Num país devastado por um golpe, onde imperam várias práticas de um típico estado de exceção, já há consenso de que as eleições deste ano serão atípicas. A tendência é que a disputa seja a mais agressiva e violenta dos últimos tempos. A mídia monopolista, por motivações políticas e também de sobrevivência econômica – já que seu modelo de negócios está falido –, tentará ocupar um espaço ainda mais saliente nesse embate. Ela usará sua artilharia pesada para interferir nos destinos da nação.
Já há vários sinais dessa orientação editorial. No último sábado (11), o Jornal Nacional deu intermináveis cinco minutos para tratar dos sempre blindados esquemas de propina de Aécio Neves. A denúncia até respingou no candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia. A longa reportagem causou estranheza e desconfiança. Afinal, a TV Globo sempre foi tão tolerante com o tucanato. Ela encobriu – e apoiou – o cambaleante tucano mineiro nas eleições de 2014. Por que decidiu bater agora em Aécio Neves, que já virou pó na política e não aspira mais nada – até desistiu da sua candidatura ao Senado?
O temor é que essa iniciativa seja apenas mais uma cortina de fumaça para enganar os ingênuos. Desgastada na sua imagem, a TV Globo tenta aparentar neutralidade e imparcialidade. Até as pedras sabem que o principal alvo da famiglia Marinho sempre foi a esquerda – seja no golpe militar de 64 ou no golpe parlamentar-judicial-midiático de 2016. Sua obsessão contra Lula é quase doentia. A TV Globo, com apoio dos midiáticos jagunços da Lava-Jato, já dá como certo que o ex-presidente não disputará o pleito e seguirá preso em um cárcere gelado de Curitiba. Para evitar o retorno das forças progressistas ao governo, a mídia deverá concentrar agora sua artilharia contra Fernando Haddad, o escolhido para substituir Lula na sucessão.
Nos últimos dias, a mídia golpista já começou a requentar várias denúncias vazias contra o ex-prefeito paulistano. Monica Moura, esposa do ex-marqueteiro do PT João Santana, ressurgiu das trevas para atacar Haddad. Não apresentou qualquer prova concreta, apenas conversas não gravadas, para afirmar que o petista recebeu grana da Odebrecht. A moça que masca chicletes diante das câmeras ainda acusou Dilma Rousseff – que botou Aécio Neves para correr novamente e pode ser eleita senadora em Minas Gerais – de ter participado de caixa dois. A única prova é a palavra dela, que se jacta de ter conversado diretamente com a ex-presidenta.
É bom ficar esperto. Confirmada a candidatura, a pancadaria sobre Haddad será cruel, sangrenta. É bom preparar uma boa equipe de advogados para abrir processos e exigir direito de resposta. Fundamental politizar a militância para enfrentar a carnificina da mídia. Qualquer ingenuidade nesse campo pode ser fatal.
Quando foi eleito prefeito de São Paulo, em 2012, Fernando Haddad pareceu menosprezar o papel destrutivo da mídia. Bastaram apenas sete meses para demolir suas ilusões. A partir das chamadas jornadas de julho de 2013, a mídia não deu tréguas ao novo prefeito. Ela pegou carona no protesto para estimular a desestabilização da sua gestão. Plantonistas foram acionados para fustigar todas as suas iniciativas. Pareciam jagunços e não jornalistas. Nada foi feito pela prefeitura para incentivar a pluralidade nos meios de comunicação.
Que a dura experiência tenha servido de lição. Não dá para ter ilusões sobre a pretensa neutralidade e imparcialidade da mídia monopolista. O jogo será dos mais sujos. A mídia não foi a protagonista do golpe para deixar a esquerda retornar ao governo.