seguimos e vamos além, por um Projeto Popular para o Brasil.
A diretoria do CFM NÃO REPRESENTA os médicos e as médicas do Brasil.
NOTA DE REPÚDIO
O CFM é uma autarquia pública fundada em 1951 cuja finalidade é zelar pela ética e boa prática médica e também “garantir a defesa da saúde da sociedade, adotando uma política de saúde digna e competente”, conforme consta no seu próprio site.
Dentro desta perspectiva, não há como justificar o convite e apoio político explícito a um candidato a reeleição, que, enquanto Presidente da República de um país assolado por uma grave pandemia, minimizou seus riscos, defendeu e promoveu tratamento comprovadamente ineficaz contra a COVID-19, desestimulou o uso de medidas não farmacológicas eficazes na prevenção da transmissão da doença, como uso de máscaras e isolamento social, debochou de pessoas que morreram com falta de ar, atrasou a compra de vacinas e jamais prestou qualquer solidariedade às centenas de milhares de vítimas da doença ou aos seus familiares.
Cumpre lembrar que tal comportamento do governo federal é responsável direto pelo fato do Brasil ter uma taxa de mortalidade por COVID -19 quase 4 vezes maior que a média mundial, sendo, portanto, causador de milhares de mortes evitáveis.
Desta forma, enquanto uma Associação de Médicas e Médicos comprometidos com a Ciência e com a Saúde de nosso povo, entendemos que o CFM incorreu em desvio de finalidade ao promover esta reunião amplamente divulgada pela mídia.
Defendemos o SUS Universal e 100% Público. Defendemos a Vida. O CFM não nos representa!
Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia
A
Abaixo-assinado: Este Conselho Federal de Medicina (CFM) não nos representa
“Somos médicos e médicas cuja conduta é orientada por normas éticas e evidências científicas que norteiam nossa prática, que devem ser seguidas e respeitadas pelos órgãos da classe e sociedades representativas.
Apoiamos o estado democrático de direito e repudiamos fortemente posturas racistas, homofóbicas, misóginas e que ridicularizam minorias.
Incrédulos e envergonhados, tomamos conhecimento da solenidade ocorrida em 27 de julho de 2022, na sede do CFM, na qual o presidente da república, acompanhado do ministro de estado da saúde (graduado em medicina), explicitamente e diante de dezenas de médicos ridicularizou a pandemia e desprezou todos os que com ela perderam a vida (inclusive muito médicos e profissionais de saúde), criticou as normas éticas e valores científicos da medicina e, chegou ao cúmulo de se vangloriar de não ter sido vacinado contra COVID-19 e estar vivo.
Isso feito, sem que fosse interrompido ou questionado, em pleno século XXI, por sequer um dos médicos ali presentes.
Este CFM defende posturas anticientíficas e com viés político, dando apoio a tratamentos que já foram amplamente estudados e cuja ineficácia é comprovada pelos maiores e mais reconhecidos centros de pesquisas médicas do mundo.
Há inúmeros estudos que demonstram a ineficácia dos nomeados “tratamentos precoces”.
Diversas sociedades médicas já se posicionaram em relação a esse tema e este CFM permanece irredutível na sua jornada anticientífica, apesar de todas as evidências contrárias.
Diversas sociedades médicas já se posicionaram em relação a esse tema e este CFM permanece irredutível na sua jornada anticientífica, apesar de todas as evidências contrárias.
Acompanhamos estarrecidos uma parte da categoria médica que ignora os efeitos das ações nefastas do atual governo federal, que provocaram agravamento da pandemia, aumento da fome e reduziram as perspectivas de futuro para grande parte dos brasileiros e brasileiras, com impacto significativo para população mais vulnerável.
O mesmo governo que reiteradamente atenta contra as instituições e a democracia.
É importante dizer à sociedade civil que muitos médicos e médicas desse país veementemente reprovam o que ocorreu nessa solenidade festiva em que aplausos e sorrisos ignoraram o enorme sofrimento do povo brasileiro.
Por isso defendemos o resgate do CFM como órgão em defesa da ética, da vida e dos preceitos científicos. Que represente verdadeiramente a categoria médica e a sociedade. Este CFM não nos representa!”
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