Veja explicação para a explosão dos casos de dengue em Brasília
O Distrito Federal tem o maior número proporcional de casos prováveis de dengue do país. Isso significa que são 551 registros da doença a cada 100 mil habitantes, superior ao dobro do Acre, que tem a segunda maior incidência da doença, com 212 casos a cada 100 mil habitantes. Em mais de uma situação, o Governo do Distrito Federal declarou que é uma situação de epidemia. Com os números, surge uma dúvida: por que os casos de dengue estão tão altos no DF em 2024?
De acordo com o professor Bergmann Morais Ribeiro, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), as chuvas influenciam o surgimento de mosquito. “Tem muito vetor e quando tem chuva, como aconteceu agora, aumenta o número do vetor”. Em janeiro de 2024, choveu muito acima da média esperada para o mês. Somente nos dois primeiros dias do ano, já havia chovido mais de 80% do total esperado para janeiro.
“Os casos de dengue aumentam no início do ano quando as chuvas aumentam e tem mais vetor”, comentou. O biólogo destacou que o vírus consegue ser transmitido do mosquito para o ovo. “Então ele vai estar presente quando o mosquito nasce, não precisa chupar o sangue de uma pessoa para pegar o vírus, tem muitos mosquitos que já, quando ele adquiriu o vírus na primeira alimentação, quando ele tiver novos mosquitos, ele transmite esse vírus para eles.”
População de mosquitos cresce no Lago Norte e casos de dengue explodem em Brazlândia Vinicius Schmidt/Metrópoles
Para o vice-presidente da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas, Sérgio dos Santos Bocalini, houve eventos climáticos fora do padrão no início de 2024, como aumento da temperatura e os grandes volumes de chuva.
Ainda assim, o especialista acredita que é possível responsabilizar a falta de ações específicas por parte do poder público e da população para o aumento da doença.Play Video
“Ações efetivas de educação ambiental junto a população para diminuir a presença de criadouros, combate efetivo do mosquito adulto através do poder público ou da contratação de empresas especializadas no controle e monitoramento efetivo dos locais com a presença da doença tendem a contribuir para diminuir o número de casos de dengue”, exemplificou Bocalini.
Queda de investimento
As chuvas são ações incontroláveis por um governo, mas há ações que podem orientar a cobertura. Nos últimos 10 anos, o Distrito Federal deixou de investir R$ 241 milhões na prevenção de arboviroses.
De 2022 para 2023, houve uma queda de aproximadamente R$ 10 milhões de investimento, saindo de R$ 38,1 milhões para R$ 29,5 milhões. Até segunda-feira (29/1), o DF registrou quase 30 mil casos prováveis e seis mortes provocadas pela dengue, entre 1º de janeiro e o último fim de semana. São exatamente 29.492 casos prováveis da doença. A Secretaria de Saúde investiga se outras 24 mortes foram causadas pela doença.
Conforme o Metrópoles noticiou, o DF não nomeava agentes de saúde e vigilância há 11 anos. Para estancar o déficit de profissionais na linha de frente para conter a dengue e outras doenças, a Secretaria de Saúde nomeou profissionais temporários. Mas os contratos acabaram no segundo semestre de 2023 e não foram renovados.
Segundo pesquisa no Portal da Transparência do DF, em setembro de 2023, a rede pública tinham 3.434 agentes Comunitários de Saúde (ACSs) e agentes de Vigilância Ambiental (AVAs). Deste total, 776 servidores eram temporários. Todos foram dispensados com o fim dos contratos.
Segundo o Sistema de Integrado de Gestão Governamental (Siggo), entre 2013 a 2023, o DF teve um orçamento total R$ 492,46 milhões para a prevenção de arboviroses. No entanto, apenas R$ 251,40 milhões foram liquidados. Ou seja, ao longo dos últimos 10 anos, a rede público deixou de injetar R$ 241,46 milhões na batalha contra a dengue.
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre a questão apresentando os estudos sobre o quadro e pessoal e a queda dos investimentos em prevenção. A pasta não contestou os dados apresentados. Contudo relembrou o concurso vigente, destacando que estuda chamar mais 75 agentes e que o governo abriu crédito suplementar de R$ 20,5 milhões.
A pasta informa que a nomeação dos agentes foi antecipada, em decorrência da alta nos casos de dengue no Distrito Federal, e que há disponibilidade orçamentária suficiente para a nomeação dos agentes. No dia 16/1, combate à dengue ganhou, o reforço de 75 agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (Avas). A nomeação dos profissionais está publicada no Diário Oficial do DF (DODF) e é considerada um grande reforço no enfrentamento à doença.
Dentro de casa
Tanto o professor da UnB quanto a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, destacaram a importância da população para conter possíveis ambientes de proliferação do Aedes aegypti – mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus.
“O mais importante é olhar para sua residência, porque, muitas vezes, tem um criadouro. Cerca de 75% dos criadouros estão dentro ou em volta do domicílio”, disse a secretária.
Para o especialista Bergmann Morais Ribeiro, esse número é também um alerta para que os governos invistam em agentes de saúde para entrar em casas e verificar a presença de larvas de mosquito.
“Dependendo da quantidade de larvas encontradas, você pode extrapolar a probabilidade de espalhamento da infecção em uma determinada região. Por que tem mais infecção em regiões com menos infraestrutura de saneamento básico em comparação com regiões com mais infraestrutura?”, questionou o professor.
“Menos possibilidade de proliferação dos vetores. Logo para diminuir o número de mosquitos, precisamos melhorar o saneamento público das cidades”, declarou.
Acesso às casas
Na última sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) autorizou que agentes de saúde entrem em imóveis abandonados, fechados ou com acesso recusado pelo respectivo dono, a fim de atuar no combate ao mosquito Aedes aegypti.
Os agentes, no entanto, deverão estar com identificação, como crachá e roupas adequadas ao trabalho. O alvará terá validade de um ano, segundo a decisão do juiz Gustavo Fernandes Sales.
Dengue: juiz autoriza entrada de agentes em casas, mesmo sem permissão
O Distrito Federal registrou quase 30 mil casos prováveis e seis mortes provocadas pela dengue, entre 1º de janeiro e o último fim de semana. São exatamente 29.492 casos prováveis da doença. A Secretaria da Saúde do DF investiga outras 24 mortes.
Os dados constam no boletim epidemiológico mais recente que está em elaboração pela Secretaria de Saúde do DF.
Com informações do Metrópoles
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