Produtos agroecológicos dos assentamentos do MST alimentam milhões de famílias e figuram em cardápios de cozinheiros renomados
Pratos que levam produtos do MST: do Altar, de dona Carmem Virginia; do Camélia Òdòdó, de Bela Gil; da Comedoria Gonzales e do Mescla, de Checho Gonzales; da Cozinha Afetiva, de Paula Bandeira; do Cuia, de Bel Coelho; da Escola Sorvete, de Francisco Sant’Ana; do Iacitatá, de Tainá Marajoara
Maior produtor de arroz orgânico da América Latina deve colher na safra 2020/2021 mais de 12,4 mil toneladas de alimento. Responsável por 160 cooperativas, 120 agroindústrias e 1.900 associações de trabalhadores rurais, o MST coloca comida na mesa de milhões de brasileiros. Junto com outros pequenos agricultores, quilombolas e ribeirinhos, as cerca de 500 mil famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra compõem a seara da agricultura familiar. E segundo estatísticas do IBGE, 70% da alimentação consumida no Brasil, vem da produção desse povo.
A comida, de qualidade, respeita a sazonalidade da produção. Evita o uso de veneno, os famigerados agrotóxicos que adoecem e matam. E tem a marca da solidariedade. Desde o início da pandemia, o MST já doou mais de 4,2 mil toneladas de alimentos a quem necessitava. E cerca de 860 mil marmitas para pessoas em vulnerabilidade social.
Entre os principais expoentes da produção agroecológica do MST, figuram o arroz Terra Livre e os laticínios da Cooperoeste, do sul do país; a linha de conservas Nana Natus, de Goiás; os chocolates orgânicos Terra Vista, da Bahia; as cachaças mineiras Veredas, o Café Guaií. São três assentamentos e 10 acampamentos do Quilombo Campo Grande (MG) dedicados à produção desse café orgânico de qualidade reconhecida. Entre 2015 e 2020, a produção mais que quadruplicou de 2,3 mil sacas para 10 mil sacas.
Esses são alguns dos produtos preferidos de renomados chefs de cozinha que, além de valorizar a qualidade das refeições que produzem, mantêm uma relação intrínseca com a importância de um movimento que busca na reforma agrária a possibilidade de acabar com a vergonhosa fome que assola milhões de brasileiros.
Comida de futuro
O cardápio do recém-lançado Camélia Òdòdó, restaurante de Bela Gil em São Paulo, destaca o que entra na comida criada pela chef baiana. “Elaborado com ingredientes de alta qualidade e honrando a natureza, o nosso menu é fonte de saúde ao corpo, respeito ao meio ambiente e valorização aos pequenos produtores.” Comer no restaurante é um ato de amor a natureza, anunciam. “Acreditamos no poder transformador da comida. Por isso prezamos por alimentos locais, agroecológicos, livres de veneno, transgênico e produzidos por famílias camponesas do Brasil.”
A chef Bel Coelho, do Cuia Café e Restaurante, também na capital paulista, é outra consumidora dos produtos do Armazém do Campo. Para ela, o manejo consciente da produção de alimentos é fundamental na garantia de um futuro sustentável para o Brasil e o mundo. “Eu acho que a agricultura familiar, agroflorestal e orgânica, ou seja, o manejo orgânico consciente, é o futuro pra gente conseguir manter as florestas em pé, pra gente conseguir alimentar o Brasil inteiro”, defende.
Prazer, honra e orgulho
Na Escola Sorvete, do chef Francisco Sant’Ana, as frutas orgânicas do MST entram na produção de uma linha diferenciada dos incríveis gelatos produzidos na zona oeste da cidade de São Paulo. “Gosto muito, tento comprar sempre que tem disponibilidade. É um grande prazer trabalhar nessa relação direta com o trabalhador do campo, direto com as famílias nos pequenos negócios e dentro do Movimento Sem Terra.”
Chef e pesquisadora dos ingredientes brasileiros e a influência da cozinha africana na Bahia da cozinha brasileira, Paula Bandeira lembra da “honra” de cozinhar em eventos do Armazém do Campo, onde compra seus produtos. “Falar do MST me emociona. Acredito que a reforma agrária é o que vai salvar nosso país”, conta a responsável pelo projeto Cozinha Afetiva, onde realiza trabalhos como personal chef, confeitaria e panificação.
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São Paulo – Maior produtor de arroz orgânico da América Latina deve colher na safra 2020/2021 mais de 12,4 mil toneladas de alimento. Responsável por 160 cooperativas, 120 agroindústrias e 1.900 associações de trabalhadores rurais, o MST coloca comida na mesa de milhões de brasileiros. Junto com outros pequenos agricultores, quilombolas e ribeirinhos, as cerca de 500 mil famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra compõem a seara da agricultura familiar. E segundo estatísticas do IBGE, 70% da alimentação consumida no Brasil, vem da produção desse povo.
A comida, de qualidade, respeita a sazonalidade da produção. Evita o uso de veneno, os famigerados agrotóxicos que adoecem e matam. E tem a marca da solidariedade. Desde o início da pandemia, o MST já doou mais de 4,2 mil toneladas de alimentos a quem necessitava. E cerca de 860 mil marmitas para pessoas em vulnerabilidade social.
Entre os principais expoentes da produção agroecológica do MST, figuram o arroz Terra Livre e os laticínios da Cooperoeste, do sul do país; a linha de conservas Nana Natus, de Goiás; os chocolates orgânicos Terra Vista, da Bahia; as cachaças mineiras Veredas, o Café Guaií. São três assentamentos e 10 acampamentos do Quilombo Campo Grande (MG) dedicados à produção desse café orgânico de qualidade reconhecida. Entre 2015 e 2020, a produção mais que quadruplicou de 2,3 mil sacas para 10 mil sacas.
Esses são alguns dos produtos preferidos de renomados chefs de cozinha que, além de valorizar a qualidade das refeições que produzem, mantêm uma relação intrínseca com a importância de um movimento que busca na reforma agrária a possibilidade de acabar com a vergonhosa fome que assola milhões de brasileiros.
Comida de futuro
O cardápio do recém-lançado Camélia Òdòdó, restaurante de Bela Gil em São Paulo, destaca o que entra na comida criada pela chef baiana. “Elaborado com ingredientes de alta qualidade e honrando a natureza, o nosso menu é fonte de saúde ao corpo, respeito ao meio ambiente e valorização aos pequenos produtores.” Comer no restaurante é um ato de amor a natureza, anunciam. “Acreditamos no poder transformador da comida. Por isso prezamos por alimentos locais, agroecológicos, livres de veneno, transgênico e produzidos por famílias camponesas do Brasil.”
A chef Bel Coelho, do Cuia Café e Restaurante, também na capital paulista, é outra consumidora dos produtos do Armazém do Campo. Para ela, o manejo consciente da produção de alimentos é fundamental na garantia de um futuro sustentável para o Brasil e o mundo. “Eu acho que a agricultura familiar, agroflorestal e orgânica, ou seja, o manejo orgânico consciente, é o futuro pra gente conseguir manter as florestas em pé, pra gente conseguir alimentar o Brasil inteiro”, defende.
Prazer, honra e orgulho
Na Escola Sorvete, do chef Francisco Sant’Ana, as frutas orgânicas do MST entram na produção de uma linha diferenciada dos incríveis gelatos produzidos na zona oeste da cidade de São Paulo. “Gosto muito, tento comprar sempre que tem disponibilidade. É um grande prazer trabalhar nessa relação direta com o trabalhador do campo, direto com as famílias nos pequenos negócios e dentro do Movimento Sem Terra.”
Chef e pesquisadora dos ingredientes brasileiros e a influência da cozinha africana na Bahia da cozinha brasileira, Paula Bandeira lembra da “honra” de cozinhar em eventos do Armazém do Campo, onde compra seus produtos. “Falar do MST me emociona. Acredito que a reforma agrária é o que vai salvar nosso país”, conta a responsável pelo projeto Cozinha Afetiva, onde realiza trabalhos como personal chef, confeitaria e panificação.
Direto do Altar, Cozinha Ancestral, no Recife (PE), dona Carmem Virginia, lembra que aprendeu a entender a importância do MST desde pequena. “E hoje eles fazem o melhor arroz da América Latina. Eu tenho tanto orgulho disso”, diz a chef.
Bom para corpo e alma
À frente da Comedoria Gonzales e do Mescla Restaurante, ambos na capital paulista, o cozinheiro Checho Gonzales afirma. “Primo pela qualidade dos produtos que vou trabalhar para fazer bons pratos. Pensando nisso cheguei no MST”, diz, elencando o arroz, as castanhas, os hortifrútis orgânicos que entram nas suas cozinhas.
Cozinheira e pensadora indígena, ligada ao projeto Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá, em Belém do Pará, Tainá Marajoara conta se alimentar e trabalhar com os produtos do Armazém do Campo. “Eles trazem em si a luta pela terra, pela vida, pela dignidade. E repletos de nutrientes que fazem bem para nossa alma, nosso corpo e para garantia de direitos de toda população. Sem genocídio indígena, sem injustiça social”, ressalta a realizadora cultural.
Toda essa produção de tanta qualidade poderia ser muito mais se o modelo agrícola do Brasil não estivesse atrelado ao agronegócio. “Em termos de industrializados, nosso arroz orgânico do Rio Grande do Sul representa quase 1% da produção total de arroz do país. Ainda temos de batalhar muito. O problema nosso é o modelo agrícola adotado no país: grande propriedade, alta tecnologia, recurso 100% do governo federal”, critica o agricultor Ademar Ludwig, o Schusky, integrante do Grupo Gestor dos Armazéns do Campo do MST. “Hoje o agronegócio pega mais de R$ 300 bilhões, enquanto a agricultura familiar não consegue nem R$ 30 bilhões. A diferença está aí: quem produz comida não tem crédito, quem produz o agrobusiness, comodities de soja, boi, eucalipto, tem toda essa barganha pelo Estado burguês brasileiro.”
Armazéns remodelados
Os Armazéns do Campo foram criados pelo MST para evitar atravessadores e levar a produção direto do campo para as cidades. “As primeiras experiências datam de 2016. Hoje temos loja em Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife e São Luiz. Estamos num processo de constituição de mais 20 novas lojas para os próximos dois anos”, relata Schusky, que é graduado em História pela UFPB e pós-graduado em Agroecologia e Educação pela Escola Nacional Florestam Fernandes (ENFF) e pela USP. “A pandemia deu uma freada e a gente segue no planejamento, na capacitação das pessoas.”
Schusky conta com orgulho as adaptações feitas para sobreviver e vender boa comida durante a pandemia. “As lojas acabaram se reinventando. A gente tinha todo esse diálogo em torno das outras dimensões culturais, como a música, a literatura, junto dos almoços, do bar. Para suprir, logo de início a gente lançou as vendas online. E deu super certo. O público migrou para essa ferramenta de encomenda. E agora já temos também e-commerce. Nos próximos dias vamos lançar uma plataforma Armazém do Campo onde você vai digitar tua cidade e vai mostrar onde vai estar a loja mais próxima da sua casa, ou se vai ter loja no próximo período ou o telefone de algum assentamento que faz cestas agroecológicas. A ideia é lançar em maio.”
O dirigente do MST reconhece que a loja física é insubstituível. “Mesmo na pandemia ela corresponde a 70% da nossa comercialização e essas outras ferramentas vêm para somar e a gente conseguir se manter.”
Marca de solidariedade
Durante a pandemia, o MST reforçou sua marca. “A gente puxou muito a bandeira da solidariedade. Que a gente deveria fazer esse isolamento produtivo. Ou seja, me cuido dentro do assentamento, mas enquanto isso estou ali com a minha família produzindo e o que eu receber vou acabar doando”, lembra Schusky. “Alimentação aumenta imunidade e nossa humanidade. Foi um pouco isso nossa diretriz lá em março do ano passado. E fomos fazendo. Os Armazéns foram se envolvendo, inclusive na linha de frente.”
O agricultor destaca a tarefa assumida pelos integrantes do MST. “Cuidar da nossa vida e salvar o máximo de vida que a gente puder diante desse genocídio que o Brasil enfrenta hoje por conta da pandemia e desse governo que não está nem aí com salvar vidas, pelo contrário. Então a solidariedade está muito presente nos nossos espaços e os Armazéns são meio que a ponta de lança desse processo.”
RBA
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