“O Banco Central é um banco do Estado brasileiro que tem que cuidar da política monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro”, disse o presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os ataques especulativos contra o real e afirmou que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, atua com “viés político”. “Efetivamente eu acho que ele [Campos Neto] tem um viés político. Mas eu não posso fazer nada, porque ele é presidente do Banco Central e tem mandato, foi eleito pelo Senado. Eu tenho que esperar e indicar alguém”, disse Lula à Rádio Sociedade, na Bahia, nesta terça-feira (2).
“Acho que a gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fique vulnerável a pressões políticas. E se você é um presidente democrata, você permite que isso aconteça sem nenhum problema. Agora, quando você é autoritário, você resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. O Banco Central é um banco do Estado brasileiro que tem que cuidar da política monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele não pode estar a serviço do mercado”, afirmou o presidente.
Roberto Campos Neto foi indicado para o cargo por Jair Bolsonaro (PL) e vem sendo alvo de críticas por manter a taxa de juros em um patamar elevado, o que prejudica o desenvolvimento econômico, prejudica investimentos e dificulta o acesso ao crédito. Atualmente, a taxa de juros básica (Selic) está em 10,5% ao ano, segundo patamar real mais alto do mundo, atrás apenas da Rússia. O mandato de Campos Neto à frente da instituição termina no final do ano e o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, é o nome mais cotado para sucedê-lo.
“O Banco Central tem uma função, que é cuidar da política monetária desse país, de atingir a meta da inflação. E por isso nós acabamos de aprovar a meta de inflação de 3%. O que não dá é para você ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político. Efetivamente eu acho que ele tem um viés político”, disse Lula sobre Campos Neto. “Eu acho que a minha visão sobre o Banco Central não é uma visão teórica. É uma visão de um presidente que já foi presidente e teve um Banco Central sob o meu domínio durante oito anos e com total autonomia. Alguém pode falar que o Meirelles não teve autonomia? Ele ficou oito anos no meu mandato e, se dependesse de mim, ficaria com a Dilma também, não sairia. O Fernando Henrique Cardoso trocou três presidentes do Banco Central, e é normal. O que é anormal é o Lula trocar, é o Lula querer indicar alguém. É o presidente da República que tem que indicar, e quando a gente indica um presidente do Banco Central, do Banco do Brasil, da Petrobras, a gente não indica essa pessoa para ela fazer o que a gente quer. As empresas têm diretoria, conselho, cronograma de trabalho. E o Banco Central é a mesma coisa”, destacou.
Na entrevista, Lula também criticou os ataques especulativos ao real, que resultaram na disparada do dólar nos últimos dias. “O mundo não pode ser vítima de mentiras. A gente não pode inventar as crises. Vou te dar um exemplo: na semana passada eu dei uma entrevista no UOL. depois da entrevista, alguns especialistas começaram a dizer que o dólar tinha subido por conta da entrevista do Lula. E fomos descobrir que o dólar tinha subido 15 minutos antes da minha entrevista. É um absurdo. Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesses especulativos contra o real nesse país”, afirmou o presidente. “E eu tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Eu estou voltando [a Brasília], quarta-feira vou ter uma reunião, porque não é normal o que está acontecendo”, completou.
Nesta segunda-feira (1), o dólar à vista ultrapassou a barreira dos R$ 5,65 e encerrou a sessão no maior valor em dois anos e meio. Encerrou o dia cotado a 5,6538 reais na venda, em alta de 1,13%. Este é o maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando encerrou em 5,6723 reais. Em 2024, a divisa acumula alta de 16,53%.
Com informações do Brasil 247
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