O desembargador Ney Bello, o único magistrado que até agora teve a coragem de enfrentar o juiz de Curitiba, concluiu a sua nota dizendo que “a instigação ao descumprimento de ordem judicial emitida por um juiz autoriza toda a sociedade a descumprir ordens judiciais de quaisquer instâncias, substituindo a normalidade das decisões judiciais pelo equívoco das pretensões individuais”. Com efeito, a partir do comportamento do juiz Sergio Moro outros membros do Poder Judiciário se sentiram também no direito de afrontar as instâncias superiores, inclusive com insultos, como foi o caso do promotor Ricardo Montemos, que chamou os ministros do Supremo de “canalhas” e “fdp”. Esse promotor deve estar se sentindo encorajado pela impunidade de que desfruta o juiz de Curitiba, blindado pelas instâncias superiores, que negam todas as representações contra ele. E a julgar pelo silêncio da Corte Suprema sobre seus insultos, tudo leva a crer que Montemor também será beneficiado pela frouxura do STF.
Na verdade, a covardia parece geral, pois quase ninguém se manifestou sobre o atentado a tiros ao acampamento dos que defendem a liberdade de Lula em Curitiba, um ato terrorista que deixou dois feridos. A OAB, por exemplo, antes tão diligente quando atacava o governo Dilma, está em silêncio há bastante tempo, o que pode ser interpretado como aprovação ao atentado também à caravana de Lula. Ninguém acredita que alguém será punido por esses atentados, que parecem satisfazer o ódio dos adversários do PT. Por isso, se as autoridades não tomarem nenhuma providência para conter essa escalada da violência antes que se produza o segundo cadáver – o primeiro foi o reitor Cancellier, da Universidade de Santa Catarina – corre-se o risco de uma guerra civil, porque as vítimas dos atentados, sentindo-se indefesas pela ausência do poder público e cansadas de esperar, podem organizar a sua própria defesa. Afinal, paciência tem limites.
Tem muita gente achando que não haverá nenhum tipo de reação porque, ao contrário do esperado, não aconteceu a rebelião popular que seria provocada pela prisão de Lula. Afora o acampamento de Curitiba e manifestações isoladas, aparentemente está tudo muito quieto, como se todos estivessem conformados com o encarceramento do ex-presidente e temerosos de repressões. A sociedade organizada parece acuada. Ninguém, porém, deve se iludir com esse aparente marasmo. Se nada for feito, especialmente pelo Supremo Tribunal Federal, o clima de tensão crescente, alimentado pela intolerância e pelo ódio expelidos diariamente pela Globo e redes sociais, pode provocar, a qualquer momento, uma explosão de violência que exigirá a intervenção das Forças Armadas, cujo desfecho é imprevisível. E a democracia, sempre invocada inclusive por generais, pode sofrer um novo golpe.
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