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O que seria de nós, jornalistas, sem o besteirol que Jair Bolsonaro despeja diariamente em entrevistas, tuítes e “lives” debaixo da mangueira do Alvorada, no Planalto e em outros lugares? Talvez, sem assunto, corrêssemos atrás de fatos concretos e de outras fontes – que certamente falariam mal dele. Então, não há como negar que há certo método na loucura presidencial.

Jair Bolsonaro calou os demais integrantes do núcleo palaciano. Alguns, como Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz, foram expurgados. Nem falavam tanto assim, mas diversificavam interlocutores e – mais perigoso ainda – tinham ideias e discordavam das de Bolsonaro.

Os novos palacianos e os velhos remanescentes parecem ter aprendido a lição e não abrem a boca para dizer nada diferente do chefe. O porta-voz, general Rego Barros, levou carona nas promoções do Exército, ficou confinado no Planalto e hoje praticamente não porta voz nenhuma. Mal fala, porque o chefe fala o tempo todo e, segundo se comenta, mandou-o calar a boca.

E como Bolsonaro fala. Ameaça demitir o diretor geral da PF e desautoriza Sergio Moro. Ou então diz que vai vetar diversos pontos da Lei do Abuso de Autoridade e agrada Sérgio Moro. Reclama porque seu retrato não está exposto nas embaixadas brasileiras no exterior, mas diz que não é narcisista. Leva jornais impressos para a porta do Alvorada e faz diariamente sua análise de mídia para os profissionais que ali estão, inclusive estabelecendo “punições” como a de não dar entrevista porque ninguém noticiara o que ele queria na véspera.

Bolsonaro fala, desfala, desmente, volta atrás, quase rompe com o G-7 por causa da Amazônia, ofende gente a torto e a direito, mas parece estar a cada dia mais à vontade, como aqueles disos que se acham napoleão e são tratados como tal. Em seu entorno, ninguém parece ousar censurá-lo. O que não quer dizer que auxiliares não achem que ele não está passando do ponto e temam consequências de imagem mais desastrosas

O presidente da República adotou a estratégia de falar o tempo todo quando seus índices de popularidade começaram a cair. De lá para cá, porém, esses números caíram ainda mais – já que o que ele diz nitidamente escandaliza a maioria, ainda que reforce o apoio de um núcleo mais radical. Mesmo esse, porém, vem se reduzindo. E ainda restam mais três anos e quatro meses de besteirol.

Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia –