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 A imagem  de Lijian Zhao e Li Yang em perfil no Twitter. Fotos: Reprodução

Por Conceição Lemes

Atente à fotomontagem acima.

Lijian Zhao é o da esquerda. Li Yang, o da direita.

Ambos são funcionários do governo chinês. 

Lijian Zhao é diplomata, porta-voz e vice-diretor do Departamento de Informações do Ministério das Relações Exteriores da República Popular da China.

Li Yang é conselheiro do mesmo departamento. De 2016 a 2021, foi cônsul-geral da China no Rio de Janeiro.

Em 3 de abril de 2020, divulgou uma carta aberta demolidora ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (na época, PSL-SP; atualmente, União Brasil).

Vermelho publicou:

“O tom chinês, usualmente moderado, vai, pouco a pouco, subindo a escala, mostrando que a China tem paciência, mas paciência tem limite. 

Eduardo Bolsonaro, em tuíte do dia 1° de abril, repetiu o que Trump fez algumas vezes, chamando o Covid-19 de “vírus chinês”.

Em determinado momento, Li Yang pergunta ao filho do presidente: “Você é realmente tão ingênuo e ignorante?”.

Educadamente, Li Yang prosseguiu, deixando no chinelo Eduardo Bolsonaro.

A íntegra da carta está ao final deste artigo. Vale a pena ser lida.

Pois Lijian Zhao e Li Yang têm publicados tuítes cortantes sobre os EUA e a guerra na Ucrânia.

Sinais de que a aliança “sem limites”, anunciada em 7 de fevereiro deste ano, pelos presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, é para valer. 

Seguem alguns postados ao longo dessa semana.

Terça-feira, 22/02: @Li Yang: “Liberdade irrestrita! Esta é uma das reais ameaças que os EUA enfrentam!”

Quarta-feira, 23/02: Lijian Zhao (@zlj517): “Nunca esqueça quem é a verdadeira ameaça do mundo”, diz ele.

Na ilustração, os bombardeios contra outros países perpetrados pelos EUA, desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Estão listados 34, que representam aproximadamente um terço da população da Terra.

Ainda na quarta, 23-02, Lijian Zhao (@zlj517): Os EUA deveriam se perguntar quem é que começou todas essas guerras”.

Na charge, Tio Sam usa gasolina na Ucrânia e, ainda, pergunta: Por que a China não pode fazer mais para ajudar a apagar o fogo

Sexta-feira, 25-02, a própria Embaixada Chinesa na Rússia (@ChineseEmbinRus) tuíta: “Entre os 248 conflitos armados que ocorreram em 153 regiões no mundo de 1945 a 2001, 201 foram iniciados pelos EUA.  Ou seja, 81% do total” 

Sábado, 26-02, @Li Yang retuíta a mensagem da Embaixada Chinesa na Rússia e detona: “É assim que os Estados Unidos respeitam a soberania e a integridade territorial de outros países!!!”

Ainda no sábado, 26-02, @Li Yang vai ao X da questão: “Por que os Estados Unidos não encorajaram a Ucrânia a avançar para o “status neutro” antes da guerra? A resposta é que os Estados Unidos precisam da guerra!”

Sábado, 26-02, Lijian Zhao (@zlj517) arremata: A história não esquece. Nunca esqueça”

E divulga uma lista de intervenções americanas em outros países, desde a Segunda Guerra Mundial. 

Entre bombardeios, sabotagens e atentados para derrubar governos, somam 64.

O Brasil aparece duas vezes nessa relação.

Em 1964, Washington atuou diretamente  no golpe que derrubou o presidente João Goulart e levou o Brasil a 21 anos de ditadura civil-militar

Foi a chamada Operação Brother Sam, da qual participou a CIA (Agência Americana de Inteligência). Teve até porta-aviões americano estacionado nas costas do Espírito Santo, pronto para intervir, se houvesse resistência.

Em 2016, no golpe midiático-parlamentar-jurídico, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.

Li Yang a Eduardo Bolsonaro: “A China nunca quis e nem quer criar inimizades com nenhum país. No entanto, se algum país insistir em ser inimigo da China, nós seremos o seu inimigo mais qualificado!”

CARTA ABERTA A EDUARDO BOLSONARO

Por Li Yang, cônsul-geral da República Popular da China no Rio de Janeiro

Deputado Eduardo, no tuíte que você postou no dia 1º de abril, chamou o Covid-19 de “vírus chinês”, o que se trata de mais um insulto à China que você fez depois de ter postado tuítes em 18 de março para atacar maliciosamente a China.

Você é realmente tão ingênuo e ignorante? Como deputado federal da República Federativa do Brasil que possui alguma experiência em tratar dos assuntos internacionais, você deveria saber que os vírus que causam pandemia são inimigos comuns do ser humano, e a comunidade internacional nunca chama os vírus pelo nome de um país ou região para evitar a estigmatização e a discriminação contra qualquer grupo étnico específico.

A Organização Mundial da Saúde seguiu esta regra do direito internacional para chamar o novo coronavírus de “Covid-19”. Além disso, ainda está por confirmar a origem deste vírus.

O surto de Covid-19 em Wuhan não significa necessariamente que Wuhan foi a fonte inquestionável do novo coronavírus.

O diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos já reconheceu que, durante a chamada “epidemia de gripe” nos Estados Unidos, no ano passado, algumas pessoas teriam morrido por Covid-19.

Isso justifica que, muito provavelmente, os Estados Unidos foram a fonte de Covid-19. Mas podemos batizar o Covid-19 como “vírus norte-americano”? Não!

Do mesmo modo, ninguém no mundo pode chamar o Zika como “vírus brasileiro”, apesar do fato da epidemia de Zika ter acontecido e ainda acontecer casos frequentemente no Brasil.

É por causa do seu ódio à China que ataca frequentemente a China? Mas de onde vem esse ódio?

A aproximação entre a China e o Brasil é resultado de um desenvolvimento histórico com alicerce natural.

Tanto a China como o Brasil são grandes países emergentes com território e população gigantes, com culturas ricas e coloridas e povos simpáticos e amigos.

Ambos os países possuem planos grandiosos para promover a prosperidade e riqueza nacionais, bem como ambição para salvaguardar a paz e justiça internacionais.

É ainda mais importante o fato de que não há divergências históricas, nem conflitos atuais entre os dois países que já se tornaram parceiros estratégicos globais.

O povo chinês sempre abraça o povo brasileiro com sincera amizade, tratando o Brasil como nosso país irmão e parceiro. O respeito recíproco e a cooperação de ganhos mútuos de longo prazo entre os dois países trazem benefícios pragmáticos para os dois povos.

Por dois anos consecutivos, dois terços do superávit do comércio exterior do Brasil vieram da China, o seu maior parceiro comercial!

É por isso que tanto a geração do seu pai como a da sua idade estão todos se dedicando a promover a cooperação amigável sino-brasileira.

Em resumo, os seus comportamentos remam contra a maré e não só colocam você no lugar adverso do povo chinês de 1,4 bilhão [habitantes], mas também deixam a maioria absoluta dos brasileiros com vergonha, bem como criam transtornos ao seu pai, que é o Presidente da República. É realmente uma prova de ignorância a respeito do tempo atual!

Será que você recebeu uma lavagem cerebral dos Estados Unidos e quer ir firmemente na esteira deles contra a China?

Os Estados Unidos eram realmente um país grande e glorioso. No entanto, neste ponto crítico do avanço da civilização humana, os EUA perderam sua posição histórica e o sentido de desenvolvimento, tornando-se quase totalmente causadores de problemas nos assuntos internacionais, e uma fonte de ameaça à paz e segurança mundiais. Os líderes atuais norte-americanos já se esqueceram dos ideais dos fundadores do país de assegurar a justiça

Ademais, tornaram-se monstros políticos cheios de preconceitos ideológicos contra os outros países e sem capacidade de governar, o que pode ser justificado pelo desempenho horrível no combate à pandemia de Covid-19 nos EUA.

Por outro lado, sendo uma potência cheia de vitalidade e em ascensão, o Brasil deve e é capaz de fazer contribuições importantes para o progresso da civilização humana, desde que tenha sua própria visão estratégica, possua sua perspectiva correta sobre os assuntos internacionais e desempenhe seu próprio papel construtivo.

O Brasil não deve tornar-se um vassalo ou uma peça de xadrez de um outro país, senão o resultado seria uma derrota total num jogo com boas cartas, como diz um provérbio chinês.

Deputado Eduardo, há pelo menos uma semelhança entre a cultura confucionista chinesa e a cultura cristã brasileira que é a crença em que sempre existe a causalidade em tudo, razão pela qual temos que pensar nas consequências antes de fazer qualquer coisa.

Como não é uma pessoa comum, você deveria entender melhor essa razão. O que é o mais importante para o Brasil agora?

Sem dúvida, é salvaguardar a vida e a saúde de centenas de milhões de pessoas, e reduzir ao mínimo o impacto da pandemia na economia do Brasil, da China e do mundo, através da cooperação China-Brasil no combate ao Covid-19.

A China nunca quis e nem quer criar inimizades com nenhum país. No entanto, se algum país insistir em ser inimigo da China, nós seremos o seu inimigo mais qualificado!

Felizmente, mesmo com todos os seus insultos à China, você não conseguirá tornar a China inimiga do Brasil, porque você realmente não pode representar o grande país que é o Brasil.

Porém, como é um deputado federal, as suas palavras inevitavelmente causarão impactos negativos nas relações bilaterais. Isso seria uma grande pena! Contaminaria e poluiria totalmente o ambiente saudável que China e Brasil conquistaram até aqui.

Portanto, é melhor ser mais sábio e racional. Você pode não pensar na China, mas não pode deixar de pensar no Brasil.

O demônio da Covid-19 chegou finalmente à maravilhosa terra brasileira. Neste momento crucial da cooperação bilateral no combate à pandemia de Covid-19, seria mais prudente não criar mais confusões.

Ainda mais importante, seja um verdadeiro brasileiro responsável, ao invés de ser usado como arma pelos outros!”

*A carta de Li Yang, então cônsul-geral da República Popular da China no Rio de Janeiro, foi divulgada em 3 de abril de 2020. Ele ocupou esse cargo de 2016 a 2021.

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